Saco sem fundo

13 de Agosto de 2011
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Finalmente ficou explicada a precariedade da malha rodoviária brasileira, exaustivamente denunciada, há anos, pela mídia e por usuários vítimas de suas armadilhas. O cidadão comum, calejado por ouvir e falar e acompanhar, no noticiário, escândalos com foco na corrupção e “maracutaias”, já desconfiava, mas a decência impedia a leviandade da acusação sem provas. Faltava investigação que comprovasse as suspeitas! Manobras de interesses partidários e falcatruas, na cúpula do Ministério do Transporte, incluindo-se o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes-DNIT, órgão responsável direto pela construção, manutenção e administração das rodovias federais.

Em fila, puxada pelo próprio ministro, várias cabeças rolaram, e outras poderão ainda rolar se o cerco se apertar. Sabendo-se que, no Brasil, dificilmente se consegue provar a culpa de agentes públicos, protegidos pela couraça do corporativismo e leis dúbias, o fato de tanta gente ter sido afastada aponta para o acerto das suspeitas, a princípio levantadas na opinião pública. Não seria possível caos tão generalizado nas rodovias, se a mão do gato não estivesse se metendo no caminho dos recursos! Se não bastassem os “mensalões” e outros atos corruptos, no governo passado, que se pensava terem se esgotado no seu tempo de denúncias, sabe-se agora que nem tudo se revelou da sujeira, ficando boa parte para se descobrir neste governo.

Embora a maior parte dos acidentes rodoviários se dê por imprudência e imperícia do condutor, impute-se aos ora demitidos da estrutura do Ministério dos Transportes a responsabilidade sobre os causados por erros de construção e falta de manutenção nas rodovias. Quantas vidas se perderam e quantas perderam qualidade, sem falar em perdas materiais, porque recursos não chegaram onde problemas gritavam e ainda gritam por solução! E não há necessidade de se deslocar muito para encontrar pontos críticos a merecer cuidados das autoridades e técnicos rodoviários, encontrando-se a meio caminho entre Cachoeira do Campo e Ouro Preto a tristemente famosa curva da Caieira, na Rodovia dos Inconfidentes. São tão frequentes os acidentes naquele local que, quando se fala em desastre neste trecho da BR-356, lembra-se logo da curva da Caieira. Pouco abaixo daquele ponto está o acesso ao distrito de Rodrigo Silva, também considerado perigoso, embora não se registrem nele tantos acidentes quantos no anterior. O trecho urbano da rodovia, em Cachoeira do Campo, já deveria ter recebido intervenção técnica para sanar os pontos críticos, mas só recebe “atenção” em períodos pré-eleitoreiros sob a forma de medições, que se repetem de tempos em tempos, para duplicação de sua faixa, que só existe nos planos de engodo com vistas à captação de votos. Medições efetuadas ao longo dos anos, se somadas, dariam para ir à lua e voltar! Abaixo de Cachoeira, outro ponto crítico é o acesso ao perímetro urbano do distrito de Amarantina. Também ali, muitos acidentes causaram derramamento de sangue e de lágrimas!

Completam-se, agora, dois anos da reunião em que representante do DNIT, diante do vice-prefeito de Ouro Preto, comando da Guarda Municipal e lideranças locais, prometeu solução paliativa até o final daquele ano, enquanto se aguardaria projeto definitivo a se executar no ano seguinte (2010). Nada foi feito para a segurança dos usuários da Rodovia dos Inconfidentes e para a população assentada às suas margens. O que se vê é implantação da chamada fiscalização eletrônica que, nada mais é do que o braço arrecadador a alimentar o saco sem fundo da administração pública; recursos que poderão também cair nas malhas da corrupção desenfreada.

Registre-se ainda que, desde 2008, arrasta-se a passos de tartaruga, em Cachoeira do Campo, a construção da estação rodoviária, equivocadamente denominada terminal. De 2005 a 2008, muita conversa e ação na Justiça, para desalojar invasores da área municipal e da faixa de reserva do DNIT, sustentaram a ansiedade da população com relação à estação rodoviária, obra há muito reclamada. Iniciada em 2008, sofreu paralisações, voltou a ser executada, mas em ritmo tão lerdo que se teme por seu abandono definitivo, embora placa, à parte, anuncie que ali há aplicação de verba federal. Some-se a esses problemas locais, o desvio do tráfego da BR-381 para cá, por incúria do DNIT, que deixou ponte se abater por falta de inspeção e manutenção, enquanto a duplicação daquela rodovia não se faz por falta de vontade política. Reconhece-se que a Região dos Inconfidentes não é “privilegiada” pelo descaso da política rodoviária e dos transportes, mas causa indignação saber que tudo isso acontece, em parte, tendo como causa a desonestidade instalada na cúpula do Ministério dos Transportes.

E, bem esmiuçados os fatos, ver-se-á que, por trás de tudo, estão interesses político-partidários, único objetivo a mover políticos profissionais neste país. Verdadeira democracia e transparência na administração pública só existirão quando a Política for praticada diretamente pela sociedade organizada, sem a interveniência de partido. Partidos políticos já fizeram mal demais à humanidade!

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