Coisas de ontem... e de hoje LXIX

26 de Agosto de 2013
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Troca de impressões sobre a pendenga entre diretorias das duas bandas continua dentro do grupo de aposentados.

– Não podia ser outra a reação do diretor afrontado, pois, se capitulasse, implantar-se-ia clima de desconfiança e insegurança dentro da instituição, além do desequilíbrio técnico-musical, que isso acarretaria para a banda – comenta Quinzão – quem está na direção de qualquer entidade tem que ser firme em suas decisões, sempre em sua defesa, de acordo com o estatuto, normas internas e leis vigentes.

Ao que Tatão contrapõe:

– Mas, depois de ouvir a negativa o outro diretor ainda tentou, conforme suas ameaças, proibir os de lá da participação na banda de cá, bem como afastar desta última os que participavam daquela de lá. Só que ele deu c’os burros n’água! O intercâmbio informal, a funcionar desde os anos cinquenta do século passado, continuou do mesmo jeito.

E Dolores dá ao grupo informações, só conhecidas entre os que têm relações mais estreitas com as bandas de música:

– Esse intercâmbio não escrito, gente, é coisa natural entre os músicos de banda. Sei disso porque, como disse, minha família é do meio. Quando não ocupados em sua banda de origem, muitos músicos se dedicam a colaborar com outras. Parece-me que assim funciona também em Portugal. Graças a isso, muitas sobreviveram à “tormenta” que, na área da cultura, fez desaparecer tantas bandas de música. Uma espécie de pacto oculto, existente entre os músicos de banda, os faz solidários e partícipes dos destinos de outras corporações. E outra curiosidade interessante: banda de música é a instituição civil que, por mais tempo, tem o indivíduo em seus quadros. Costuma-se ingressar ainda aos dez anos de idade e nela permanecer até a morte, além dos oitenta anos.

O grupo escuta, atento, as explicações da Dolores e é o Quinzão quem primeiro se manifesta:

– Estava para perguntar, por que não proibir os jovens de participar da outra banda. Depois de ouvi-la, Dolores, percebo que isso não deve ser feito. Tentar quebrar esse vínculo tão forte entre músicos de banda seria uma violência sem par, uma agressão ao melhor exemplo a ser seguido, de acordo com os princípios do voluntariado.

Tatão reforça a conclusão à qual chegou Quinzão:

– De jeito nenhum essa proibição deve ser levada a efeito, de forma generalizada; apenas em casos de a banda de origem estar em atividade no mesmo momento.

– Nem no caso específico dessa, cuja diretoria interfere, segundo o que você disse, Tatão? – quer saber a Dorinha. Mas, quem responde é a Dolores, depois de pedir licença ao Tatão:

– Eu entendo que, nem nesse caso, a direção da banda de cá deve apelar à proibição pura e simples. Os músicos de cá devem continuar com a liberdade de ir participar da outra, quando aqui não houver compromisso. O que faz a banda são os músicos e não a diretoria; se ela age distorcidamente, a corporação não deve pagar por isso. A diretoria é que tem de se corrigir.

– Para arrematar seu pensamento digo apenas que a diretoria passa e a banda continua! – exclama Tatão.

– Pelo que percebo – intervém Chiquinha – a situação se deve ao deslumbramento do grupo de jovens músicos de um lado e o oportunismo do outro. Tudo deve voltar ao normal no momento em que ficha cair para um dos lados.

Manelão olha para a esposa e desafia:

– Adivinhe para que lado ela cairá!

– Tanto pode cair para o grupo de músicos quanto pode cair para a diretoria da outra banda.

– Creio que cairá para os músicos que se deslocam de cá para lá. Há mais possibilidades de que os jovens – ainda verdes na avaliação do que querem – revejam sua posição, do que entre diretores da outra banda, reincidentes e não depurados de erros passados.

– Nooossa!!! Até parece o Tatão a falar! Assim penso também. Os jovens chegarão à conclusão que têm mais a ganhar, participando da outra banda, porém respeitando a prioridade que deve ser dada à banda de origem – manifesta-se a Dorinha, que ainda pergunta ao Tatão – e você sabe qual é verdadeira posição do atual diretor da banda de cá?

– Diz que dentro da legalidade e da ética, ele faz o possível e o impossível em defesa da banda, sem perda de qualquer natureza.

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