Corpo humano, templo da vaidade I

10 de Junho de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Como marca da materialidade, em que vive atualmente a sociedade humana, está em franca ascensão, em grau nunca antes visto, a cultura do corpo. Em nome da beleza física e forma escultural eleita pelos ditadores de corpos modelo, fazem-se coisas das quais até Deus duvida. Exemplos dos mais chocantes são vistos, constantemente, na mídia, a chamar a atenção para os perigos dessa visão distorcida sobre os aspectos físicos do corpo humano, diversos tanto quanto são os indivíduos, não havendo maneira única de considerá-los e de tratá-los.

O que antes se dizia ser próprio das mulheres, a preocupação excessiva com a imagem corporal sobe à radicalização também entre os homens, levando-os ao consumo de produtos incompatíveis com o organismo humano e à prática excessiva de exercícios. Não sabem, porque não querem, que o sonho de ter o corpo espelhado neste ou naquele modelo, pode converter-se em pesadelo, do qual se pode não escapar!

Como é próprio da mentalidade comercial, não faltam, no mercado, aproveitadores e produtos ditos miraculosos, surgidos sob o impulso da vaidade dos sonhadores e sonhadoras. “Profissionais” improvisados e clínicas clandestinas exploram à larga e sem escrúpulos esse mercado, que não para de crescer, não obstante advertências contidas nos casos descobertos por via de estragos causados a muitas vidas. Assim como os vícios continuam a atrair vítimas, à margem de todo o combate que lhe é dirigido, a febre do culto ao corpo físico não tem encontrado remédio que a faça baixar. Paralelamente aos produtos duvidosos e não recomendados, bem como à prática de exercícios incompatíveis com saúde do indivíduo ou em excesso, causadores de mortes súbitas, fazem a cabeça de muitos as dietas, em moda e à margem de qualquer orientação médica.

Há então dois comportamentos, antinaturais até certo ponto, que pessoas têm adotado para atingir objetivo considerado, por elas, como essencial para suas vidas: a cultura extrema do corpo e os meios usados para alcançar o modelo de corpo, eleito por si próprias, dentro da mesma cultura. Cuidados com o corpo, sob o aspecto da saúde, bem como da estética, são necessários a bem da vida e da autoestima, porém dentro do equilíbrio, que se estende também aos seus pilares, os exercícios e a alimentação. Cada tipo físico pode se exercitar até determinado nível, de acordo com seu estado de saúde, cabendo o estabelecimento desse nível a um profissional da área da saúde, mas o que se vê é o exagero do qual o indivíduo ainda se vangloria. Para a grande maioria dos que não se exercitam por meio do trabalho, talvez boa caminhada diária bastasse para suas necessidades. Mas, ao contrário, cresce o número de atletas de fim de semana, na prática de exercícios a se chocar com o repouso relativo do corpo nos cinco dias precedentes. Pretende-se combater o sedentarismo nos dias comerciais com um choque de atividades físicas, nos momentos que, naturalmente, deveriam estar reservados ao repouso. É a inversão de atitudes!

Quanto às dietas, estas são tentativas de corrigir erros contidos nos hábitos alimentares, adquiridos, diga-se de passagem, com o surgimento e popularização dos alimentos industrializados. Entretanto, outro fator pesa grandemente nos ditos hábitos, afora os tipos de alimento. É a quantidade ingerida. Cada organismo tem capacidade de processar até determinado volume de alimento, de forma satisfatória, mas a gula acaba por fazer romper essa barreira. O que excede às necessidades do organismo é convertido em gordura, sem considerar a possibilidade da indigestão decorrente do abuso ao comer.

O prazer no comer, se não contido dentro de limites razoáveis, é que redunda em gula; e isso deve ser aprendido na infância, para que o indivíduo, mais tarde, não sofra as consequências ou não tenha que reaprender a duras penas. O apetite e o prazer no ato de comer são as armas, usadas pela natureza, para que se busque a nutrição necessária ao organismo. Se assim não fosse, morrer-se-ia de inanição, pois, por obrigação poucos se alimentariam; isso mesmo. Em se tratando de cuidados consigo próprio, o ser humano é relapso e preguiçoso ao extremo! É a pura verdade. Veja-se, por exemplo, pessoa atacada por gripe das brabas, das que causam inapetência (falta de apetite) e falta de paladar. Sem vontade de comer e sem sentir o gosto da comida, ela não come; insista para que coma e veja o que acontece!

Além da qualidade do alimento, no atendimento das necessidades nutricionais, é mais do que importante o modo como se come, para evitar o excesso e fugir da gula. Mas isso fica para a próxima, porque o espaço é curto!

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