Falta do que fazer, falta de atenção e falta d’água outra vez

11 de Fevereiro de 2015
Jornal O Liberal

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Bater papo, levar um lero-lero, ou seja, conversar, o mais antigo sistema de comunicação humana, está cada vez mais perigoso, se considerado o descompromisso de pessoas com a ética e a lealdade, sobretudo em tempo de tantos avanços tecnológicos nos meios de comunicação. A verdade, simples e clara, dita pela manhã a uma pessoa, se não bem conhecido seu caráter, pode se tornar monstruosa mentira até a noite. É a velha história de “quem conta um conto aumenta um ponto”! Se dito pela manhã que “o rato roeu a roupa do rei de Roma”, é possível que, até ao meio-dia a frase em circulação já seja “o rei roeu a roupa do rato de Roma”. Até noite, não se sabe como ficará! É parte da natureza humana essa particularidade de alterar relatos orais, em sua disseminação espontânea. E quanto mais tempo de circulação e maior público atingido, maiores são as alterações no relato.

A coisa, agora, se complica porque não mais é o dito que se altera enquanto se espalha; é o fato, não acontecido, que se cria em cabeça carente de juízo e do que fazer, para infernizar a vida ou simplesmente ridicularizar a figura do próximo.

Dias destes últimos, proprietários fecharam seu estabelecimento comercial e viajaram, porque era janeiro e ninguém é de ferro. Afinal, férias é direito de todos! Foi o bastante para boato se criar e se espalhar, rapidamente, dizendo que o estabelecimento fora fechado por agentes da Vigilância Sanitária e multado em grande soma. Para tais mentalidades deformadas, porta comercial se fecha somente por ação fiscalizadora! Que se cuidem comerciantes que fecham as portas para o almoço!

Pouco ou nada se pode fazer contra esse tipo de ação predatória, ficando o alvo do boato à mercê das consequências, que podem ser as piores possíveis. O mesmo problema pode se dar quanto à palavra escrita, razão pela qual quem escreve tem que estar atento a eventual intervenção que, malgrado intenção corretiva, carece de prévia atenção ao sentido do texto, que acaba prejudicado. Contudo, o que está grafado pode ser reescrito posteriormente, desfazendo assim males entendidos, oriundos do acréscimo ou supressão de uma vírgula. E é justamente a desfazer equívoco, que o titular desta coluna tenta junto a quem a lê, depois de ligeira intervenção revisora efetuada no texto da edição O LIBERAL nº1129, semana passada. No quinto parágrafo da coluna, na referida edição, o autor escreveu: “Se não variação climática planetária (em alusão ao dito no final do primeiro parágrafo), a espécie humana pode ter rompido o equilíbrio e a natureza reage, na tentativa de restabelecê-lo; daí Minas Gerais, a chamada caixa d’água do Brasil estar praticamente seca, em plena estação chuvosa.” E O LIBERAL publicou: “Se não houver variação climática planetária, a espécie humana pode ter rompido o equilíbrio e a natureza reage, na tentativa de restabelecê-lo; daí Minas Gerais, a chamada caixa d’água do Brasil estar praticamente seca, em plena estação chuvosa.

O revisor cochilou na leitura do texto e escorregou ao introduzir o verbo “haver” no futuro, erro que não teria se configurado se a inserção do mesmo fosse no tempo passado (houve). O autor preferiu deixar o verbo (no passado) oculto, uma vez que se fazia alusão ao dito no final do primeiro parágrafo. Assim sendo, era desnecessário o emprego explícito do verbo. A forma publicada ficou sem sentido e incoerente, por terem sido os verbos publicados, em tempos diferentes, o primeiro, no futuro, e a locução pode ter rompido, no passado, quando ambos deveriam estar no mesmo tempo. A prevalecer o verbo haver como quis o revisor, a expressão pode ter rompido passaria a poderá ter rompido, para o texto ficar coerente. Entretanto, não condiria com o que vivemos, pois a falta d’água saltou do futuro previsto para a dura atualidade!

O que se imaginava para, daqui a três ou quatro gerações, aí está, incontestável, como resposta à zombaria perdulária e inconsequente diante de advertências preventivas. Paga-se pela incúria na administração dos recursos naturais, a começar da educação de má qualidade, atrelada a objetivos político-ideológicos, da qual desapareceu a noção de respeito e cooperação na relação com o mundo, sob todos os aspectos. Indivíduos comportam-se como se vivessem em mundo exclusivo, cada qual a fazer o que bem quer, sem se importar com as consequências daí advindas, em prejuízo do próximo e da coletividade. E quem não é do meio submete-se à imposição daqueles, na cômoda posição do “isso não é comigo”, “não sou eu quem vai mudar o mundo”, “cada qual sabe o que faz”, mesmo porque os que, da sociedade, recebem mandato, não o exercem em consonância com os interesses mais altos da coletividade. Como resultante temos a subversão dos princípios que norteiam o conceito de civilização, ou seja, o caos, momento em que todos têm direitos, mas ninguém reconhece deveres; todos querem falar, mas ninguém ouvir; todos querem mandar, mas ninguém obedecer. Todos querem conjugar o verbo poder da seguinte forma: Eu posso, tu e eles não podem!

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