Educação em segundo plano

19 de Agosto de 2011
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

No governo passado, como chefe do Executivo federal o Brasil teve a figura quem, com base em suas declarações orgulhosas de que não tinha passado além do curso primário e era presidente da República, fazia pouco do conhecimento acadêmico. Poderão dizer cientistas sociais de botequim, que ele era, ou é,  vítima do sistema, que não teve oportunidade para estudar, e coisa e tal; por isso, chegou não teve oportunidade para estudar. Mas esse argumento não cola e tem em contraposição inúmeros exemplos de pessoas, cujo passado é marcado pela pobreza e dificuldades de toda espécie e hoje estão em posições de vanguarda, titulados e a oferecer sua contribuição para a evolução da sociedade humana.

Se tinha ambições políticas, e tinha, tendo isso explicitado logo ao iniciar sua carreira sindical; mais razão para que cobrasse de si próprio o alargamento do conhecimento. Depois que se embrenhou pela via sindical, tempo e recursos financeiros não lhe faltaram para que se aprimorasse, adquirindo melhor status para assumir a posição ambicionada. Aliás, em seu próprio ministério ponteou pessoa, que passou por muitas necessidades materiais, tendo que exercer trabalhos humildes para se sustentar, só se alfabetizou aos dezesseis anos e, depois disso, alçou-se à posição conferida pelos estudos acadêmicos. Mesmo entre aqueles que, por força de circunstâncias diversas, não cursaram escola superior, muitos se destacam mediante esforço próprio, autodidatas que são, de olhos nos livros e a seguir pegadas de bons exemplos dentro do seu círculo social. Portanto, pobreza e necessidade de trabalhar muito cedo podem ser obstáculos, de certa forma transponíveis, mas não constituem desculpa absoluta para não estudar.

O então presidente não lamentava o fato de lhe faltar preparo escolar, mas disso se vangloriava, atropelando palavras e gramática nos discursos, causando constrangimentos e situações embaraçosas, por sua falta de tato em momentos delicados, incluindo-se atos de natureza diplomática. Faltavam-lhe o conhecimento e o polimento tão necessários a quem ocupa altos postos na vida pública!

Se seu governo foi uma prova na vida política do país, assim com o são vicissitudes na vida de indivíduo, dito predestinado a grandes realizações, o Brasil a venceu e, no campo educacional, esperava-se que ventos mais alvissareiros soprassem, garantindo melhor preparo aos seus cidadãos. Portanto, caiu como desilusão sobre a cabeça de professores da Língua Portuguesa e de educadores responsáveis a aprovação, pelo Ministério da Educação, de livro a apontar como certo o falar estropiado, em confronto com a gramática, próprio de pessoas incultas, que não frequentaram escola ou dela não fizeram bom proveito. A decisão favorável à aceitação oficial da fala errada é de tal incoerência só admitida em alto grau de “sensibilidade alcoólica” (expressão cunhada por amigo para definir embriaguês em figurões). Se correto o falar errado, para que então se ensinar Português? Para que anos de estudo no preparo do professor da língua nacional? Em tudo há regras a serem seguidas, para que o bom, o melhor, o ótimo, o excelente se manifestem nas variantes das realizações humanas, incluindo-se a comunicação por meio da linguagem vernácula, falada e escrita. Ao que não assimila, na escola, o uso do correto do idioma pátrio, não será cancelada a identidade nacional ou negados os direitos de cidadania, mas a escola não pode induzi-lo à negligência no aprendizado. Cabe a cada aluno e cidadão, o direito de aplicar ou não o que lhe foi ensinado, mas o educador se obriga a repassar o melhor e, para isso, deve contar com os melhores instrumentos, entre estes, os livros.

A seguir por essa linha oficial, teme-se a aceitação do falar errado transposta para a área criminal, aceitando-se também o furto e o roubo com parte do comportamento normal. Em parte, isso já acontece, deixando-se de recolher à prisão culpados por crimes,ditos menores, puníveis com até quatro anos de cadeia. Só falta mesmo a anistia prévia, para que todos possam se locupletar à vontade e à custa do esforço alheio, ao modo já praticado por políticos desonestos.

De volta à questão do Português, foco a atenção sobre a palavra "presidenta", preferência da suprema mandatária para o título do cargo que ocupa, na condição de mulher. A questão tem dado pano para manga, constituindo-se em polêmica a envolver a presidente e respectivo círculo de puxa-sacos, de um lado, e críticos, incluindo-se imprensa, de outro.Como particípio ativo do verbo presidir, presidente é comum de dois (masculino e feminino ao mesmo tempo) e não caberia o vocábulo presidenta mas, ainda que grande parte proteste, a preferência da presidente tem respaldo nos principais dicionários brasileiros, que o registram sem ressalvas, e no português Prebiram, que diz ser pouco usado. Contudo, presidente, dicionários e ditos puxa-sacos são mandados às favas pelos defensores da língua, que preferem seguir regra geral para os particípios ativos e rejeitam presidenta como termo exótico e pejorativo.

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