Diálogo e esperança com a nova equipe econômica

05 de Dezembro de 2014
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Definida pela presidente Dilma a equipe econômica, com Joaquim Levy na Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e a continuação de Alexandre Trombini no Banco Central, todos esperam que o País entre numa nova etapa. Fundamentalmente, renasce a esperança que seja retomado o crescimento econômico, conforme amplamente debatido na campanha, pelos dois candidatos, que se fixaram na questão como tema principal. Mas é ampla também a opinião, entre todas as correntes de pensamento, que não será tarefa fácil, ou de curto prazo e que exigirá alguns sacrifícios, conforme os programas econômicos já elaborados pela nova equipe. Se é possível, através de medidas de política econômica, fiscal e financeiras, equilibrar a situação macro-econômica, permitindo um crescimento de pelo menos 2% do PIB em 2015, persiste, no entanto, a dificuldade gerada pela situação internacional, que mantém as economias dos países do primeiro mundo com crescimentos também pequenos, alguns com processo de estagnação até mais graves do que o Brasil.

A reação aos nomes da nova equipe, em especial ao ministro Joaquim Levy, acusado de ser representante dos banqueiros e de ser mais conservador, adepto da chamada ortodoxia econômica, parece superada. Mesmo os setores mais à esquerda do PT passaram a compreender que a presidente Dilma sai da eleição com o dever urgente de promover um diálogo ampliado com setores que ficaram com o PSDB no pleito, e que criticam o seu governo, especialmente o pouco crescimento econômico. É claro o propósito da presidente Dilma de promover o diálogo, senão o apaziguamento, com setores como a indústria, o setor financeiro e outros segmentos críticos do quadro atual. A escolha da senadora Kátia Abreu que, embora do PMDB, é uma representante do agronegócio, é outro nítido exemplo de um diálogo com um setor conservador mas que se tornou muito importante no Brasil, sobretudo por seu peso na exportação e na composição do PIB.

A escolha de Joaquim Levy tira argumentos críticos do PSDB e de setores com pensamento mais ortodoxo na economia. E, por outro lado, como homem experimentado, que serviu como Diretor do Tesouro no Governo Lula, é certo que Levy conhece muito bem o governo que passará a servir, bem como os compromissos da presidente Dilma com a continuidade da inclusão social, da manutenção do emprego, da redução das desigualdades pessoais e regionais de renda, da remoção da pobreza extrema e a continuidade de programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Prouni, a Farmácia Popular, o Enem e outros que têm efetivamente melhorado a qualidade de vida de milhares de brasileiros. Como, aliás, acaba de constatar pesquisa do IPEA sobre o IDH de várias regiões brasileiras, divulgado esta semana.

De resto, estas políticas de caráter distributivista constituem, hoje, senso comum em um País ainda tão desigual. É bom lembrar que o próprio candidato do PSDB, no final da campanha, passou a apoiá-las, prometendo até sua ampliação. É importante constatar, também, que algumas medidas do receituário ortodoxo, como contenção de despesas públicas, equilíbrio fiscal e controle do déficit público, manutenção da inflação no centro da meta, de 4,5%, mais investimento em infra-estrutura, ainda bastante deficiente no Brasil, impedindo o crescimento de vários setores da produção industrial e agropecuária, são medidas de consenso geral. Se o principal objetivo é retomar o crescimento econômico, então tais medidas são fundamentais e, neste momento, representam ampla aceitação, afastadas ideologias mais radicais que tornam a discussão econômica uma espécie de futurologia entre confusa e imprecisa.

O Brasil é imenso, no território, nas riquezas de solo e subsolo, na imensa costa marítima, nos recursos humanos e tecnológicos, na criatividade de seu povo. Tem uma economia informal que precisa passar a fazer parte da contabilidade pública. E, é bom lembrar, vem mantendo o emprego, o investimento estrangeiro e conseguindo realizar a inclusão social, inclusive com a educação, em grande expansão em todo o País, em todos os níveis. Passada a eleição, esquecendo os palanques, é hora de retomar conversas e diálogos, de construção de novos caminhos.

Resta, no entanto, uma grande incógnita, que é a reforma política, outra fundamental e inadiável necessidade. É uma promessa de campanha dos dois candidatos mas que a classe política, como já demonstram as primeiras ações do Congresso, Senado e Câmara Federal, dificilmente realizará por conta própria e com a profundidade que precisa ser feita, permitindo mudança completa das práticas políticas e eleitorais do País. E também dos partidos. Sem mudanças profundas do quadro político brasileiro, inclusive na qualidade e na conduta dos parlamentares, nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, fica muito difícil o País alcançar um novo tempo. Definida a equipe econômica, é preciso que a presidente Dilma, com ousadia e coragem, com apoio da opinião pública, avance na proposta de reforma política, sem o que ficam comprometidos, ou até mesmo impedidos, todos os esforços por conquistar uma nova etapa para o Brasil e sua evolução histórica. A qualidade da atual classe política e seus partidos está também na raiz da corrupção, que assumiu gravidade excepcional no Brasil. Todo o País espera que corruptos e corruptores, empreiteiros, políticos e funcionários corruptos permaneçam na cadeia e o dinheiro público seja plenamente recuperado.

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