E o povão onde vai ficar?

20 de Abril de 2012
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Ainda no final dos anos cinquenta, as rígidas solenidades do 21 de Abril, eram chamadas “bacanal cívico-militar” por ouropretano de destaque, em claro gesto de repúdio à forma como a festa era promovida pelo governo mineiro. Rígidas porque em nada diferiam de um ano para outro, até o atraso que forçava o retrocesso dos ponteiros do relógio do Museu da Inconfidência, para fingir que as solenidades se encerravam exatamente às dezoito horas, como determinava o protocolo. Por quase uma semana antes, a circulação nas ruas centrais eram controladas e nada se podia fazer de iniciativa local. No dia 21, por cerca de uma a duas horas, interditava-se o tráfego em toda Rodovia dos Inconfidentes (ainda não batizada e não asfaltada), para que autoridades por ela se deslocassem sem a presença dos míseros mortais, na vinda e também no retorno. A vantagem é que a estrada recebia cuidados especiais e assim se procedeu até que surgiu o helicóptero como meio de transporte dos governantes. Mesmo fechada por cordas e guardas, a praça ainda guardava espaço para o povo, que assistia e criticava por tudo ser tão controlado e sem qualquer oportunidade para manifestações locais. Diante do que se vê na Praça Tiradentes, desde o término das solenidades da Semana Santa, gigantescas estruturas metálicas a ocupar o exíguo quadrilátero, não se sabe o que diria a mesma personalidade que cunhou a expressão, referida ao alto. Conclui-se que o ouropretano era feliz no 21 de Abril e não sabia. Neste ano, faltando espaço nas sacadas dos sobrados, sobram lugares no beiral dos telhados que, à noite, estarão livres dos pombos.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook