Coisas de ontem... e de hoje LXXX

18 de Novembro de 2013
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A explanação feita por Tatão desperta, no grupo, sentimento de perda, espécie de frustração diante de algo julgado correto, em razão da prática continuada, agora revelado como falácia. Quem primeiro revela esse sentimento é o Mário:

– Embora, como vocês, tenha nascido antes que a mediocridade tomasse conta de tudo, confesso ter pensado, até agora, que distrito seria mesmo espécie de bairro afastado da cidade. Basta a ausência da autoridade distrital, lembrada pelo IBGE, para demonstrar o descaso da administração com relação à vida no distrito.

– E é bom não se esquecer – atravessa Dolores – de que isso não acontece somente aqui; é prática padrão em todo o país, desde sua origem. No princípio, pelo menos em teoria, a freguesia era considerada unidade à parte, ou semiautônoma. Sob a ótica atual, distrito não passa de extensão da sede municipal, na teoria e na prática, quando se diz que “A” ou “B” é distrito da cidade.

Quinzão acrescenta:

– Até entidades sediadas em distrito secundário têm peso menor que suas congêneres da sede; estas últimas podem valer até seis vezes mais que aquelas, na pontuação determinante de até pseudobenefícios.

– É tudo uma questão de cultura arraigada, amparada em educação mais conveniente aos que detêm o poder – fala Tatão, continuando – a educação deficiente é como a seca do nordeste que, uma vez solucionada, poderá tirar votos de políticos tão “crônicos” como o fenômeno da estiagem naquelas paragens. O brasileiro não foi acostumado a pensar. Prefere seguir belo discurso, ainda que lhe custe, mais tarde, frustrações, desilusões, mesmo perdas em dinheiro, a ter que pensar e decidir em torno do direito e do bem estar coletivo. Entende que isso compete aos das altas esferas e, por isso, é enganado pelos que percebem sua apatia.

– Quero relatar o que me aconteceu, recentemente – adianta-se Narita – desloquei-me até a sede municipal em busca de solução de problema junto a um órgão competente. Perdi tempo e dinheiro, pois encontrei todas as repartições fechadas; espécie de feriado administrativo. Fechou-se tudo e pronto. Somente os ali residentes foram informados, ficando os demais munícipes ao sabor das ondas da “rádio peão”.

– É onde entraria a autoridade distrital, pois lhe caberia a administração local, atendimento ao público e encaminhamento de soluções, reduzindo-se deslocamento desnecessário de pessoas até a sede, otimizando-se o atendimento com interligação distrito/sede municipal via internet. Ganharia a administração municipal, fiscalizando de perto, conhecendo as reais necessidades coletivas e ganharia a população com mais qualidade de vida, incluindo-se aí a autoestima do munícipe, atendido em nível de igualdade.

Tatão fala, mas o Manelão, impaciente, não se aguenta:

– Tudo muito bonito como você diz, mas essa autoridade seria eleita?

– Não, nada de cargo político; deveria ser técnico, admitido mediante concurso que provasse sua aptidão em administração. Mas, qual é sua preocupação?

– Porque cargo político seria mais queijo na mesa para o banquete dos ratos! – gargalhada geral e a ponderação do Tatão:

– Funcionário de carreira não significa corrupção zero.

– Mas é mais fácil de ser apanhado. Político escorrega como quiabo! – rebate Manelão.

– Mediante administração puramente técnica, competente, o distrito recuperaria sua individualidade e a comunidade urbano/rural mais assistência em suas necessidades, propiciando ainda o desenvolvimento no interior do município, fator de fixação das populações no sentido inverso da concentração na sede municipal. Até aqui, o que se vê é tão somente a valorização da sede municipal, em toda a comunidade nacional, em detrimento do distrito, causa maior do inchaço de muitas cidades com destaque para as capitais. São Paulo está aí com todos seus problemas “megalopolitanos” a gritar contra a megalomania do passado, que dizia “São Paulo não pode parar” ou ainda, referindo-se ao estado, “São Paulo é locomotiva a puxar vagões (demais unidades federativas) vazios”. Todo o país se atrasou para que São Paulo, estado e capital, se projetasse. Em escala menor, isso se dá em cada município brasileiro, onde e quando se criam oportunidades de desenvolvimento.

– Até nas campanhas de estímulo à arrecadação de impostos, a discriminação contra distritos secundários está presente – assevera Dolores – Recentemente, carnês do IPTU traziam grafada a seguinte inscrição: “o IPTU que você paga constrói uma Ouro Preto melhor”. Vejam que “uma” se refere à cidade. Se a referência fosse ao município (politicamente correto) seria “um”.

– Se analisarem melhor, verão que isso é patente em tudo – conclui Tatão.

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