Coisas de ontem... e de hoje XCIII

17 de Março de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Algo parece incomodar à Dorinha, que se mostra desassossegada e ansiosa por se manifestar, enquanto os outros falam, até que Narita se adianta à sua inquietude:

– Desembucha, sô; você já não se aguenta a tão somente ouvir.

Dorinha, então, solta seu questionamento:

– Você, Tatão, falou algo que me deixou com um grilinho. Disse que a educação deveria ser da melhor qualidade, respeitando-se a capacidade de aprendizado de cada um. Não entendi bem o que seria isso.

– O assunto é um tanto polêmico porque propõe algo diferente do que aí está e exigiria investimentos altíssimos, quando se sabe da má vontade governamental em relação a tais, embora muito se desperdice nos meios. Vejam que estão a estender a obrigatoriedade do ensino entre quatro e dezessete anos. Ora, que deveria haver, sim, é garantia da educação a todos, independente das condições socioeconômicas, mas não obrigatoriedade. E não tem sentido tão longo período para o ensino básico, se a qualidade não melhora na mesma proporção.

– Quanto a tanto tempo na escola, recebendo tão pouco em qualidade, concordo, mas a pessoa estudaria se quisesse? Poderia deixar de ir à escola? Acho isso temerário – diz Chiquinha.

– Chiii! Se a malandragem já anda à solta, imaginem o que seria no regime de escola opcional – emenda Manelão, provocando reação imediata do Tatão:

– Não se trata disso. É preciso entender tudo primeiro, mas o que eu disse, até agora, não dá para vislumbrar o sentido da proposta, que está longe do usual. Creio até que a ociosidade maléfica poderia ser, drasticamente, reduzida entre jovens.

– Mais outra do Tatão – interfere a Dorinha – existe ociosidade benéfica?

– Ora, Dorinha! – reage Dolores, continuando – e o que é o período de descanso? Não falo das horas de sono, mas daquela pausa necessária entre atividades laborais. Mas, não vamos nos desviar do foco central, conduzido pelo Tatão.

Tatão continua:

– Na escola atual, o aluno é obrigado a perfazer todo o caminho, que engloba o ensino fundamental e o médio, independente de sua capacidade de aprender. Na nova escola, a obrigatoriedade estaria no ingresso, podendo o aluno ir até o final, ou sair no meio do caminho. No atual padrão, pressupõe-se que a capacidade de aprendizado seja igual em todos os indivíduos, o que não corresponde à realidade. Cada indivíduo tem um limite em sua capacidade de aprender. E cada qual tem tendências próprias no que se refere ao talento profissional. Há indivíduos que percorrem o caminho, sem quaisquer percalços, ingressam na universidade e se tornam profissionais de destaque. Há outros, entretanto que, ingressos na escola, muito mal vão além do garatujar palavras e soletrar outro tanto. Obrigar a todos, indistintamente, a cumprir todo o tempo estabelecido para o preparo do aluno, até a antessala da universidade, chega a ser cruel. O ideal seria ir até onde pode e se desligar da escola, merecendo, assim, a certificação correspondente ao período frequentado.

– Ah! evasão sempre aconteceu; nem todos vão até o fim – argumenta o Mário.

– Sim, mas no novo padrão, ele não abandonaria a escola, simplesmente, tornando-se um excluído da sociedade. Além da certificação correspondente à etapa frequentada, sairia da escola com orientação para o trabalho, de acordo com seu talento.

– Você, então sugere que, no novo padrão, a escola exclua o aluno, em seu pressuposto limite? – quer saber a Lazinha, seguida pela Dorinha:

– Lazinha adiantou-se a mim, na mesma pergunta.

– Não seria bem assim. Em comparação com o modelo atual, a escola teria superestrutura funcional a englobar profissionais diversos, além de professores e educadores. Médicos e psicólogos seriam imprescindíveis, acrescentando-se a estes outros profissionais que se fizessem necessários. Sabe-se que muitas crianças podem ter baixo rendimento escolar em decorrência de problemas de saúde. O acompanhamento médico e psicológico preveniria e proveria tratamento, evitando mais perdas no aprendizado. Ao mesmo tempo, o rendimento do aluno seria acompanhado, passo a passo, e avaliado quanto às suas tendências para, em momento certo, ser submetido a teste de orientação profissional.

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