Coisas de ontem... e de hoje XVI

25 de Junho de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Tatão ouve com atenção os comentários das mulheres e, na primeira oportunidade, intervém:

– Vivemos todos, uma época na qual, de fato, as dificuldades eram enormes para todos, mas temos de admitir que as mulheres eram contempladas com maior quinhão.
– Já vem o Tatão a paparicar as mulheres! Ora, todo trabalho era duro mesmo e não sei por que tanta comiseração com elas. – Manelão falava e olhava, zombeteiramente, de soslaio para sua mulher, como se pronto para reagir a algum gesto.
– Se lhes cabia lavar as roupas, azar o delas! O que ele esperava, enquanto olhava para Chiquinha, não tardou; concretizou-se por meio de formidável tapa na orelha, seguido de:
– Cachorro! da próxima vez que sua roupa estiver tão suja como estava na semana passada, quem vai lavar é você! – dito isso, Chiquinha o puxa, afetuosamente, pelo ombro.
– Na mão – observou Narita.
– Claro! Não vou lhe dar mordomia do uso da máquina e do sabão em pó cheiroso. Vai ter que usar sabão em pedaço e, para facilitar, posso conceder o uso da palha de milho para esfregar. Pena é que não mais existe sabão em barra; daquelas cobertas de algo branco parecido com farinha, a soda cáustica.
– Muitas donas de casa desenvolviam espécie de alergia, nas mãos, em decorrência do excesso de soda naqueles sabões.
– É o que digo: não havia a lavadora ou tanquinho, assim como sabão menos agressivo – É Tatão novamente.
– O que você devia dizer é que não havia nem água, isso sim! – protesta Dolores – Você se esquece de que, pela manhã e à tarde, a “diversão” da mulher era lata d’água na cabeça!
– E quando não água, era lenha! – emenda Larita – mulheres, além de prover o combustível do fogão doméstico, ajudavam no orçamento com a venda de lenha. Algumas saiam pela madrugada, traziam o primeiro feixe a tempo de preparar o almoço e, logo em seguida, voltavam para buscar o segundo.
– A lenha era outra necessidade, não muito fácil de suprir – diz Chiquinha, que prossegue: – Quem não a provia por si mesmo ou a adquiria das lenheiras, comprava dos proprietários rurais, que a entregavam em carro de bois. Havia também a opção oferecida por pequenos tropeiros, que a vendia pré-cortada em lombo de burro.

Mário, saindo um pouco de sua condição de observador, mais ouvinte que falante, também faz sua intervenção:

– Lá, em nossa casa, quem cuidava de prover a lenha era o papai. Por isso, só adquiríamos lenha em carro de bois ou em lombo de burro. A que vinha em carros de bois era mais problemáticas. Produto de queimada, era a lenha enegrecida como carvão e fornecida em peças inteiriças, ou seja, do jeito que era colhida no mato queimado; só lhe aparavam os galhos.
– Naquele tempo, não havia IBAMA, IEF e, muito menos, a ainda incipiente consciência ambiental. Por isso, os proprietários queimavam o mato, para atender suas conveniências, sem qualquer preocupação com os danos causados – critica Quinzão. E Tatão o rebate, em seguida:
– Não se pode jogar pedras por comportamento econômico-social, universalmente aceito, em qualquer época anterior. A humanidade vive e evolui de acordo com as circunstâncias do momento e, por isso, não se pode condenar práticas do passado, mesmo porque o modo como se vive, no momento, poderá ser ultrapassado no futuro. No tempo do fogão a lenha, não havia opção: ou se queimava lenha ou não tinha comida cozida. No momento queima-se o GLP na cozinha, mas no futuro, toda a economia baseada no petróleo poderá ser questionada. Além da poluição atmosférica e alterações climáticas, supostamente causadas pela queima de combustíveis fósseis, será que o vazio no interior da Terra, provocado pela exploração petrolífera, não causará danos irreparáveis ao planeta e à humanidade? Fala-se muito na degradação de superfície provocada pelas minerações dos sólidos, especialmente o ferro. E a exploração petrolífera não provoca degradação? Deve provocar, mas ninguém vê...!
– Diante desta oportuna observação, retiro minha crítica – diz Quinzão – De fato, não havia como escapar. E lanço meu protesto antecipado contra os que, no futuro, me criticarem por usar combustíveis fósseis.

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