Coisas de ontem... e de hoje LXXIX

03 de Novembro de 2013
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

As observações feitas por Narita e Quinzão reforçam a crítica formulada por Tatão e aquecem a discussão:

– Muito bem lembrado o que se aprendia na escola – diz Tatão – era isso mesmo, acrescentando-se “Brasil”, quando a correspondência vinha do exterior. O endereço primário (rua e casa) está localizado no “distrito A”, por sua vez, localizado no “município B”, que está dentro do “estado C”.

– Tenho visto muito endereçamento feito assim: Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto; Amarantina, distrito de Ouro Preto. Na imprensa também ocorre o mesmo erro – observa Lazinha.

– Distrito de Ouro Preto, uma ova! – protesta Tatão – se dissessem distrito do município de Ouro Preto, sim, aí estaria mais correto. Cidade não tem distrito! Município é que tem. A cidade é formada por ruas, praças, avenidas, casas, monumentos, podendo todo o conjunto ser subdividido em bairros, valendo essa descrição para as vilas, nos demais distritos. O fato de o município ter o mesmo nome do distrito-sede não significa que toda a extensão territorial do município pertença à cidade. A cidade ou distrito-sede municipal é uma coisa e cada vila (sede distrital) é outra coisa.

– Você já viu esses marcos do Instituto Estrada Real, fincados em pontos estratégicos em toda a região? – pergunta Dorinha ao Tatão – não sei o que contêm os colocados em outros pontos, mas os daqui têm gravado: Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto.

– Sim. A ignorância oficializou-se! Ela se consolida do zé mané ao figurão, passando pela imprensa, atingindo até instituições de bom pedigree. Que Deus nos acuda! Focaliza-se o caso de Ouro Preto, mas o erro é generalizado, é nacional. Reparem que, em muitos formulários de cadastro, seja de origem oficial, ou privada, há espaço para bairro, omitindo-se distrito; quando mencionado é como alternativa: bairro/distrito. Para os criadores desses documentos, bairro e distrito estão no mesmo nível, ignorando que a própria cidade é distrito ou parte de um.

– Tatão, isso me faz lembrar situação incontornável, quando tentei efetuar compra pela internet. Na parte de endereço, o site apresentava aquela janelinha com lista de todas as cidades do estado, na qual se escolhe a que interessa; depois vem espaço, onde digitar o nome da rua, avenida, praça, etc. e bairro. Poderia ter colocado o distrito em lugar do bairro, mas o CEP já era preenchido, automaticamente, ao se escolher a cidade. Tive de procurar outra loja virtual, onde o endereçamento fosse mais claro.

– Dorinha, isso acontece a todo o momento. Sei de casos em que a entrega da mercadoria se desviou para Ouro Preto. O consumidor havia informado o nome do distrito em lugar de bairro. Como o CEP era o da cidade e lá existe rua denominada Cachoeira do Campo, o entregador foi parar na tal rua. Enquanto isso, o consumidor reclamava da loja pelo atraso na entrega. Formulários impressos, em lugar de cidade deveriam dizer “localidade” (correspondente a distrito sede ou distritos secundários) e depois de logradouro, número e complementos viria o município, além do CEP que pode ser da localidade, ou do logradouro, no caso de cidades maiores. E veja bem: o CEP individualiza a localidade dentro de cada unidade federativa. Não há como se desviar de localidade, se o CEP está correto.

– E por que há tanta confusão? – indaga o Mário, respondendo ele próprio – Porque, como diz o Tatão, não se vê o distrito secundário como unidade à parte do distrito sede; confundem-no com bairro. E o engraçado é que, no passado, as coisas funcionavam melhor, mesmo não sendo numeradas as casas e inexistindo o CEP, posteriormente, adotado pelos Correios. No caso das lojas virtuais, bastaria que se incluíssem todas as localidades com CEP próprio, ou seja, distritos sede e distritos secundários.

– Com relação às casas não numeradas, nas pequenas localidades, registra-se curiosidade interessante – aponta Tatão – as novidades no mercado eram levadas ao interior por mascates, entre eles, sírios e libaneses, introdutores da venda e compra a prestação. Nas pequenas cidades, esses ambulantes se valiam de características da casa visitada, ou da casa vizinha, anotando-as como referência para retorno no futuro. Acontecia de a casa sofrer alterações e o comerciante ficava em dificuldade para localizar o endereço. Mas, o mais engraçado mesmo é com relação a um mascate local. Em suas viagens pela Zona da Mata mineira, levava consigo um auxiliar de confiança, que sabia ler e escrever, para fazer essas anotações em caderneta própria. Conta-se que ao voltar da primeira viagem feita com tal auxiliar, o comerciante viu quão perigoso é presumir inteligência em alguém com base no fato de o mesmo saber ler e escrever. Entre as muitas anotações estavam estas: “casa da mulher gorda com vestido vermelho”, “papagaio falando palavrão na janela”, “casa com tina d’água na porta”, “cachorro Pery da orelha torta”.

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