Copa, eleições e o tempo de mudanças no Brasil

08 de Junho de 2014
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Vive o Brasil tempo entre inusitado e surpreendente. E, certamente, de grandes mudanças, nem sempre perceptíveis a todos nós conviventes. Predominam dois grandes acontecimentos, a Copa do Mundo de Futebol da Fifa, que começa no dia 12, quinta-feira próxima, com os times já chegando ao Brasil, e as eleições para presidente da República, governadores de Estado, Senadores e deputados. Mas muito mais está acontecendo: um sentimento generalizado de insatisfação, acelerado pelo descontentamento com a classe política, com o aumento dos preços de gêneros de primeira necessidade e da prestação de serviços, resvalando para a Copa e os gastos do governo brasileiro e os ganhos da Fifa. E, o que é pior, não há muita esperança de que o Brasil seja o campeão.

Há reação contrária à Copa, surpreendente ante o imenso gosto do brasileiro pelo futebol. É até possível que quando a bola começar a rolar nos estádios mude a insatisfação, ampliada também pelos protestos que usam os holofotes da Copa, que será vista por quase dois bilhões de pessoas em todo o mundo. A previsão é que as manifestaçõ ocorrerão durante a Copa nas principais capitais, inclusive Belo Horizonte, onde se prevê que não serão surpreendentes, como no ano passado, nem tanto agressivas com vandalismos. Mas, no Rio e São Paulo a verdade é que nunca foram interrompidas, pois continuam ocorrendo semanalmente. Mas, como já se disse, começando os jogos, é possível que o patriotismo impere ou suspenda a insatisfação.

É amplo e meticuloso o planejamento das autoridades estaduais e municipais para enfrentar as manifestações em Belo Horizonte. Todas as possibilidades e alternativas foram previstas e para cada uma, há planos traçados. O efetivo policial foi treinado e é considerado suficiente mesmo para grandes massas populares. Estão instalados dois centros de controle, com câmaras por toda a cidades, um na BHTrans e outro na Cidade Administrativa. Praticamente tudo pode ser visto e, após analisado, podem ser enviadas imagens para tropa policial, corpo de bombeiros, ambulância e mesmo helicóptero. E a disposição é de proteger manifestações pacíficas, mas agir com rigor contra vândalos ou depredadores.

É certo também, e o tempo o dirá, que muitas obras permanecerão e não só os estádios, mas também as que melhoram os deslocamentos urbanos e o setor turístico.

As eleições, por sua vez, são uma incógnita, no plano federal e no estadual. A reação da sociedade brasileira contra a classe política é quase unânime. São muitos os bandidos, aproveitadores, desviadores do dinheiro público, quadrilheiros e todos os tipos de oportunistas com ganho ilegal. É raro, senão inexistente, o dia em que não há noticiário envolvendo um político em alguma falcatrua. E muitos poucos trabalham. E quase nenhum está realmente comprometido com os interesses públicos. Nas pesquisas, o eleitor mostra seu descontentamento, visível no grande número dos que dizem não saber em quem votar ou mesmo se vão votar. No mais, as opções colocadas não facilitam as decisões. A verdade, dita com todas as palavras, é que é grande o descontentamento com o PT e há resistência acerca de sua continuidade no governo federal, onde está há 12 anos. Mas também não se acredita no PSDB e seu candidato, mediante suas escassas propostas e programas.

Mas enfim, evolui também o mundo sob o impacto da comunicação eletrônica. Ampliam-se as possibilidades e canais do conhecimento. Aumentam as expectativas de cada um e de todos na medida em que se dissemina a informação, que permite forte conectividade, difusão de críticas e opiniões. Ao lado disto, a sociedade mais exigente sofre com a vida, especialmente nas cidades maiores, com o trânsito, o transporte público difícil, a criminalidade, o custo de vida elevado na alimentação e na educação dos filhos, na saúde. A fantástica evolução da ciência e da tecnologia não é acompanhada, no Brasil, pela necessária mudança nas condutas humanas, de maneira a se construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. Vamos ver as consequências da Copa como também das eleições e mantemos, como é da índole brasileira, a renovação na esperança de dias melhores. Até lá vamos enfrentando a crise de construção da democracia participativa brasileira e, se possível, devemos corrigir, nas urnas, a conduta da classe política.

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