Depois do horror, um viva à vida

09 de Junho de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A existência de mundos paralelos, polêmica entre cientistas, de um lado, e realidade fantástica entre ficcionistas, de outro, está comprovada, pelo menos, no reino mental. Se não, a hipocrisia deixou de ser eventual e localizada, passando a fenômeno universal! Como se grande novidade, anuncia-se que o mundo do futebol está corroído pela corrupção entre seus dirigentes que, dele se valem para fazer fortunas pessoais. E a “grande novidade” é recebida pelo público com não menor surpresa! Vê-se agora que o “óbvio ululante” só era perceptível para poucos, que eram desacreditados, pois de acordo com lógica burra, a maioria é que está certa. É o caso da anedota que mostra a admiração da mãe de um soldado, cujo passo, em relação aos demais da tropa em desfile, está atravessado – vejam, o meu filho é o único com passo certo. A anedota tenta ridicularizar a mãe, que sempre dá razão ao filho querido, mas se o soldado tem o passo em sincronia perfeita com as batidas do tambor, conforme convencionado, a mãe está com razão, mas a maioria burra não vê.

Pois bem, todo o mundo futebolístico (até o menor dos torcedores) foi enganado por meia dúzia de trapaceiros ou fingiu que estava tudo bem, na esperança de ali, também, ter seu lugar. Mas isso de corrupção, como já encheu, recomenda-se deixar aos cuidados da polícia e da Justiça.

Em lugar disso, cantemos a vida como a amiga, e ex-colega da escola primária, Sirlene (cachoeirense/paulistana), que criou espécie de newsletter para saudar seus contatos, todos os dias. Em texto ligeiro e coloquial, ela expulsa os demônios da tristeza, dá piparotes nas esquisitices da velhice e zomba da vida aquietada à espera da morte. O último que recebi é quase homenagem aos jovens estudantes, no cumprimento das tarefas disciplinares que os levam ao saber. Da homenagem à juventude, ela passa à aposentadoria, louvada em suas palavras de gratidão à vida. Seus despretensiosos textos, quase sempre a evocar o torrão natal, destacam a velhice como o coroamento da vida, mediante acúmulo de experiências, algumas amargas, mas necessárias ao tempero final. Segue o mais recente comunicado, faltando-lhe, entretanto, flores e jardins em fotos, acompanhadas de dois ou três arquivos musicais, dos melhores entre clássicos.

“Amigos queridos e conhecidos íntimos, O Láaaaaaaaaa! Gente, cês não imaginam o tanto de coisa que tenho pra fazer neste mundo reduzido ao pequeno espaço que é o meu apartamento! Quando vai chegando 5 da tarde eu me pergunto: ‘Afinal o que foi que eu fiz hoje?’ mas não fica nada visível! Minha sorte é que meus superegos, depois que fiz 22 anos, são muito mansos! Falar nisso, gente, qual foi o período mais estressante de sua vida, falando em cobranças? Para mim foi o período de estudante. Morro de pena de quem é estudante, porque, junto ao prazer realmente, que o aprendizado, a companhia dos colegas, a convivência com professores, funcionários, a produção necessária diária para se apresentar; vestido, calçado, sair de casa e outros prazeres, vem o lado pior: o estar em dia com as obrigações escolares... desde o Primário... saber para as provas, entregar trabalhos, tudo com dia marcado... ninguém merece! Eu tinha uma colega na enfermagem que fazia parte do meu grupo e ela era viciada em notas altas... ai de mim se não entregasse a tempo a matéria que cabia a mim desenvolver... e eu que jamais fui pontual tinha que aguentar a tal colega me batendo à porta: ‘Sirleiiine... o trabalho está pronto????’ Estudante sofre muito... Como professor é diferente, eu diria até que é um prazer preparar uma aula, de cobrir extensão de um assunto, enriquecer um conteúdo, bolar uma arguição, planejar uma prova... talvez porque nos centramos numa Disciplina só, mas o aluno não... ele tem que ser uma espécie de enciclopédia... Tá doido! Morro de pena de aluno! Mas a melhor fase da vida, ‘gentem, acreditem’... é a fase da aposentadoria...Ô trem bão, sô! Pode pintar feriado, segunda, noite, dia, chuva, sol, ...você pode fazer o que você bem planejar, e ou, nem planejar! Portanto, esse negócio de dizer que a aposentadoria dá depressão...não acredite! Isso é coisa de casado, de pai, de mãe, de arrimo família, de padre, de pobre, de fraco de espírito, de gente que não se realiza por algum motivo, mas não é da aposentadoria, tadinha!”.

Para que não restem dúvidas quanto ao objetivo desta inserção, esconjuro demônios que nos perseguem: Xô corrupção! Xô ladrões de casaca!

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