Coisas de ontem... e de hoje XXXVI

01 de Dezembro de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

O grupo de aposentados, reunido em lazer à mesa de petiscos e bebidas leves, fala e discute, sem papas na língua, tudo que vem à tona, realçando-se, porém, críticas e gozações a cada palavra ou comentário controverso. Mais jovem do grupo e afinada com as novas tendências, opiniões, posições políticas e conceitos, no relacionamento humano, Dorinha patrulha toda a discussão e tem como prato feito, para suas investidas, as últimas palavras do Manelão e do Tatão:

– É muita presunção, em torno de suposta superioridade masculina, para não dizer machismo ultrapassado, pensar e agir, confiando, única e preconceituosamente, à mulher, a responsabilidade por tarefas domésticas. As mulheres, na execução de tarefas ditas de homens, não são consideradas masculinizadas!

– Ora, Dorinha, sua crítica está fora do tempo – rebate Tatão – você teria razão para isso, se o que dissemos expressasse posição atual. O Manelão, tanto quanto eu, expôs sua posição, em relação ao assunto, ainda na adolescência; não prevalecendo o mesmo pensamento, na atualidade, pois as próprias circunstâncias vividas na época, por um e outro, nos fizeram corrigir os rumos.

Dolores endossa as palavras do Tatão:

– Dorinha, você podia ter evitado o eloquente discurso do Tatão, pois sua crítica é, realmente, fora do tempo e de propósito.

– Mas, a polêmica é válida; serve para mais animação no nosso bate-papo. Já imaginaram conversa dentro de grupo como este em que só há concordâncias? Não tem graça nenhuma. Estamos em botequim, mas não precisa o papo ser, necessariamente, “de botequim” – emenda Quinzão.

– Botequim? Que pobreza, meu Deus! – rebate Dorinha – Isso aqui é um bar!

Agora quem contesta a crítica é a Chiquinha:

– Não deixo esta para o Tatão que, tenho certeza, já estava com bala na agulha para disparar! Por que pobreza? Por que não se chamar “botequim”? No Brasil, cujo idioma oficial ainda é o Português, “botequim” é a denominação correta para “estabelecimento comercial onde se servem bebidas em geral (bebidas alcoólicas, refrigerantes, café, etc.) e pequenos lanches” Assim ensina o nosso consagrado “Aurélio”; mais ou menos, assim também ensina o “Priberam”, dicionário online da Língua Portuguesa. “Bar” é vocábulo oriundo da língua inglesa, introduzido por norte-americanos, a partir dos anos cinquenta do século vinte. Pergunte a qualquer outro, aqui, como eram conhecidos tais estabelecimentos em sua juventude. Infelizmente estão a substituir, pouco a pouco, a língua que herdamos dos antepassados. E quando alguém usa o vocábulo correto, ao invés do intruso, é criticado!

Manelão dá um beijo no rosto da mulher e grita:

– Dois a zero para nós! Vê se chuta menos, Dorinha, porque você pode se complicar.

Dorinha acata com risos as chacotas decorrentes de suas intervenções. E a Dolores usa o caso “botequim” como gancho:

– Isso me faz recordar episódio vivido há pouco tempo. Ao me referir a pequeno estabelecimento hortifrutigranjeiro, usando a palavra “bitaca”, quase fui agredida pelo proprietário que, furioso, disse que eu estava a denegrir seu estabelecimento. Fiquei surpresa porque, desde menina, uso essa expressão, aprendida com meus pais e com meus avós.

– Na verdade – esclarece Tatão – “bitaca” é regionalismo mineiro, significa pequena venda, pequena mercearia, e, em Ouro Preto, designava as casas que vendiam frutas, verduras, legumes, etc. Pode estar um tanto em desuso, mas é parte do vocabulário em Minas. Se o vendeiro assim reagiu foi por ignorância.

– É curioso como palavras acabam em desuso e, por fim, desaparecem do linguajar popular – lembra Narita – Jardineira era como se chamava o veículo de transporte coletivo. O que hoje são ônibus, eram jardineiras até meados dos anos quarenta, século vinte; veículos mais curtos, capacidade para poucos passageiros e bem mais lentos.

– E por que a troca do nome para ônibus? – pergunta Dorinha à qual Dolores esclarece:

– Neste caso justifica-se a troca, porque o vocábulo vem de “omnibus”, que significa “para todos”, em latim. O termo é bem mais apropriado que jardineira.

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