Coisas de ontem... e de hoje XXXVIII

16 de Dezembro de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A revelação feita por Tatão, relativa ao prometido ramal ferroviário, colhe o grupo de surpresa. Ninguém sabia que, um dia, ligação ferroviária da localidade com antiga estação Dom Bosco chegara a ser objeto de lei por parte do governo mineiro. A turma se agita com perguntas e mais perguntas.

– É estranho que nunca tenha ouvido falar nesse projeto, lei, ou seja lá o que tenha sido! – comenta Quinzão, ao que Mário emenda:

– Se esse ramal tivesse se concretizado, a história local poderia ter sido outra, com desenvolvimento em mais curto prazo, concorda comigo Tatão?

– Não resta dúvida de que o ramal teria contribuído para melhores condições de vida.

– Não houve cobranças? A comunidade não se mobilizou? Como deixaram a oportunidade passar?

– Antes de cobrar da comunidade àquela época, ou criticá-la – replica Tatão – reflitam sobre a atualidade. Bons exemplos temos de ações e omissões de governo e a correspondente reação do povo. Para não sair dos meios viários, vejam o trecho urbano da Rodovia dos Inconfidentes que, há muito tempo, necessita de solução para os problemas gerados em sua interação com a malha urbana. Pedestres e motorizados continuam à mercê do brutal volume de tráfego com intersecções perigosas, embora a comunidade tenha muito pedido e protestado contra a inoperância governamental. Reuniões, muitas promessas, blábláblá de cá e de lá; e o que fizeram? Nada, respondo eu, para poupar-lhes saliva.

– Até vice-presidente da República, em discurso na Praça Tiradentes, chegou a anunciar duplicação da rodovia, em seu trecho urbano – ataca Lazinha, ao que explica Manelão:

– Aquilo foi tremenda safadeza, perpetrada às custas da ingenuidade política e do estado de saúde do vice-presidente. O povão, que parece não aprender a lição, acredita em tudo que político diz em praça púbica, não importando, aí, se se trata de promessa insensata.

– Concordo com você, Manelão – manifesta-se Quinzão – foi maneira de enganar o povo e empurrar o problema com a barriga, pois diz o bom senso que não faz sentido a duplicação da rodovia apenas no perímetro urbano. Se prometessem a duplicação – que se revela necessária – de toda a rodovia seria de mais fácil crédito.

– Pois bem – volta Tatão – se hoje isso acontece com tanta frequência – há outros exemplos – imaginem àquela época quando a sociedade era mais acomodada e os cidadãos menos exigentes. Outros fatores contribuíram para que a promessa caísse no esquecimento.

– Como assim? – indagam alguns.

– A história diz que, em 1894, já estava decidida a mudança da capital e, dentro do congresso mineiro (atual Assembleia Legislativa) os assuntos relacionados com a construção e transferência tomavam conta da vida daqueles parlamentares. Pressionados entre o que se dizia necessário e a negativa da população local que, sabiamente, percebia o quanto sairia perdendo com a mudança da máquina governamental para outra cidade, os políticos optaram pela novidade, assim como a República, ainda a engatinhar. Engatinhava, mas ostentava poder e sede de mudanças que explicariam sua atabalhoada implantação. Por tudo isso, ao governo, em vias de se mudar de endereço, não interessava implementar benefício ao município prestes a ser abandonado pela máquina do governo.

– Considerando-se as condições de então, construção e transferência se fizeram em tempo bastante curto! – exclama Dorinha.

– Emenda à constituição estadual, feita em 1891, determinava a inauguração da nova capital dentro de quatro anos – continua Tatão – Havia pressa em deixar o velho, abraçar o novo. Ouro Preto lembrava os colonizadores, ostentava resquícios da monarquia no título “Cidade Imperial”, na Escola de Farmácia e na Escola de Minas, ambas implantadas durante o segundo império, na ferrovia (uma das mais significativas e desenvolvimentistas obras de D. Pedro II) cuja estação local levava o nome do imperador. E com a Escola de Minas D. Pedro II tivera carinho todo especial. De tudo isso os então republicanos queriam distância, mas tal sentimento era disfarçado mediante argumentos bastante convincentes, diga-se de passagem, que apontavam a cidade inadequada para sede do governo, em razão de dificuldades geradas pela topografia montanhosa, saneamento básico insuficiente, o que impediria seu desenvolvimento em consonância com as aspirações republicanas.

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