Estudantes

07 de Julho de 2013
Valdete Braga

Valdete Braga

Há coisas que não dão para acreditar. Não faz muito tempo estávamos travando debates sérios sobre a questão do abuso, sem generalizar, dos estudantes com som alto, bebedeiras, perturbação da ordem pública, etc. Usei o verbo no plural propositadamente, pois participei ativamente destes debates, sempre tomando o cuidado de, ao usar a palavra “estudante”, usar também outras duas: “sem generalizar”. Alguns usavam a palavra “guerra” entre a população e os estudantes, em um exagero justificável, porque quando as coisas se acirravam, costumava haver exageros.

Isso foi há bem pouco tempo, e ainda acontece. Algumas repúblicas (eu disse algumas) exageram mesmo, e a população tem todo o direito e até o dever de reclamar. Precisamos levantar cedo, trabalhar, não dá para ficarmos à mercê de festas, bebedeiras e sons berrando a noite inteira. Alguns, gente, alguns!

Atualmente vivemos outro tipo de crise, com toda esta história de aumento de passagens, protestos, etc. Aí, a mesma população (lá vêm as duas palavrinhas de novo, sem generalizar) desce o pau nestes mesmos estudantes por eles estarem lutando por todos nós. Não só os estudantes, que fique claro. Este assunto interessa a todos os cidadãos. Mas os estudantes, estes mesmos dos quais reclamamos, com razão, diga-se de passagem, dos abusos pela cidade, chamam movimentos, estão acampados na porta da Prefeitura, estão agindo, à maneira deles, mas estão fazendo alguma coisa, dentro do que acreditam.

Aí as mesmas pessoas (será que é preciso escrever “sem generalizar” mais uma vez?) que os criticavam pelos abusos, começam a reclamar o direito de ir e vir, a democracia ultrajada, etc, etc. Cheguei a ouvir uma pérola, digna de publicação: “no primeiro dia eu apoiei o movimento, mas no segundo dia me atrasei para o trabalho por “culpa” dos estudantes que fecharam a rua”. Então é assim? Quando é do interesse somos todos solidários, apoiamos, o movimento é justíssimo e o aumento das passagens um abuso. Quando de alguma forma somos prejudicados, estes estudantes não têm o que fazer, estão tolhendo o nosso direito de ir e vir (já cansou essa expressão) e somos umas pobres vítimas do movimento.

Fica difícil, assim. Não dá para querer só os louros. Tudo exige sacrifício, e sacrifícios de todos. Aqueles jovens estão lá, acampados, reivindicando por nós também. Não pedem diminuição do preço das passagens só para eles. Se houver ganhos, haverá para todos. Assim como brigamos quando cometem excessos, e temos de brigar mesmo, também devemos apoiar quando a luta é justa. Melhor dizendo, devemos respeitar. Mesmo aqueles que por acaso não concordem com o movimento, não têm o direito de sair metendo o pau. As manifestações em Ouro Preto estão ordeiras, pacíficas como devem ser. Sem vandalismo ou badernas, como vemos em outros lugares. Será assim tão difícil dar uma volta maior, sair de casa mais cedo, para ajudar?

O meu direito de ir e vir é sagrado, ninguém nega isso. Mas se eu mesma optar por fazer um sacrifício necessário, ninguém o está violando. Por outro lado, se eu não puder abrir mão do mínimo da minha rotina, também não posso exigir nada.

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