Encerrada a Copa, é hora de pensar nas eleições

20 de Julho de 2014
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Esperamos que a grande decepção com a Seleção Brasileira, com a desastrosa derrota frente à Alemanha, não se transfira para as eleições marcadas para 5 de outubro próximo. E que o debate político, essencial à vida de todos nós, adquira substância e conteúdo e possa clarear o eleitor quanto à sua escolha. Até agora, segundo as pesquisas, são elevados os índices dos indiferentes, ou seja, dos que não têm opção ou intenção de voto, desinteressados na vida política brasileira, seja por desinformação crônica ou porque não veem nos candidatos e no exemplo dos políticos atuais qualquer motivação para esta atividade. Realmente o quadro eleitoral é pobre de pessoas e ideias, o que explica e até justifica o desinteresse, mas o pior é o afastamento, a abstenção do direito básico do cidadão de escolher bons representantes, o que é absolutamente essencial neste momento histórico da vida brasileira.

No quadro nacional, três candidatos se colocam: a presidente Dilma Rousseff (PT) disputa a reeleição e ainda lidera as pesquisas de intenção de voto. Mas perdeu apoios e torna-se óbvio que terá que apresentar, na campanha, propostas além da mera continuidade, especialmente as que dizem respeito à reforma e evolução do seu governo, formado por uma ampla frente de partidos, chegando a 39 ministérios. Na verdade, o País já não suporta mais a prática do chamado “governo de coalisão”, que reduz a governabilidade e só serve aos partidos e aos políticos interessados na simples manutenção do poder e nas suas benesses. Terá a presidente Dilma, sobretudo, que convencer que tem condições de retomar o crescimento econômico, combater a inflação, manter os programas sociais que tem segurado o apoio ao seu governo e ao seu partido. Terá que anunciar um novo governo, pois o atual é mal avaliado.

Seu principal adversário, o senador Aécio Neves (PSDB) precisará crescer muito nas pesquisas, vencendo uma estagnação nas intenções de voto, consolidando, pelo menos, um quadro em que poderá ir para o segundo turno. Aécio já armou sua campanha, tem mostrado grande mobilidade, visitando todo o território nacional, reforçou sua presença em São Paulo, precisa conquistar eleitores no Nordeste e até em Minas Gerais e no Rio, onde as pesquisas mostram presença significativa também da presidente Dilma. Aécio precisa, fundamentalmente, conforme demonstram as análises mais profundas das pesquisas, de apresentar um programa de governo mais convincente, mais ousado, efetivamente transformador, que alcance as classes populares como também os segmentos mais progressistas e à esquerda. O PSDB, que assumiu perfil conservador, neoliberal, encontra resistências por parte do eleitor que tem preocupação social e quer propostas mais transformadoras.

O candidato Eduardo Campos (PSB) que se apresentou inicialmente como uma terceira via, não convence. Não conseguiu mostrar qual é esta via e seu partido, como também o da sua vice, Marina Silva, se perdem por indefinições programáticas e discussões políticas inconsequentes. Eduardo queima o PSB, partido que deveria pregar o Socialismo Democrático, que tem na solidariedade e a fraternidade entre os homens, na paz através da justiça social, conceitos da modernidade política e ideológica. Infelizmente, o PSB dá ao País, no momento, o pior exemplo de que como a política no Brasil é mero e negativo jogo de busca do poder, sem ideias ou ideais. Eduardo terá votos somente em Pernambuco, que governou com amplo apoio do PT, o qual agora abandonou.

Ver a decepção dos brasileiros no Mineirão nos diversos momentos em que a Alemanha, de maneira implacável, ia marcando os seus sete gols, foi triste. O povo brasileiro, alegre, sorridente, paramentado com as cores de sua Seleção, homens, mulheres e jovens, estampavam a sua decepção e tristeza face ao que assistiam, assustados e confusos, sem entender o fenômeno. O entusiasmo com sua Seleção vencera o pessimismo e o catastrofismo da imprensa conservadora que anunciava apagões, surto de dengue, falta de energia, estádios inconclusos e perigosos, aeroportos ineficientes e um fracasso geral da Copa. Mas o que se viu foram os elogios de todos os estrangeiros, não só para os equipamentos esportivos mas com a recepção em geral, especialmente a hospitalidade. Tentou-se politizar a Copa e transformá-la em arma de luta eleitoral, contra o Governo Federal e a presidente Dilma. Vencido este pessimismo politizado, esperamos que a grande decepção com a Seleção de Felipão não se transfira para o eleitor, o cidadão, que precisa agora voltar-se para a eleição, exercendo a legítima e fundamental ação do voto. A classe política atual não está à altura do que o País demonstrou com a vitoriosa preparação para a Copa. E que acabou demonstrando que é preciso também evoluir na preparação da Seleção, da escolha de jogadores, dos esquemas táticos.

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