Coisas de ontem... e de hoje XCVII

15 de Abril de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

E Tatão continua na mesma linha de raciocínio:

– Há casos em que filho(a) segue a mesma carreira do pai ou mãe e o/a supera, mas não se pode esperar isso de grande parte dos jovens, conflitante consigo própria, porque não consegue decidir o que fazer ou, se consegue, sofre pressão para fazer diferente. Hoje, há métodos bastante eficazes de detectar e fazer aflorar, da personalidade de cada um, o que ela quer e precisa seguir para que o indivíduo se realize como ser consciente. Na escola, com estrutura mais adequada e participação de outros profissionais, além do professor e educador, todos os alunos teriam acesso a orientação pessoal e profissional. Por meio de testes específicos teriam detectados seus talentos e profissão mais coerente. No mundo, há espaço, tempo e oportunidades para todos, desde que o indivíduo tenha liberdade de escolha e abertas as portas para a realização. Se tem talento para o mundo da ciência, que lhe sejam amplos os campos de estudos até o limite de sua capacidade. Se seu talento se situa em ponto mais baixo da escala intelectual, que tenha também a liberdade de deixar a escola ao atingir seu próprio limite, merecendo o certificado relativo ao período cursado. O que deve contar no sistema educacional é a qualidade do ensino e sua acessibilidade garantida a todos. Obrigatoriedade no cumprimento de toda a jornada escolar como se a todos fosse também obrigatório o curso superior conflita com a capacidade de aprender, variável de indivíduo para indivíduo, e viola o direito de cada um parar no seu limite.

– Entende-se perfeitamente – observa Dolores – que a qualidade deva ser o mais importante no ensino oferecido. Mas os governantes insistem no tempo de frequência obrigatória, dos quatro aos dezessete anos, na presunção de que todos aprendam; e, na realidade, não é bem assim. Deveriam, sim, cuidar de estabelecer escolas de ofícios, destinadas aos que se revelam propensos a abraçar profissão intermediária, não requerente de conhecimentos aprofundados.

Quinzão intervém:

– Mas é que, neste país, preocupa-se mais com as aparências. Vejam bem: mais tempo na escola dá a ilusão de que se ensina e se aprende mais, quando, na verdade, a qualidade do ensino está a cair ao longo do tempo.

É aí que entra Manelão, desviando-se um pouco do tema corrente:

– A observação do Quinzão vem a calhar com o que ouvi de amigo meu, nesta semana. A coisa se deu fora da área da educação, mas a questão das aparências é bem verdade. No caso da educação o principal é a qualidade do ensino. E na área da Previdência Social? Digo que deveria ser justiça na concessão e manutenção do chamado “benefício”. O INSS tem site, onde se encontram informações diversas e se pode agendar comparecimento a agências. As agências estão bem organizadas e atendem com hora marcada; tudo muito bonitinho! Mas, e os direitos do aposentado? Comeram com angu!

– Mas, e o que aconteceu com seu amigo? – impacienta-se Tatão.

– Por meio da internet, ele agendou comparecimento à agência. Sob dependência de transporte coletivo, pois reside a mais de vinte quilômetros daquela, acabou vítima de atraso do ônibus e chegou doze minutos além da hora agendada. Ele simplesmente não foi atendido, tendo que marcar outra data para o comparecimento.

– E ele não argumentou sobre o motivo do atraso?

– Tentou argumentar, mas cartaz com advertência sobre eventual desacato a funcionário público inibe qualquer um. Se o funcionário interpreta como desacato qualquer coisa que o contrarie, o “segurado” sai dali seguro pela polícia. Também há cartazes sobre a preferência a ser dada aos idosos. O meu amigo está a meio caminho entre os setenta e oitenta anos, mas isso não impediu que fosse mandado de volta para casa sem o atendimento agendado. E duvido que não tivesse que esperar, durante bom tempo, se chegasse na hora aprazada! Essa rigidez cobrada do “segurado” do INSS dá a falsa aparência de que aquele instituto funciona às mil maravilhas, mas não é verdade no tocante à sua atividade fim.

– Você tem razão – afirma Tatão – ao negar atendimento ao aposentado, cometeu-se mais uma injustiça, pois é notória a deficiência no transporte coletivo, especialmente, na ligação entre distritos secundários e a sede municipal. Essa rigidez poderia ser aplicada aos residentes mais próximos, até dez quilômetros de distância. Para residentes além dos dez quilômetros, deveria haver critério diferente, admitindo-se tolerância no tempo, por exemplo. Para completar, confirma-se a prevalência das aparências a camuflar a realidade inglória.

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