Falência da credibilidade dos políticos

24 de Junho de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Em outras circunstâncias, o dito aqui há três semanas seria considerado previsão política com base em raciocínios intricados, como normalmente são as interações políticas. Mas no estágio atual da política brasileira, o que se disse foi o óbvio ululante, que está na cara e só não é visto por quem não quer. O sistema político está tão podre, tão corrompido, que nem o mais honesto escapa às suspeitas que medram no meio.

Quando se dizia que o ministro caído em desgraça seria seguido por outros, o texto ainda estava por ser concluído e caiu o segundo. Agora cai o terceiro. Nada de surpreendente. O que acontece é como aquelas extensas armações de peças de dominó, interligadas por complexas armadilhas. Basta o tombamento de uma peça ou acionamento de uma das armadilhas para que todo o complexo caia. A Operação Lava Jato puxou a linha e teve início a derrubada das peças entre as muitas ainda por tombar, se não houver uma drástica e insensata intervenção, que interrompa o curso da operação. O perigo está aí, no poder de manipulação e de interferência dos políticos tupiniquins, que podem fazer melar todo o processo.

Que não se engane quem pensa estarem os corruptos e corrupção derrotados, via investigações em curso. Não estão e, enquanto as forças da lei se mobilizam no desvendamento dos negócios espúrios, os envolvidos tratam de neutralizá-las. Contra isso há que se manter implacável vigilância, fator que tem contribuído para que não cesse a marcha das investigações. Muito assustada e, certamente, à espera de oportunidade para por tudo a perder a seu favor, a classe política, contudo, tem consciência de que a sociedade está vigilante e pronta para reagir em apoio ao desbaratamento das quadrilhas e suas maracutaias, doa a quem doer. Muito se esperou por momento como este, no qual personalidades acima de qualquer suspeita são desnudadas de suas falsas aparências, igualando-se ao mais reles ladrão, que não nega ou esconde o que faz. Só se lamenta que, no torvelinho das investigações e consequentes processos algum eventual cordeiro – muito raro – acabe por pagar só por estar entre lobos. Mas, isso também é da vida; muito mais da vida política!

Para que tudo não se perca, a sociedade deve estar consciente de que não bastam a ação policial e a mão da Justiça sobre os culpados apanhados, porque se não demolido e substituído o atual sistema político-eleitoral, aqueles ainda farão sucessores na mesma senda criminosa. Tudo no atual sistema favorece aos corruptos e à corrupção, não deixando espaço para a verdadeira Política e a boa administração pública. Que venha novo arcabouço político, no qual se contemple o idealismo em lugar dos interesses pessoais e das negociatas de grupos; que não mais haja lugar para os néscios, que se valem da vida pública como escape à justa avaliação de sua capacidade no setor privado! A coisa que aí está acabou-se e não engana a mais ninguém! A qualidade dos políticos brasileiros fede mal à distância, bastando ao cidadão assistir às atividades em curso, em relação ao impedimento da presidente da República e à cassação do mandato do presidente da Câmara dos Deputados, para que se conscientize disso. A baixaria é total. Na chamada à ordem ainda se insulta a escola, comparando aquele ambiente deplorável com uma sala de aula como se nesta, eventual baderna fosse coisa normal.

Concluindo o pensamento, pode-se dizer que não há, na classe política brasileira, empatia que a identifique com a nação, enganada em seus mais profundos anseios e angustiantes necessidades, por meio de fraudes, má administração, desvios financeiros e roubos descarados. A falta de sintonia dos parlamentares, por exemplo, pode ser sentida na radicalização contra a reimplantação da CPMF, não tendo sido apresentada alternativa ou compensação para minorar seu impacto. A cobrança da CPMF, tributo mais justo por ser pago por todos, via conta bancária, poderia ser amenizada, em parte, com redução de impostos em itens da cesta básica, em material de construção e em medicamentos. A arrecadação via CPMF, por não ser sonegável, daria margem a algumas reduções de impostos, barateando produtos de primeira necessidade; isso se os políticos quisessem ajudar a população. Mas, não querem! Em vez disso alardeiam, demagogicamente, que os mais pobres serão os mais prejudicados com a cobrança da CPMF. Mentira infame, porque pobre não tem conta em banco! Poderão, sim, ser beneficiados, se impostos incidentes sobre alimentos forem reduzidos, mas contraproposta nesse sentido nem foi cogitada. O principal motivo para não se aceitar é o fato de ela reduzir, drasticamente, a possibilidade das maracutaias e por ser a antessala do Imposto Único.

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