Coisas de ontem... e de hoje CXXVIII

27 de Novembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Tatão continua no comando do bate-papo:

– Vejam que fatos e personagens convergem para configurar a fábrica de alumínio, em Saramenha, a primeira do Brasil, como a grande alavanca necessária à consolidação da Cemig. Sem a citada fábrica, sua consolidação demandaria mais tempo. Agora vejam também a cruel ironia: um dos fortes argumentos apontados para o fechamento da indústria é o alto preço da energia elétrica. A fábrica deu alento à Cemig e esta, agora, a sufoca!

– Como diria meu avô – atravessa Manelão – Criou cobra para picá-la!

– Não sejamos tão mordazes – replica Tatão – Não há nenhuma maldade no fato. O que acontece é resultante da sucessão de fatos econômicos, ao longo do tempo, nada mais. A fábrica, em Saramenha, foi afetada por circunstâncias desfavoráveis sobre as quais não tem controle. A Cemig não é responsável pelo fechamento da fábrica, mas, ironicamente, o preço de sua energia está entre os fatores negativos, que são vários, incluindo-se a exaustão das jazidas de bauxita na região. A empresa passou a extraí-la, em jazidas mais distantes, cujos custos são onerados pelo transporte rodoviário, à falta da via férrea.

– O abandono da ferrovia é consequência da visão distorcida dos agentes políticos – ataca Quinzão. O frete rodoviário exerce peso considerável sobre o preço final das mercadorias.

– Quanto ao custo da energia, já ouvi que a indústria do alumínio primário é contemplada com preço especial, reduzido, por força da alta demanda de energia elétrica – é Mário que intervém, provocando esclarecimento imediato do Tatão:

– Era contemplada; não é mais! As empresas do setor elétrico já não a veem com a mesma simpatia de antes. Isso começou a mudar, ainda nos anos setenta, por ocasião da crise do petróleo, causada pela OPEP.

– Mas, isso mudou mesmo? – indaga o Mário.

– Mudou completamente. E vejam isto – retorna Tatão, pondo a circular um texto, que ele diz ter extraído de livro. O texto diz:

*“A indústria do alumínio mereceu, até pouco tempo, tratamento especial pelas empresas supridoras de energia elétrica na maioria dos países industrializados pelo fato de ser consumidora importante, pois seus projetos têm permitido viabilizar a construção de inúmeras usinas de geração de energia, ou contribuído, fortemente para isso pelo fato de poder garantir faturamentos de vulto em contratos de longo prazo, que facilitam os financiamentos. Entretanto, ultimamente, depois da crise da OPEP, começou a haver, em áreas já industrializadas, uma reação contrária ao tratamento especial com tarifas reduzidas para os consumidores intensivos de energia. O encarecimento generalizado dos combustíveis tornou a energia elétrica escassa e a expansão de sua geração ficou mais onerosa e difícil de ser financiada e, por isso, os seus usos que garantem mais empregos ou os dos serviços às comunidades passaram a ter preferência. A indústria de alumínio passou a ser indesejada devido aos grandes consumos de KWh, que é sua característica.”

Lido o texto, quem primeiro se manifesta é a Dorinha:

– Diz observação, ao fim da página, que foi escrito em 1985, há quase trinta anos. Isso significa que, desde então ou pouco antes, a produção de alumínio estava agravada com energia mais cara.

– Isso mesmo – confirma Tatão – o tratamento especial foi até o fechamento da torneira do petróleo, no início dos anos setenta. Contudo, assim como o Mário, muita gente ainda cria que energia elétrica era mais barata para a produção do alumínio primário. Mas, isso se deve a falha de comunicação da própria empresa, no momento oportuno, ou feita por meio não acessível ao grande público. O que era verdade deixou de ser, mas o mito ficou.

*Trecho extraído do livro “Apontamentos da História do Alumínio Primário no Brasil”, de Raymundo de Campos Machado – edição da Fundação Gorceix/1985. O autor foi diretor da Eletro Química Brasileira S/A (1937 / 1950); diretor Industrial e vice-presidente da empresa Alumínio Minas Gerais S/A (1950/1972); presidente da Mineração Rio do Norte (1970/1972); diretor das empresas do Grupo Alcan no Brasil (1972/1973); diretor vice-presidente da Alcan Empreendimentos S/A e da Alcan Aluminium (América Latina) Ltda. ( 1972/1973

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