Ouro Preto, é preciso pensar a crise e o futuro da cidade

19 de Fevereiro de 2015
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

É hora de uma reflexão mais profunda sobre Ouro Preto e seu futuro. A crise que atinge a sociedade brasileira, na sua totalidade, tem repercussões específicas e mais graves na cidade histórica que possui o título de Patrimônio Cultural da Humanidade e, por isto, merece atenção especial de todos nós. Em primeiro lugar, o que pode ser a pior constatação, a cidade não possui qualquer plano, programa ou diagnóstico sobre seu futuro, prevenção de crises ou mesmo a mínima visão estratégica, de médio e longo prazo, sobre seus diferenciais, seus atrativos, suas vocações, seus caminhos de competividade, onde investir, como substituir empregos perdidos ou priorizar carências. E a crise atinge diferencialmente Ouro Preto, com a retração da mineração e a drástica redução do royalty do minério, a falta d’água e a imensa deficiência do sistema de captação e distribuição, quadro agravado peladificuldade de encontrar novas fontes em curto prazo, aperda de empregos industriais, a redução geral da atividade econômica e a queda no turismo, entre outras questões, como o congestionamento urbano, crescimento desordenado e muito mais.

Lembro-me que por volta de 1994, a Prefeitura por iniciativa do então secretário de Planejamento, Flávio Andrade, encomendoudiagnóstico da economia ouro-pretana a técnicos da Fundação João Pinheiro. O estudo foi claro: Ouro Preto tinha duas vocações compatíveis com a cidade histórica, que abriga acervo cultural de renome mundial e que, por seu traçado e características geográficas,exigia planejamento singular e específico. Era a Educação e o Turismo. Ouro Preto, pela UFOP e Escola Técnica, é polo educacional importantíssimo, destinado a expandir-se como efetivamente ocorreu nos últimos anos, mas não agregou ainda tudo o que poderia com seu conhecimento acadêmico avançado, em planejamento urbano, gestão pública, saúde pública, atração de investimentos, desenvolvimento de incubadora de novos negócios, defesa ambiental e muito mais em todos os campos em que tem especialidade. Antes, agravou vários aspectos da vida ouro-pretana.

Todos sabemos que o turismo é muito mal explorado em Ouro Preto. Persiste o amadorismo. Pouco, nos últimos anos, a cidade se beneficiou do crescimento do turismo nacional e mundial. Não tem planejamento mínimo que permita um sistema turístico promocional ou receptivo, a altura do renome mundial e da exemplaridade dos seus atrativos. Não há programas consistentes que contemplem a qualidade dos produtos, atrativos, recepções, guias ou agarantia da qualidade dos serviços prestados. Os órgãos municipais do turismo são pateticamente despreparados para receber visitantes especiais, formadores de opinião e dezenas são os casos de mau atendimento, de desencanto ou mesmo de achaques por falsos guias, que atacam os visitantes. Não há folheteria turística ou cultural ou roteiros pré-estabelecidos conforme a modernidade das necessidades de visitantes mais exigentes. Os esforços realizados são isolados ou casuísticos e as melhorias, que existem, não acompanham a evolução das motivações turísticas.

Não é necessário falar que a crise que se prenuncia atingirá Ouro Preto dramaticamente. A falta d’água já existe há bastante tempo. E pouco ou nada se fez para aplacar o sofrimento de amplos setores da população, da cidade e dos distritos. A Copasa não mais se interessa por operar Ouro Preto pelo alto custo do investimento. E a cidade resiste à hidrometração que a Copasa tem que implantar, para medir a perda e por exigência de seus financiadores, como o Banco Mundial e o BID, como também seus acionistas. A crise atingirá também o fornecimento de energia elétrica, no suprimento e no preço. Vai restringir a atividade econômica. A última indústria, a ex-Alcan, fechou as portas. E também a ferro-ligas. Nos últimos anos não se cuidou de incentivar novas atividades industriais e o royalty do minério foi criado para isto. E a UFOP, que se beneficia da cidade, com moradia e serviços públicos, setores em que não precisa investir, também não participa dos esforços de pensar o futuro da cidade, embora tenha conhecimento para tal.

Então, cabe à pergunta? Como estará Ouro Preto daqui a dez anos? Estará aproveitando a grande riqueza do turismo, que já transformou destinos até menos importantes do que Ouro Preto em cidades mais ricas? E a UFOP, que trouxe para Ouro Preto cerca de oito mil novos moradores, entre alunos e professores, sem construir novas moradias, que papel socioeconômico terá na cidade que a abriga? É hora de pensar a realidade atual e a extensão das dificuldades no futuro próximo. E elaborar o que poderia ser o futuro desejável a partir das potencialidades e vocações da cidade. Ouro Preto tem prestígio para convocar a UNESCO, o IPHAN, o IEPHA, a Secretaria de Estado da Cultura e a de Turismo, lideranças da cidade, grandes empresas, como também a UFOP e até a UFMG, para uma grande reflexão sobre o seu futuro. Esta é uma questão que interessa à Humanidade.

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