Contradições de um imenso País como é o nosso Brasil

13 de Dezembro de 2013
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Mauro Werkema

A Confederação Nacional da Indústria está divulgando pesquisa sobre a opinião da média dos cidadãos brasileiros sobre a economia, suas perspectivas e esperanças. É surpreendente em vários aspectos, especialmente porque oito entre dez entrevistados afirmaram estar satisfeitos com seu padrão de vida, reconhecem que mudou para melhor e que, certamente, a vida dos seus filhos será melhor ainda do que a que tiveram. Tais resultados contrastam com o que a grande imprensa divulga diariamente quanto ao desempenho da economia brasileira, a evolução do PIB e assim por diante. E expressam um pessimismo constante sobre a economia. Constatamos então que este pessimismo, se concreto e real, ou se mera oposição ao governo federal, não contamina a opinião pública, que continua achando que o Brasil melhorou.

Na verdade, basta sair às ruas, ou ir aos supermercados, para ver que milhares de cidadãos brasileiros foram incorporados ao mercado de consumo. O automóvel virou mercadoria de todos, pobres e ricos, jovens e velhos, até porque está sendo vendido a prestações, com até 60 meses. O resultado é o entulhamento das vias públicas, a dificuldade da locomoção, com a drástica redução da mobilidade urbana. E este quadro não atinge somente as grandes cidades mas também as pequenas e médias. Quanto ao comércio, seu crescimento não se restringe à chamada “linha branca”, geladeiras e máquinas de levar, ou aparelhos eletrônicos, mas ao supermercado de gêneros alimentícios. As vendas, conforme as previsões, podem crescer até 10% neste Natal e, a cada dia, abre um novo supermercado ou shopping nas cidades maiores.

O comércio está publicando anúncios à procura de mão de obra. Faltam funcionários nas lojas, nos mercados. E os índices de desemprego estão por volta de 6%, o que é considerado pleno emprego pela teoria econômica. Então, onde está a crise diariamente anunciada pela grande imprensa? Será na indústria? Mas as taxas de uso da capacidade instalada mostram que a ocupação mantém-se na normalidade, até porque é preciso renovar os estoques do comércio. Nos segmentos voltados à exportação, a variação do câmbio certamente provoca algumas crises, mas ocasionais, conforme os números divulgados pelas entidades do setor. É claro que alguns países compradores do Brasil entraram em recesso e reduziram as importações. Mas a China, principal compradora de commodities, mantém seu desempenho, o que até incomoda e pode provocar alguma competição desleal com vários setores da indústria nacional.

De resto, a pesquisa da Confederação revela uma alta expectativa de ascensão social por parte dos brasileiros, o que demonstra alguma confiança no futuro do país. Então, mais uma vez, reencontramos uma velha dicotomia brasileira, que é um afastamento entre a economia e a política. As pesquisas têm demonstrado, todas elas, que o brasileiro não confia muito no governo e sobretudo nos políticos e nas entidades, partidos e Congresso Nacional. Mas acha que está melhorando de vida, com acesso bem maior ao consumo e a bens duráveis. Conclui-se, mais uma vez, que se a economia vai bem o povo está satisfeito e já não faz radicais julgamento de valores, sobre direita ou esquerda, sobre desvios da vida política, sobre políticos de má conduta. Vai tocando o barco já descrente, certamente convencido de que o Brasil vai demorar ainda muito para ter homens públicos e políticas públicas corretas, decorrentes de líderes éticos e honestos. Enfim, são as contradições deste grande país.

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