É agora que a porca torce o rabo...

17 de Dezembro de 2015
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

R.Koeppel (*)

A expressão que dá título a este artigo é antiga. Talvez da época colonial. Quando esta era uma forma de dominar um porquinho, conforme se explica na Internet. Ou seja, quando há uma dificuldade grande, num ambiente difícil como num “chiqueiro” – sempre lembrando coisas que aconteceram perto de nós recentemente – temos que dominar a porca... Ou ela nos joga no chão, no meio da sujeira... e isto nunca é algo agradável. Contudo em eventos deste tipo devemos procurar organizar as coisas de modo a sair da confusão em novo patamar.

Já tivemos oportunidade de escrever duas vezes sobre o tema “Mineração e Turismo em Ouro Preto”. Sempre enfatizando, em forma crescente, que mineração é uma coisa boa, mas com problemas futuros. Será que, de repente, o futuro chegou? E turismo também é uma coisa boa, mas com ótimas perspectivas de futuro. Mas dá mais trabalho para ser organizado num padrão mundial. Pensavámos em escrever uma terceira versão, agora que todos somos “gatos escaldados” com muito medo até de água fria, principalmente se a água vier em 55 milhões de toneladas com pó de minério.

Mas hoje vamos focar um desafio, que nos parece, precisa ser enfrentado. Claro que os valores que aparecem nos jornais, de multas que estão sendo aplicadas na SAMARCO, geram tristeza pois mostram o tamanho da calamidade que afetou a todos nós, moradores no Quadrilátero Ferrífero. Isto fora as vidas perdidas, que são irrecuperáveis.

Mas tem um lado perverso destas moedas que estaremos recebendo como multas – o eventual desemprego e, quiçá, até a suspensão de atividades da empresa por muito tempo, aqui na nossa região. Qual seja, em 2015 e nos próximos anos não devemos ir pedir ajuda de Natal para a SAMARCO, que sempre nos ajudou em muitas coisas. Vamos ter um Natal com o saco do Papai Noel meio (ou bem) vazio.

Também, quem mandou a gente vir morar em Mariana e/ou Ouro Preto? Em Gramado (RS) não tem este tipo de problema... Sentiram o bafo do dragão na nuca (tinha somente uma fábrica de calçados e não tinham turismo, há 30 anos) e estruturaram algo a partir do zero. Hoje lá tem turismo de qualidade e cada vez atraindo mais gente. Vejam o sucesso que é o Festival de Natal em Gramado! E Gramado, numa análise superficial, não tem nada que seja bom para o turismo – mas tem organização e cooperação! Tudo o mais foi construído nos últimos 25 anos. É sobre isto que queremos sensibilizar aqueles que nos lêem. Nossa região é única no mundo, mas temos que fazer valer o dinheiro daqueles que nos visitam.

Em 2014, como Diretor da BELOTUR, conseguimos fazer uma reunião, em Ouro Preto, com pessoas do Turismo de Mariana. Hummm...! Belo Horizonte, Mariana e Ouro Preto, juntos? Podemos estar enganados, mas isto não ocorre com freqüência. Ouvimos muitas reclamações de empresas sérias de turismo, que preferem mandar turistas para outras regiões.Todos elogiam Gramado onde há uma simbiose contínua, construtiva, com Canela, que fica pertinho, tal como Mariana fica perto de Ouro Preto.

Mas depois, por razões que ninguém sabe (ou sabe?) não tivemos mais nenhuma reunião... e nada andou. E assim, nosso turismo, que, se comparado com outros locais do Brasil deixa muito a desejar, vai perdendo oportunidade de gerar empregos e ser uma coisa crescente, permanente, alegre, feliz. Sabemos o que são “gaveteiros”, uma coisa histórica, reflexo de uma época de escassez de alimentos e com riquezas naturais (ouro) que não são comestíveis. Mas isto permeia nossas ações de (não) cooperação... Infelizmente.

Não está na hora de abrir as gavetas e compartilharmos, de forma intensa, um processo de turismo que atraia muita gente para nossa região? Esta foi a resposta de Blumenau à enchentes catastróficas (sempre a água e as chuvas, tão necessárias a vida humana, mas também causadoras de desgraças). Ou criavam algo que atraísse demanda para a cidade, ou se estrumbicavam. E aí veio a idéia do Oktoberfest e outros eventos. Hoje, todo mundo quer ir lá, curtir boas coisas, o ano todo.

O desenho abaixo, nos parece, reflete bem como nos comportamos na nossa região. Repare que os dois remadores estão no mesmo barco (e nós na mesma região), cada um remando para um lado diferente (Será que Ouro Preto não tem nada a ver com Mariana? Para onde estão remando?) e, à volta do barco, existem tubarões (que podem ter a forma de multas enormes) prestes a se deliciarem com os remadores. E o barco está furado. “Ainda bem... Não tem problema” – pensa o remador que está a rir – “... o buraco é do lado dele!”.

As más línguas podem dizer que o cara que está rindo é de Ouro Preto, poupada da tragédia desta vez.... Mas por que não aproveitamos e trabalhando juntos, Mariana e Ouro Preto, e passamos a trazer turismo em qualidade e quantidade para nossos diversos contextos: histórico, religioso, de Natureza, de folclore, de gastronomia, de música barroca, de música moderna, de serestas, etc. ?

Pense nisto. A mineração é boa mas tem que ser controlada, estamos nisto há 300 anos. Já não são poucos os buracos que cavamos... Por que não podemos estar num único barco, remarmos juntos, na mesma direção, e sermos felizes construindo um futuro onde o turismo de qualidade (e em quantidade, sem depredar nosso patrimônio) seja o atrativo para que todos queiram vir para cá? E assim, todos nós, e nossos filhos possam ficar por aqui mesmo, onde podemos ser cada vez mais felizes?

(*) Rodolfo Koeppel, mora em Glaura. Tem trabalhado em diversos contextos na região, desde 1979, quando instalou, com o Prof. Calaes, o primeiro computador em Universidades Mineiras, a UFOP. Muitos anos depois conheceu o que são “gaveteiros” quando trabalhou com 200 artesãos de artesanato em Pedra Sabão em Ouro Preto, Mariana e Catas Altas da Noruega. Preferiu saltar fora do barco, que estava cheio de furos... Como disse o Millor: “os bacanas comeram todo o queijo e só deixaram, para o povo, os furos”... Mas Rodolfo continua achando que podemos ser muito melhores, se cooperarmos entre nós mesmos. e-mail: rodolfo.koeppel@gmail.com

É agora que a porca torce o rabo...
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