Coisas de ontem... e de hoje XVII

27 de Junho de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Diante da manifestação do Quinzão, retirando crítica feita ao consumo de lenha no passado, o bate-papo teria prosseguido na mesma linha, se não fosse o toque de um dos celulares. Era o da Larita. Por sua expressão facial, ao atender, percebe-se que o assunto é grave. O silêncio acolhe a preocupação estampada em seu rosto, aguardando o momento das clássicas perguntas: “o que houve?”, “o que aconteceu?” Denotando assombro, ela reage com monossílabos apenas. Ao fim de alguns minutos, que parecem intermináveis, ela desliga o aparelho e nem espera que lhe perguntem:

– Minha vizinha acaba de ser assaltada. Quem me ligou foi outra vizinha, que ajudou a socorrer a pobre coitada que chegou a ter arma encostada em sua cabeça enquanto dois outros bandidos “limpavam” a casa, levando computador, televisor, aparelho blue ray e outras coisas.
– Gente, mais um assalto?!!! – é a reação de surpresa da Dolores, que teria passado pelo mesmo drama, se não fosse a intervenção do cão. O ladrão se assustou e não consumou suas intenções.
– Pois é, em nossa juventude – diz Mário – o sujeito que furtasse um tostão ficava marcado como ladrão e, muitas vezes, tinha que se mudar para cidade maior, pois nem trabalho conseguia onde nascera. Hoje, assaltos à mão armada são fatos corriqueiros e nada acontece com os criminosos. Nossas casas permaneciam abertas da manhã à noite e, ainda que estivessem vazias, nada acontecia.
– Como pode isso acontecer em lugar tão pequeno e pacato? – manifesta-se Larita, novamente, em direção à Dolores, que ainda mantém o celular na mão, como se à espera de mais informações – há cerca de quinze dias que vivemos onda de assaltos, quase que um a cada dia.
– Considero dois fatores como causas dos assaltos, não somente locais, mas, em todo o país – esclarece Dolores que continua: - é a decadência moral da sociedade e a falta de segurança aliada à impunidade. E ao falar de segurança vêm-me à mente promessa de certo comandante do batalhão regional de se dotar a localidade de estrutura policial mais condizente, algo em torno de quinze policiais militares, aos quais caberia o policiamento de toda a região de abrangência de Cachoeira do Campo.
– Certo quanto ao dito, mas promessa feita em janeiro não tem validade em junho! – ironiza Manelão, ao som de risadas por seu trocadilho, antes de acrescentar: – Depois da promessa e do que agora acontece, sou forçado a concordar com amigo que diz: A polícia finge que faz policiamento e o sistema político vigente quer que acreditemos que há segurança. Vejam a situação local: imóvel alugado, destacado mediante placas luminosas com indicativo de destacamento local da Polícia Militar, não passa de ornamento à rua, ou propaganda da instituição, pois nele o cidadão não encontra atendimento quando necessita. Nem telefone tem. O cidadão honesto cumpridor de suas obrigações cidadãs é enganado de um lado e, furtado, roubado, estuprado, violentado e execrado do outro. Há três forças policiais (Polícia Civil, Polícia Militar e Guarda Municipal) só na teoria, pois, na prática, o cidadão só sente seu peso quando comete pequeno deslize; quando vítima de malfeitores, fica ao Deus dará...
– Gente, eu soube que ontem houve reunião para debater a questão.
– Reunião? Que reunião? Perguntam em coro ao Mário, o que dera a informação.
– Sabe- se – volta o Mário – que foram convidadas algumas pessoas, por telefone; mais ninguém foi convidado ou informado sobre ela. Parece brincadeira, mas, é a realidade. Eu e outras pessoas, até diretamente atingidas pelo crime, consideramos essa reunião fechada um absurdo. O que você acha disso, Tatão? Tatão que, até aquele momento, se mantivera à escuta, expõe sua opinião:
– Essa reunião deveria ser aberta ao maior número de pessoas possível, mas penso que o caso é bem mais grave do que se imagina. O problema não está na polícia como instituição que, de alguma forma, também é vítima de conspiração camuflada, não declarada, porém bem urdida. Está no sistema político vigente que se compraz na inversão de valores, abrindo espaço com o argumento estúpido de que a criminalidade é fruto da desigualdade social. Marginais são coitadinhos. Segundo filosofia do sistema, os que têm posses, ainda que adquiridas com o trabalho e muito sacrifício, são açambarcadores; os que não têm, ainda que pela preguiça e propensão ao parasitismo social, são frutos da exclusão fomentada por aqueles. Por isso, o criminoso italiano, processado e condenado por quatro assassinatos em seu país, teve abrigo no Brasil; por isso, invasores de propriedade, destruidores do patrimônio alheio, não respondem à Justiça por seus crimes; por isso, ladrões, assassinos, traficantes se mantêm organizados dentro dos presídios, mantendo o controle sobre o crime cá fora, enquanto o cidadão se tranca atrás de muros, grades e não sei mais o quê; por isso, chora-se morte de bandido em confronto com a polícia e se faz silêncio quando morre policial sob a mira de bandidos; ainda dentro dessa filosofia, empresas brasileiras são expropriadas lá fora com base em argumentações falsas, e o governo brasileiro abaixa a cabeça. Por tudo isso, a polícia berra, mas não age! – Conclui Tatão. E Manelão exclama:
– Tamo na mão de calango!

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