Coisas de ontem... e de hoje LXVII

12 de Agosto de 2013
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Depois de empolgada discussão em torno do momento político, atiçado pelas recentes manifestações populares, o grupo de aposentados prefere voltar às boas lembranças do passado. E o Quinzão já propunha voltar às festas juninas, quando Dolores se manifesta:

– Gente! Estou sabendo de uma rusga surgida entre duas bandas de música. O assunto foi abordado até em jornal e isso me deixa aborrecida. Desde seu surgimento, fomos sempre ligados a elas por intermédio de muitos parentes músicos.

– Guerra entre as bandas locais? – indaga Manelão – pensei que isso fosse coisa superada.

– Bem, não é guerra e não é entre as locais, mesmo porque isso nunca houve, a não ser na imaginação de uns poucos que gostam de briga. O que sempre houve foi concorrência, às vezes, um tanto acirrada. A contenda a que me refiro é intermunicipal; é com banda da vizinhança.

– Intermunicipal? – Quinzão quer confirmação – a vizinhança é grande.

– Deixem-me ver se adivinho – atravessa Manelão com ar zombeteiro – será de cidade que tem estação rodoviária e não tem passageiros?

Tatão ri ante a observação do amigo, comentando:

– Você é mesmo “um tranqueira”! Tinha mesmo de lembrar essa característica!

– Mas, se o assunto está no jornal, não havia como alguém desconhecer o fato – observa Quinzão.

– Sei do que se trata, mas não vi em jornal; amigo meu é que me informou – declara Tatão, que continua – o fato é que grupo de jovens músicos daqui toca também na banda de lá.

– Mas, e daí? – fustiga Dorinha – Sei de muitos músicos de banda que tocam em mais de uma.

Dolores, que pôs o assunto em pauta, volta a falar:

– E isso mesmo, Dorinha; só que, neste caso, tais jovens abandonam sua banda de origem, em momentos de atividade, e vão participar da outra.

– Mas, isso é molecagem – protesta Manelão.

– Concordo com você, em parte – ameniza Tatão – pois temos que ver o outro lado da história. Se a esperteza tupiniquim não atuasse, de alguma forma, talvez isso não estivesse a acontecer.

– Como assim? – indagam vários do grupo a Tatão – eles são induzidos à deslealdade?

– Bandas de música, assim como tudo neste mundo, passam por períodos de dificuldades. A banda em questão passa por uma dessas fases e necessita da colaboração de músicos de outras corporações, assim como a daqui também já recorreu e ainda pode recorrer a músicos de outras bandas. Quando isso acontece, cabe aos diretores programar suas atividades de acordo com os recursos humanos disponíveis, incluindo-se participantes “importados”. Se estes últimos são imprescindíveis, a direção deve ter o cuidado de não programar atividades quando eles estão ocupados em sua banda de origem. E isso não tem sido feito. Contratam serviços e passam a contar com o grupo de fora. Na empolgação, açulado pela bajulação, o grupo jovem bandeia-se da primeira, que o formou, para a segunda que, eventualmente, o adota. A banda que investiu em sua formação fica a ver navios! Dirigente de banda, nessa situação, tem que primeiro se informar se a outra, de onde provém o reforço necessário, está livre no dia e hora, para quando são solicitados seus serviços. Se a outra estiver ocupada, só deve contratar o serviço, se o reforço não for necessário. Aliás, há três anos, foi proposto acordo nesse sentido, mas o dirigente daquela banda recusou; o que é lamentável, pois quem precisa tem que estar aberto a negociações.

– Mas, e se eles comparecem espontaneamente? – é a dúvida manifestada pelo Quinzão.

– Se assim fosse, o erro seria unilateral, ou seja, exclusivamente dos jovens músicos, mas a diretoria da outra banda fornece o transporte, tanto para os ensaios quanto para as apresentações públicas. E mesmo assim, a direção daquela banda diz que os jovens só compareceram a dois eventos, neste ano: “empossamento” do prefeito e carnaval.

– Você quis dizer posse do prefeito, não é Tatão?

– Não, Chiquinha; repeti o que escreveram. E não foi erro do jornal.

– Se os jovens participam daquela banda, embora a diretoria o negue, essa garotada é melhor do que se imagina: além de bons músicos conseguem ficar invisíveis! Eles são mesmo artistas! Os dirigentes da outra banda precisam abaixar o topete! – é o Manelão a pilheriar, enquanto Chiquinha aproveita a intervenção do marido para manifestar sua opinião:

– Vejo que, para restabelecer a harmonia, também no social, faltam apenas duas coisas: humildade na direção da banda de lá e lealdade à banda de origem por parte do grupo de cá.

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