Em meio aos protestos, persistem as indagações

14 de Julho de 2013
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Mauro Werkema

Há amplo consenso de que as manifestações populares vão continuar, como mostram as últimas movimentações e previsões. Mas são muitas as indagações sobre os desdobramentos deste momento histórico, quanto às ocorrências e possibilidades de transformações reais, concretas e conseqüentes, como desejam as ruas e a quase totalidade do povo brasileiro. Será feita realmente uma reforma política que extinga todas as mazelas do Parlamento e da vida pública brasileira? O Congresso, e os políticos, terão outro padrão moral e ético de conduta e estarão realmente a serviço dos interesses nacionais? A saúde, a educação, os transportes públicos, os serviços públicos em geral vão melhorar? A corrupção será extinta no Brasil, pelo menos na sua forma endêmica? Teremos um novo padrão de governabilidade, em que o dinheiro público realmente será aplicado, na sua totalidade, em obras e ações de interesse da população?

E a Copa do Mundo, de 2014, realmente vai acontecer, com menos arrogância e lucratividade para a Fifa e alguns cartolas do futebol brasileiro?

As perplexidades são muitas. Mas, quanto aos protestos, há também algumas indagações. Conseguirão evitar as depredações, inúteis e desgastantes, impedindo os vândalos de desfigurar os protestos? Vão surgir lideranças, que falem pelos diversos movimentos envolvidos? Ou vão permanecer, um tanto anacronicamente, com o slogan dos famosos protestos da “Primavera de Paris”, de 1968, que era “É proibido proibir”. Todos sabem que os protestos podem levar a reais mudança, mas é preciso que tenham maior precisão, indicando metas além da redução das passagens de ônibus, de resto já implantadas em praticamente todas as capitais do Brasil e em várias cidades do interior. Mas a “caixa presta” dos concessionários do transporte coletivo ainda não foi aberta e seus custos e lucros não estão demonstrados, embora se trate de serviço público de primeira necessidade e que penaliza a população mais pobre.

Mas a constatação histórica, que precisa ser lembrada, é que foi nas ruas e praças públicas, em 1967, quando se lutou contra a ditadura implantada pelo golpe militar de 64, como também nas lutas pelas “diretas-já”, nos anos de 83 e 84, e ainda em 1992, no impedimento de Collor de Melo, que se conseguiram transformações. Pela via que seria natural, por atos do Congresso Nacional, nada se conseguiria. Nem o voto aberto. E, como demonstram as últimas atitudes, mesmo com os protestos será difícil alcançarmos mudanças mais avançadas. Por si o Congresso não fará reforma política que elimine seus privilégios, altos salários, mordomias. E que efetivamente trabalhem todos os dias da semana. Basta lembrar que estão no Congresso 27 partidos políticos, quais cerca de 20 são de aluguel, meros negócios, destinados a criar empregos, corrupção. E nenhum compromisso público.

A presidente Dilma está visivelmente atabalhoada. Lançou a idéia da Constituinte sem consultar sua base parlamentar, já frágil. Adotou o plebiscito da mesma forma, em ato unilateral, sem maior exame de sua viabilidade, inclusive quanto à sua realização este ano para produzir efeitos em 2014. Para dar uma resposta às demandas da saúde adota um prolongamento dos cursos médicos em mais dois anos, em proposta um tanto obscura, logo contestada. Desistiu de trazer médicos do exterior. E parece que não tem caminhos objetivos, nem audácia de propor medidas realmente transformadoras, como, por exemplo, reduzir os exorbitantes 39 ministérios. Este número expressa o mal maior do governo de coalizão, em que os partidos, cada um deles, se torna dono de um ministério, onde emprega seus apaniguados e usufrui de suas verbas. E assim, se tornam donos do poder e do orçamento público.

E a indagação final é justamente o que acontecerá neste país nos próximos anos. Dilma terá condições de se reeleger? A oposição está se fortalecendo, em meio aos protestos, a ponto de garantir sua vitória eleitoral? As mudanças que deverão ser feitas vão acalmar as ruas? Ou, como é clássico na História do Brasil, vamos assistir mais uma vez prevalecer o “pacto das elites”, ou seja, conceder algumas reformas cosméticas para conservar o poder, evitando rupturas políticas, econômicas e sociais, em direção a uma sociedade mais justa e igualitária? E os partidos políticos, todos defasados, serão sucedidos por novas agremiações, com desenho ideológico e doutrinário, conteúdos programáticos, integrados por cidadãos de bem? Até agora, dominam os protestos os estudantes, os mais jovens, mas até quando o conjunto da sociedade, também indignada, irá tolerar a situação antes de ir para as ruas, propondo transformações verdadeiras, através de um programa objetivo? Este é o momento que vivemos.

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