Para onde caminha a sociedade?

24 de Novembro de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A julgar por certos comportamentos sociais e, de acordo com faixa etária do avaliador, não se sabe se sociedade pretende atingir patamar mais alto no grau de civilização, ou se despenca morro abaixo em direção à completa selvageria. Teme-se que seja a segunda hipótese e isso se confirma sob o olhar crítico de avaliador situado em faixa etária mais avançada. Tendo o segundo vivido outros momentos, vale-se de elementos com melhor poder de comparação, para concluir que a decadência vai abaixo do que se conhece por selvageria.

Ao contrário do que muitos podem pensar, os indígenas vivem sob regras e códigos de ética, dentro de suas respectivas tribos, não se aceitando que tais normas sejam violadas, sem que o infrator, de alguma forma, pague por isso. Tal controle é exercido em benefício da preservação de toda aquela comunidade, pois se isso não se faz todo o grupo desaparece. Com propósito análogo aos dos indígenas, a chamada sociedade civilizada tem leis e mais leis, decretos, normas, portarias, regulamentos e o diabo a quatro, que se editam e, teoricamente, são mantidos sob custoso aparato. Diz-se teoricamente mantidos porque, na prática, pouco ou nada é obedecido, fazendo cada indivíduo o que bem lhe dá na telha, em se tratando de convívio social, enquanto que em relação ao Estado cumpre a lei sob ação fiscal e/ou policial.

Mais ou menos assim, dentro desse figurino meio legal ou marginal, transcorre a vida tupiniquim, enquanto vozes indignadas se erguem contra políticos e outros personagens corruptos, no topo da pirâmide, cuja base se esboroa e afunda na lama. Grita-se contra o opróbrio ao alto, sem se dar conta de que, abaixo, não se vive em bendição! Em linguagem popular é o porco a falar mal do toucinho!

Entre indivíduos, o que deveria ser amizade, relacionamento que prima pela aproximação mais estreita, sem jogo de interesses e sem cobranças, é aproveitada, sem quaisquer escrúpulos para se conseguirem vantagens pessoais. Faz-se do companheirismo e lealdade máscaras para a arquitetura e disseminação de mentiras cujo propósito é a derrubada da reputação de parceiros. O respeito aos direitos do próximo, base do convívio harmonioso e democrático, é considerado ultrapassado e contrário ao conceito de liberdade que, por sua vez, virou licenciosidade ou pura libertinagem. Subvertido o conceito de respeito, demais valores que devem nortear o convívio em todo e qualquer grupo humano, são também solapados por interesses mesquinhos e pessoais. Impõe-se o vale-tudo contra as regras estabelecidas e mantidas sob consenso geral; instituições respeitáveis e consolidadas pela ação positiva de sucessivas gerações se veem, subitamente, agredidas em seus alicerces ético-morais-sociais por forças que visam quebra de regras, impondo em seu lugar a vontade pessoal ou simplesmente a indisciplina.

Em todas as frentes tal fenômeno se observa, e, ainda que uma boa estrutura se contraponha à investida, basta haver dentro da entidade alguns interesses destoantes do geral, para que a quebra da harmonia se faça. Nem sempre foi assim, mas houve um momento em que se deixou, no lar, na escola e sociedade em geral, de preparar o indivíduo para a convivência social, mostrando-lhe não ser isolado, porém parte de um todo, que deve evoluir mediante a média das evoluções individuais. No lar, obediência à escala hierárquica familiar e, fora dela, obediência às leis e regulamentos, respeito ao próximo. Hoje, nada mais disso prevalece! A própria religião, antes um freio contra os desvios terrenos em prejuízo da conquista espiritual, afrouxou as rédeas e banalizou o sagrado.

Estão, portanto, dentro dos novos padrões de comportamento social, festas populares, com liberação geral e implícito consentimento do poder público, que desrespeitam desde o sossego do cidadão ausente até o direito da criança e do adolescente a uma formação condigna, sem a qual não se chega à cidadania plena. É a nova onda de subversão de valores, na qual surfa a pseudomúsica recheada por letra pornográfica, em volume capaz de alcançar quilômetros. Acrescente-se à barulheira a prevalência dos sons graves acima dos agudos, o que agrava a irritação causada. No local do evento, seria de se esperar alguma manifestação cultural, própria para a faixa etária daquele público, mas, no embalo da zoeira saída das caixas, o que se vê é uma agitação alucinada, induzida por muito álcool e não sabe o que mais. Adolescentes, quase meninos e meninas se entregam, sem qualquer refreamento, ao frenesi, durante o qual alguns chegam a passar mal. De acordo com a lei, onde há bebida alcoólica menor de idade não pode estar, ou, onde há menor de idade bebida alcoólica não pode entrar, mas organizadores fazem disso letra morta, mesmo porque os que deveriam acompanhar e fiscalizar tais eventos estão longe. Entretanto, para comprovar a natureza da festa, basta conferir a natureza do lixo, no dia seguinte!

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