Dizer não pode ser um ótimo negócio

05 de Agosto de 2016
Jornal O Liberal

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Quem já não se deparou com uma situação em que disse sim, querendo dizer na verdade um sonoro NÃO. Pode parecer estranho, mas muitas vezes dizer “não” pode ser a melhor saída. Nem sempre percebemos, mas em muitas ocasiões dizemos “sim” quando na verdade gostaríamos de ter dito “não” às pessoas ou às situações.

Durante consultoria em comunicação virtual para uma entidade ligada a um órgão Federal, avaliei que não havia no local sequer a estrutura para manter um blog. Entretanto, um dos secretários, entusiasta das mídias sociais, mas sem a mínima noção das dificuldades de geri-las, insistia em estar presente no Twitter, participar do Facebook, ter canal no Youtube e produzir um boletim virtual, além de editar um site, já existente, e que não atendia aos preceitos básicos para tampouco estar no ar.

Dada a falta de recursos, defendi que deveríamos ter centrado todos os esforços na reformulação e consolidação do site, deixando de lado as outras atividades. Era da opinião que valia mais ter um único canal de comunicação eficiente do que ter vários deficientes. Acabei sendo voto vencido e os resultados no geral foram desastrosos e isso quase me custou o emprego.

Os especialistas em recursos humanos explicam que é preciso coragem para falar “não”, especialmente em ambientes corporativos, onde as relações são frágeis e complexas. Segundo o presidente da Arbache Consultoria, Fernando Arbache, dizer “sim” é mais seguro e menos constrangedor, porém há um ônus nisso. Ao dizer sim, é possível que o profissional não entregue o que prometeu, tornando a situação mais desconfortável ainda e, pior do que isto, fazendo com que a pessoa que prometeu e não entregou, passe a não ser mais confiável.

Arbache explica que a cultura de dizer sim é algo inerente ao brasileiro, pois as pessoas entendem um não como uma ação pessoal e não profissional. No mundo corporativo em outros países, dizer não estabelece um laço de confiança maior, pois mostra que a pessoa é séria e responsável. No Brasil julga-se que o não é algo pessoal direcionado ao indivíduo que recebeu a negativa.

Nas situações de pressão, como a que passei, os especialistas ensinam que o não deve ser usado sem parcimônia. Arbache conta que a relação de forças entre chefes e funcionários é desigual. Entretanto, o funcionário deve se preservar. Ele ensina que a melhor maneira é ir aos escalões superiores, dando ciência que executará tal demanda, mas deixando claro que a possibilidade de sucesso será baixa. O consultor acrescenta que nesses casos existe a forte probabilidade de demissão. Por outro lado, se a demanda fracassar o funcionário pode ser igualmente demitido. A escolha aí é pessoal, ou seja, correr risco de ser demitido por ser honesto ou por ser incompetente.

No final das contas, acredito que dizer não passa a ser um bom negócio, pois ao praticar isso, passamos a ser vistos de forma mais séria e todos saberão que nossa negativa tem foco profissional e que o nosso sim é algo real tornando-o bem mais confiável.

_***Marcelo Rebelo é jornalista, relações públicas, pós-graduado em E-commerce e servidor efetivo da Secom de Itabirito**_

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