Corpo humano, templo da vaidade II

17 de Junho de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Considera-se o ato de se alimentar como o mais importante na preservação da saúde e, por consequência, na continuação da vida no corpo. Em razão dessa importância, o momento da refeição é tido como sagrado por pessoas sensíveis e dotadas de visão mais ampla sobre a vida. Sob estado de tensão, melhor não se sentar à mesa, porque o ato de se alimentar requer tranquilidade, devendo a atenção voltar-se exclusivamente àquele momento. Por isso mesmo, discussões e o trato de assuntos desagradáveis devem ser deixados para outra hora.

Mas, nem sempre o que diz o pensamento, ao se considerarem verdades da vida, resulta na prática e ações com ele (o pensamento) coerentes, resultando disso, no organismo humano, a perda do equilíbrio, que se procura, posteriormente, restabelecer, mais uma vez de forma antinatural.

Nesta abordagem, um tanto melindrosa, pois pode ferir outras formas de encarar a questão, há que por justiça e respeito separar as pessoas, que sofrem o distúrbio do comer compulsivo; ou seja, não comem pelo simples prazer, porém por imposição do organismo doente. Para essas, cruelmente atingidas pelo comer compulsivo, há, felizmente, recursos na medicina, que devem ser buscados, a despeito de quaisquer outros oferecidos. Quanto às demais pessoas, a não observação da natureza do alimento, no que se refere às suas propriedades nutritivas, é a primeira falha que se comete. Atém-se tão somente ao fator paladar, por meio do qual o alimento dá prazer.

Acontece que o chamado “prazer à mesa” não é o objetivo principal do alimento, sendo antes, conforme já dito, um artifício da natureza para que seja levado ao organismo, regularmente, cumprindo a partir daí a função de conservar o corpo plenamente saudável. Ao se esquecer disso, levam-se à boca alimentos, muitas vezes, impróprios, que não atendem às necessidades do indivíduo, em momentos inadequados e em volume além do limite, tudo em nome do prazer.

O estômago é tratado como saco de pancadas, forçado a digerir de tudo com excesso e a qualquer momento; nem de longe lembrado como parte integrante do mais perfeito processador de alimentos, o aparelho digestivo humano. Pessoas com necessidade de perda de peso deleitam-se, frequentemente, com alimentos altamente gordurosos e ainda petiscam a qualquer momento, não dando tempo ao organismo de processar o que lhe é empurrado e ainda descansar. Em dado momento, na tentativa de compensar os excessos, apela-se às dietas malucas, quando não a produtos suspeitos, largamente anunciadas como redutores de peso, sem necessidade de alteração nos hábitos alimentares.

O processo digestivo tem início na boca, com a mastigação, único ato controlado, voluntariamente, isto é, sob a vontade do indivíduo, porque depois dela o alimento passa a se transformar sob a ação direta do organismo, sem que a pessoa possa, aí, exercer sua vontade. É na mastigação (sob controle da vontade) que se sente o prazer, tanto perseguido. Mas na ânsia de obtê-lo mais intenso, maior volume de alimento é consumido, ignorando-se que a saciedade pode ser obtida com menos comida. Engole-se, rapidamente, quase sem mastigação, uma porção de comida e, como agradam ao paladar, outras porções se sucedem no mesmo ritmo, até que no estômago haja comida além do limite O estômago recebe mais e mais comida, mas o prazer proporcionado pelo paladar não é satisfeito, porque o alimento permanece na boca por tempo aquém do necessário!

Se o prazer proporcionado pela comida está na mastigação, portanto ainda na boca, não há sentido em engoli-la rapidamente. Para que se sinta o prazer, em sua plenitude, a mastigação, em ritmo moderado, deve ser repetida, mais ou menos, umas vinte vezes a cada porção. Logo o segredo do alimentar-se, com equilíbrio, está no tempo em que o alimento permanece na boca, enquanto é mastigado e misturado com saliva. À medida que se mastiga, regularmente e por mais tempo, o paladar se sacia, torna-se saturado e o prazer se faz completo.

Mas, que não se engane quem, assim procedendo nas refeições principais, continua a petiscar nos intervalos, pois se quiser manter peso, ou reduzi-lo, deve banir a lambiscaria de seus hábitos alimentares. Vaidade dentro de limites razoáveis vai bem para o corpo, mas a gula pode ser sua perdição!

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