Expectativa e decepção

26 de Maio de 2017
Valdete Braga

Valdete Braga

Existe uma linha de pensamento que divulga que quando nos decepcionamos com alguém a culpa não é da pessoa, e sim nossa, porque fomos nós que criamos expectativas às quais a pessoa não correspondeu.

Não concordo. Obviamente há casos e casos, mas este pensamento é exceção e não regra. Quando nos decepcionamos, geralmente, é pela atitude, ou decisão, ou pensamento do outro, e não podemos nos responsabilizarmos por ele. Vejo nesta “mea culpa” um certo masoquismo, como se devêssemos tomar para nós todas as dores do mundo.

Como já disse, há casos e casos, e é possível, sim, em alguma situação, esperarmos de alguém mais do que a pessoa possa dar. Mas na maioria das vezes não é assim que acontece. Há pessoas que traem, que enganam, manipulam, por interesse próprio, e não porque nós colocamos expectativas nela. Outros simplesmente nos abandonam, ou mudam de idéia, sei lá. São várias as reações que podem decepcionar, umas mais seriamente, outras menos.

Expectativas todos temos, e quanto mais gostamos de alguém, mais acreditamos na pessoa. Isto é natural. Mas não quer dizer que se ela pisar na bola a culpa é nossa. Se formos seguir esta linha de raciocínio, estaremos sempre com o pé atrás e jamais confiaremos em ninguém, porque toda confiança gera expectativa. Então, para não sentirmos culpa, devemos parar de confiar, de acreditar, de gostar? Eu me recuso. Quando confio me entrego de coração, e quando me decepciono, não procuro a culpa em mim. Pode até acontecer, mas é muito raro.

Passei por isto duas vezes em relativo pouco tempo, sendo que a última foi super recente. Senti tudo, menos culpa. Surpresa, decepção, mágoa, mas culpa.... nunca. O erro não foi meu. Eu não criei expectativas. Tratava a pessoa como ela me tratava e imaginava, como não podia deixar de ser, que ela me via da forma como me tratava, super bem. Quando eu descobri como ela realmente me via, a decepção foi enorme. Como eu posso me culpar por isso? Como posso trazer para mim a responsabilidade, sob o argumento da expectativa gerada?

Eu não gerei expectativa nenhuma, ela é que não me conhecia e eu achava que sim. Foi um engano, que pode acontecer com qualquer pessoa e que, aliás, vive acontecendo. A gente pensa que é uma coisa e é outra, pensa que é de um jeito e é de outro, pensa que é vista de uma forma e é de outra... acontece. E, logicamente, quando descobrimos vem a decepção, e a dor da decepção é uma das piores que a gente experimenta. Não há como se culpar por isto.

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