Muita paz, querido Roberto

01 de Julho de 2013
Valdete Braga

Valdete Braga

Hoje eu perdi uma pessoa muito querida. Inspiro-me na definição que o meu eterno ET, Oswaldo Montenegro, faz da Madalena, para descrevê-lo: primeiro fomos namorados, depois nos tornamos amigos, e hoje somos irmãos. Aliás, quero modificar a primeira frase: não o perdi. Jamais o perderei.

Em BH, na hora de protestos, tumultos, jogo Brasil X Uruguai, ele, aos 48 anos, tranquilamente em sua poltrona, sentiu uma pontada no peito, chamou a esposa, também grande amiga, e quando ela chegou na sala estava morto. Morto? Jamais. Pessoas como o Roberto não morrem nunca, aposto que o danadinho está bem aqui, empurrando os meus dedos em direção ao teclado. Nenhum ser humano é perfeito, mas ele foi o mais próximo disto que conheci. Cavalheiro, gentil, honesto, marido exemplar, pai adorado pelos filhos, e amigo... meu Deus, se todos na vida tivessem a sorte de ter um único amigo como ele, como o mundo seria melhor!

Não passou por aqui para ficar muito tempo mesmo. Este não é o mundo dele. Na semana passada, vivendo uma situação simplesmente inusitada, ele e a Marina, sua esposa, vieram ver-me. Eu havia chorado e ele me disse uma frase que mudou todo o contexto do que eu sentia: “lágrimas não devem ser desperdiçadas. São nossos sentimentos em gotas, e quem não merece nossos sentimentos, não as merecem”. Achei tão lindo e principalmente, tão verdadeiro, que a pessoa que me fazia sofrer naquele momento simplesmente deixou de existir em minha vida.

Roberto era assim. A palavra certa, na hora certa. Às vezes puxava as minhas orelhas, também. “Você precisa parar de ficar se explicando. Deixe pensarem o que quiserem, só Deus pode nos julgar”. Lembro-me disto tudo agora, e a talzinha que me importunava tornou-se tão insignificante diante de minhas lágrimas! Tão pequena, covarde, diante de um gigante em sentimentos como o meu amigo! E eu tão feliz por ter alguém assim em minha vida! Não pude ir para o velório devido à confusão no trânsito, mas vou me despedir dele por aqui. Ainda acho que o meu querido amigo está por perto.

Diante disso, pra que tanta vaidade e tanto orgulho nesta vida, meu Deus? Pra que valorizar tanto o negativo, picuinhas, vinganças... não quero cair no lugar comum, mas algumas frases lugares-comuns são muito reais. Se alguém veio a este mundo para fazer o bem foi o meu querido amigo. E eu sou tão abençoada, que Deus me colocou no caminho dele. O resto é resto!

Querido, siga o seu caminho em paz, que você tem muito o que fazer por nós daí de cima. O Pai Maior não lhe chamou à toa. Imagino o quanto ele deva precisar de pessoas como você. Assim como você ajudou a tantos aqui, aí vai receber os que chegam em sofrimento, ajudar os que ainda não entenderam, dar apoio aos que não aceitam. É o seu destino. Siga-o, sempre em paz. Prometo cuidar da Marina e das crianças, assim como vocês cuidaram de tanta gente.

Minha querida Marina, estou aqui em orações por vocês todos. Agora o Roberto deve voltar para se despedir de vocês, porque já me acordou de madrugada e ajudou-me a escrever esta crônica. Que Deus lhes dê força, conforto, e acima de tudo, entendimento. Tudo é como deve ser.

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