Coisas de ontem... e de hoje LXV

04 de Agosto de 2013
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A reforma política, abordada no bate-papo do grupo de aposentados por força das recentes manifestações nas ruas, faz aflorar a indignação alimentada pela má gestão dos negócios públicos e tantos casos de corrupção. Nenhum deles se mostra satisfeito com a situação e todos pensam que mudanças devem ser feitas. Por isso, cada palavra do Tatão é absorvida com interesse. Dolores emite sua opinião:

– Na verdade, isto que aí está não chega a ser democracia. Começa pela obrigatoriedade de votar e, como você diz, Tatão, o povo vota em candidatos escolhidos, sem qualquer critério, por terceiros, que são os partidos.

– Na verdade, nem são os partidos, mas suas cúpulas que manipulam as convenções, ao sabor de interesses, que não incluem o bem estar coletivo – corrige Tatão, seguido pela Chiquinha:

– Vocês se esquecem do direito de ser votado, vinculado à filiação partidária. Ninguém pode se candidatar, se não é filiado a um dos partidos existentes. Isso obriga o cidadão a se filiar, ainda que seu pensamento não se afine com a filosofia de nenhum dos partidos, se quiser candidatar-se a qualquer cargo eletivo.

– Mas, vejam a incoerência do sistema – aponta Dorinha – Para se candidatar, a lei exige sua vinculação a uma agremiação política. Empossado no cargo, ele pode mandar o partido às favas e cumprir seu mandato desvinculado, seja no legislativo ou no executivo.

– E o povo ainda acredita nessa bandalheira, que eles intitulam “democracia”! – protesta o Manelão – Democracia só para eles, que pintam e bordam com os impostos arrecadados, fazem o povo de peteca, passam por cima da ética, cospem sobre a lei e riem da sociedade. E eu pergunto: que raio de cidadãos são os não filiados a partidos, não atrelados à vontade de meia dúzia de safardanas? São cidadãos pela metade? Cidadãos de segunda, terceira, quiçá, de quinta categoria? Digo que são meros alimentadores dos cofres públicos, onde parasitas da nação se locupletam!

– Mesmo com o embargo da lei da “Ficha limpa”, candidaturas maculadas pela corrupção ainda se registram, muitos se elegem e tomam posse – observa Dolores – agora, tente o suspeito de furto, roubo ou desvio de dinheiro alheio, candidatar-se a emprego, no setor privado!

– Outra coisa que considero o fim da picada – intervém a Narita – é o parlamentar legislar sobre o próprio salário. Reparem que, além de ser atribuição fora de propósito, eles a cumprem de forma rápida e rasteira, sem que a sociedade sequer perceba.

Tatão intervém:

– O erro já começa ao se denominar “salário” à remuneração dos parlamentares.

– Uai! E não é salário? – pergunta Dorinha, surpresa.

– Não, Dorinha; salário é a remuneração devida ao trabalhador, de qualquer categoria, com vínculo empregatício, regido pela CLT.

– À remuneração do parlamentar dá-se o nome subsídio. Até nisso, foi mudado o conceito de representante do povo no parlamento, nas três esferas. O que seria cargo honroso, a serviço da sociedade como um todo, cada qual em sua esfera, foi transformado em emprego; emprego, cuja remuneração, por si só bastante para humilhar a maioria dos assalariados, é acrescida de privilégios pecuniários, por eles próprios criados.

– E quem deveria fixar a remuneração dos parlamentares? – perguntam Lazinha e Mário a um só tempo.

– Não só dos parlamentares, porém de todos os cargos eletivos, a respectiva remuneração deveria ser vinculada a um índice econômico, estabelecido por especialistas da área, de forma que não ficasse muito acima da remuneração média paga em todo o país. A possibilidade de auferir cada vez mais, graças ao poder de o próprio parlamentar votar o que vai ganhar, atrai aventureiros de todos os matizes e, por isso mesmo, os menos qualificados. Daí para a prática da corrupção a distância é curtíssima!

– Quando será que mudanças, próximas disso que você preconiza, se realizarão, Tatão?

– Não se sabe; porém, políticos profissionais estão sob a mira do povo em todo o mundo. Eles estão de pé sobre tamborete e têm a corda atada ao pescoço. Só falta quem chute o tamborete. E, no Brasil, não vai ser diferente!

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