Sociedade perdeu a confiança nos governos e nos políticos

21 de Julho de 2013
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Entre as muitas tentativas de interpretação do momento brasileiro, e especialmente as manifestações de protesto, que alcançam praticamente todas as grandes cidades e parecem ter a adesão da quase totalidade da sociedade brasileira, é dominante a que diz que há uma espécie de esgotamento, cansaço, desconfiança generalizada, rejeição a todas as lideranças políticas e governamentais, e também às instituições públicas governamentais. Políticos, principalmente, perderam a confiança dos cidadãos, sejam parlamentares ou governantes, tamanhos os desvios, corrupção, falta de compromisso com os verdadeiros interesses da sociedade, o comprometimento da representação política com interesses pessoais.

Esta parece ser a questão básica, a explicar e sustentar o descontentamento geral. As manifestações, as que têm comparecido às ruas e praças, em geral são integradas por jovens, com maior liberdade e mobilidade, mas é inegável que têm o apoio amplo da sociedade, descontente com a ordem política, econômica e social. E o que é importante é que os protestos de descontentamento são um fenômeno mundial. Na Europa, praticamente todos os países, submetidos a crises recessivas, restringem empregos e a atividade econômica. Em outros países, como no Egito, na Turquia e em vários países do Oriente Médio, a insatisfação se amplia quando se trata de contestar regimes ditatoriais, alguns já derrubados, mas substituídos por outros títeres, que em nada têm avançado ou transformado.

Esta questão é básica na análise dos rumos da sociedade brasileira. A insatisfação não será vencida com algumas reformas superficiais. Questiona-se o próprio sistema representativo. E a qualidade dos homens que hoje estão nos parlamentos. Questionam-se métodos de governo. Cobram-se medidas radicais de distribuição de renda, de atenuação dos desníveis pessoais e regionais de renda. Contestam-se os governos ineptos, em que a governabilidade é nula. E todos querem saber para onde vai o dinheiro público, não só os desvios de corrupção, mas os que são empregados em projetos duvidosos. Todos querem ver corruptos e corruptores na cadeia, o que ocorre raramente no Brasil. Poucos, ou quase nenhum corrupto, está na cadeia. Mas acontece que são centenas, apontados diariamente pela mídia, também sob contestação por não estarem inteiramente a serviço dos reais interesses públicos ou nacionais.

Cresceu extraordinariamente a consciência popular sobre as mazelas brasileiras. Não se acredita que por via legislativa ocorrerão reformas e mudanças desejadas. Deputados não vão votar contra si mesmos e cortar seus tremendos privilégios. O governo não ganhará governabilidade de uma hora para outra. A corrupção, endêmica, não será extinta facilmente. O Brasil melhorou seu perfil de renda, com a elevação das classes menos favorecidas, mas persistem questões como a mobilidade urbana, a melhoria da saúde, da educação, da moradia. A consciência ampliada, a cobrança que agora chega às ruas, certamente provocará mais temores aos corruptos, aos políticos insensíveis, aos aproveitadores e negocistas, às atitudes corporativistas. Enfim, a sociedade brasileira quer passar a limpo tudo isto. Se as manifestações vão continuar, se as mudanças efetivamente serão feitas, se vamos conseguir um novo Brasil, mais justo, mais honesto, com governos sérios e eficazes, são ainda incógnitas que só o futuro dirá. Esperemos, mas com a confiança renovada pelas ruas.

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