Coisas de ontem... e de hoje LXIII

14 de Julho de 2013
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

As últimas palavras do Tatão, no bate-papo, dão uma sacudida nos brios do grupo, que se configura em pequena amostra da opinião pública quanto ao sistema político-partidário vigente. Em sua grande maioria, os cidadãos o repelem, só não figurando nesse grande grupo os que, direta ou indiretamente, participam do sistema ou auferem vantagens. E não é só no Brasil, porém em qualquer parte do mundo, cidadãos conscientes percebem que partidos políticos fracionam, dividem a sociedade, em nome de ideologias, nem sempre bem assimiladas pelo povo, mas que servem às cúpulas partidárias na perseguição de objetivos, muitas vezes, inconfessáveis. Dolores, a quem alusão à democracia direta teria suscitado dúvidas, volta a perguntar:

– Se não mais haveria partido político, o país correria o risco de cair nas mãos de grupos, que poderiam ser econômicos, religiosos e de qualquer outra natureza, assim como as bancadas setoriais nos dias atuais.

– Você tem razão – esclarece Tatão – mas haveria a Lei Eleitoral que, mediante dispositivos restritivos, impediria a formação de grupos dominantes dentro dos parlamentos. Mal Tatão responde e Quinzão já entra com outra questão:

– Eu já ouvi alguém discorrer sobre essa ideia, que me pareceu boa, em princípio, pois partido político, qualquer que seja sua linha, já não tem credibilidade junto ao povo. Entretanto, uma dúvida me assalta: como o executivo faria a maioria dentro do respectivo parlamento para aprovação de projetos de seu interesse?

– Aí residiria um dos pontos mais positivos do sistema: o executivo não, necessariamente, teria maioria pró ou contra no parlamento; isso se formaria, naturalmente, em torno de ideias e projetos, que poderiam ter origem no executivo, no próprio parlamento e dentro da sociedade. O executivo, nos três níveis, estaria livre para governar, não refém de correntes dentro do parlamento. Ministérios e secretarias seriam formados por técnicos, cujas nomeações passariam pelo crivo dos parlamentos e também dos eleitores. Ao eleitorado não caberia apenas a eleição dos governantes e de seus representantes, nos parlamentos, pois lhe caberia também o direito de cassar qualquer ocupante de cargo eletivo, que não correspondesse às expectativas. Tatão faz uma pausa e, lá vem mais questionamento, desta vez por parte, justamente, do Mário, que quase não fala:

– Parece-me muito complexo um governo dessa forma!

– Mais complexo é o sistema atual, dependente de uma série de fatores, desde interesses pessoais dos políticos aliados do executivo, passando por oposição sistemática com base em picuinhas, chegando até os grandes interesses econômicos. Sistema que comporta conchavos de grupos, a peso de ouro, deixando sem atendimento carga infindável de necessidades da população, é muito mais complexo e caro porque precisa manter isso em segredo contínuo. Lembre-se do episódio conhecido como “mensalão”. A sujeira só veio a lume, porque alguém arriscou o próprio pescoço!

– E quem me diz que a corrupção não continuaria, no sistema sem partido político? – indaga Dorinha em tom de desafio.

– Ninguém diz que a corrupção, algum dia, será extinta; entretanto, se há meios de reduzir suas possibilidades de ocorrência, eles podem e devem ser empregados, não descartando punição severa aos descobertos pela lei. Garanto-lhe que sem garantias dos partidos, oportunidades seriam reduzidíssimas. E não se esqueçam de que políticos, movidos pelo dinheiro e pelo poder, tenderiam ao desaparecimento, deixando lugar a altruístas, idealistas comprometidos com a causa comum.

– Você fala em participação do povo com apresentação de projetos, cassação de mandatos, nomeação de ocupantes do primeiro escalão – desta vez é a Dorinha, a levantar dúvidas, arrematando com as perguntas – Seriam feitos plebiscitos, referendos e eleições a cada momento desses? Não seria complicado e muito caro?

Tatão, primeiro, se vira para o Manelão, sorri e diz – peço-lhe licença para usar suas palavras – e, depois, para a Dorinha:

– Você se esquece da internet, menina!

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