Coisas de ontem... e de hoje LXV

30 de Julho de 2013
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Ao ouvir de Tatão que partidos políticos já fizeram mal demais à humanidade, Dolores intervém:

– Nunca cheguei a pensar dessa forma, mas confesso que nunca acreditei muito em partidos políticos, pois eles cumprem o papel de dividir a sociedade em blocos, de acordo com o pensamento, ideologia, etc. Sempre entendi que, por estarmos todos no mesmo barco, o ideal seria a soma de forças na direção apontada pela maioria e não a divisão de forças, cada grupo a puxar para determinado lado. A grande verdade em sua afirmação é corroborada pelas inúmeras guerras e revoluções sangrentas nos últimos cem anos. Quantas vidas perdidas e quanto atraso na evolução da humanidade em decorrência da busca da supremacia de uns sobre outros, em nome de ideias e projetos que se querem implantados a ferro e fogo!

– O mal não está só nas guerras, exemplos mais gritantes do pior que pode fazer um partido político – volta Tatão – pois o estrago provocado por eles se revela a cada vez que projetos de interesse da sociedade são engavetados, em razão de acordos feitos entre os mesmos partidos que, diante do povo e das urnas, se dizem antagônicos; a cada projeto escamoteado das discussões, porque determinados grupos exercem influência dentro de partidos dos quais depende a aprovação de projetos não interessantes àqueles; a cada vez que políticos aprovam vantagens exclusivistas para si próprios; a cada escândalo eclodido, mas não apurado e não punidos seus protagonistas; a cada caso de corrupção, a cada obra superfaturada. Em sistema democrático destituído de partido político, as possibilidades de tudo isso acontecer seriam reduzidas.

Dorinha, muita atenta, ouve a explanação do Tatão e pergunta:

– Sem partidos políticos, como se processaria a escolha de candidatos?

– Todos sabem que, no atual sistema, a escolha se processa dentro de cada partido ou da malandragem chamada coligação de partidos. Nele não há nenhum critério que priorize preparo, capacidade e probidade. O que conta é a visibilidade popular do cidadão e sua capacidade de “puxar” votos, aliadas a possível subserviência nata, rédea pela qual será conduzido pela cúpula ou “donos” do partido.

– Por isso é que a qualidade dos políticos desce cada vez mais – atravessa Manelão, continuando – A enxurrada de “zé-manés” desprovidos do verniz, exigível para o desempenho de cargo eletivo, tem levado, especialmente, aos parlamentos, aventureiros como aqueles que vão à busca do ouro onde este é descoberto. Especialistas e a mídia culpam o eleitor por votar mal. Entretanto, este se vê “no mato sem cachorro”: o “prato feito” apresentado só tem iguarias que não lhe saem bem. Se rejeita todo o prato (anulação do voto) entra no rol dos mal vistos pelo sistema. É preciso denunciar, aos quatro ventos, esta falácia de que o eleitor é que não sabe votar. É verdade que há os desligados, que votam porque são obrigados (outro erro do sistema) os que votam em troco de algo, ou por exterioridades do candidato. Mas, generalizar é injusto! – Aqui o Manelão se vira para o Tatão – Eu cortei seu discurso, mas também eu estou curioso para saber como se processaria a escolha dos candidatos, em sistema sem partidos políticos.

– Vamos começar pelo vereador. Em cada município, eleitores apontariam, espontaneamente, sem prévia apresentação, pessoas consideradas idôneas e capazes para o desempenho de cargo público. A partir de determinado número de votos obtidos na primeira etapa, esses pré-candidatos, desde que aceitassem concorrer, passariam por segunda votação, quando se escolheriam os candidatos necessários. Para deputado estadual, o eleitorado escolheria pré-candidatos entre os vereadores, em final de mandato, de municípios de sua região. Para isso cada estado seria dividido em regiões eleitorais, de forma que cada uma delas tivesse, mais ou menos, o mesmo número de eleitores. Em segunda etapa seriam, então, escolhidos os candidatos a deputado estadual. Para o Congresso Nacional, o processo se repetiria entre deputados estaduais. Dentro dos parlamentos, o mesmo cidadão não poderia ser reeleito mais que uma ou duas vezes para o mesmo cargo. Para os cargos executivos, escolha de candidatos e eleição se procederiam, mais ou menos, da mesma forma, eliminando-se a reeleição.

– A escola do político seria então a câmara de vereadores – observa Quinzão.

– Oficialmente, sim, mas seu aprendizado teria início, antes, em sua interação com a comunidade, dela participando e se destacando como líder, nos momento mais significativos. Aí, sim, teríamos políticos idealistas, merecedores da espontaneidade do eleitorado para indicá-los e fazê-los dar o primeiro passo na Política.

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