Felicidade interior

20 de Maio de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Se, no passado, confundiu-se o ser humano na conceituação do que seja felicidade, muito mais se confunde, agora, quando as necessidades naturais são extrapoladas, acrescentando e supervalorizando as artificiais, ou seja, criadas pelo próprio indivíduo, ao adotar a falsa ideia de que não pode viver sem estas últimas. Na era do consumismo exacerbado, cria-se a ideia, compartilhada por grande maioria de indivíduos, de que felicidade é ter saúde, amor, bastante dinheiro e sucesso na vida. Interessante é que exemplos a contrariar essa teoria são vistos em qualquer tempo e lugar, mas, longe de as pessoas se conscientizarem sobre a falácia da felicidade construída sobre bens materiais, mais elas correm e se arriscam pelo dispensável, pelo supérfluo, pelo situado além de sua realidade; e, pior, induzidas por interesses estranhos.

Crimes e tragédias humanas, de todos os gêneros, têm como protagonistas indivíduos que se poderiam classificar felizes, a partir da fartura e bens acumulados. Suicídio, então, sempre em número crescente como parte mais triste da história humana, é prova irrefutável de que posse de bens materiais, do mínimo ao máximo, não constitui felicidade! A população de deprimidos não é maior entre os miseráveis, porém entre os dotados de mais recursos. A posse de dinheiro por quem não está preparado pode ser sua ruína definitiva, contrariando situação anterior de pobreza, não em estado de felicidade plena, porém livre de grande insatisfação ou tumultos em sua vida. Grandes prêmios de loteria já mudaram cursos de vidas simples, porém equilibradas, para desaguar em infelicidades e tragédias. A realidade confirma que, necessariamente, dinheiro não traz felicidades, mas o indivíduo reluta em aceitá-la, preferindo confiar na ilusão.

Na contramão da corrente materialista há os que definem felicidade como momento eventual de satisfação, quando o indivíduo se sente inteiramente feliz, sem nenhum sofrimento. Seria ainda um conjunto de emoções oriundas de causa específica, como a realização de antigo sonho, a satisfação de um desejo, que o indivíduo está sempre propenso buscar. Mas, a mesma corrente classifica essa busca como utopia, pois não poderia se apoiar no mundo real, no qual o indivíduo pode experimentar o fracasso, que não corresponde ao conceito, plenamente aceito, de felicidade. Ainda há lugar para os que a definem como plena satisfação dos desejos, bem como para os que a veem como resultante da harmonia entre indivíduos.

Até aqui, segundo diversos conceitos, o que se chama felicidade é apenas autossatisfação, elemento fugaz, que contempla momentos específicos de conquistas e realizações do indivíduo. Tais momentos, a contemplar a satisfação puramente material ou anseios no campo dos sentimentos, dispersos em toda a vida e sem conexão entre si, têm início e fim definidos, tudo voltando à realidade, muitas vezes, dura e cruel.

Muito estranha essa felicidade, extremamente passageira, dependente de fatores externos, nascida e aniquilada ao sabor dos acontecimentos mundanos! A harmonia entre indivíduos também se situa entre fatores externos, possivelmente eventuais e passageiros, na qual basta o descompasso de um integrante para a quebra do equilíbrio original. Tanto posses materiais quanto sucesso nos projetos de vida pode ser resultante do estado de felicidade, mas não a sua causa: isso porque a felicidade não se vincula à matéria, mas constitui estado de espírito ou faculdade da alma, à qual se liga a uma consciência livre de maiores culpas. Em razão disso e ao contrário da pressuposta ausência de sofrimento para ser feliz, não importa o grau de sofrimento de um indivíduo, pois ele é feliz, se tem a consciência tranquila. O sofrimento pertence ao físico, ao corpo ou ao campo psicológico, nada a representar para a alma, que se situa em outro plano. Portanto, não é sofrimento que impede a felicidade.

Em sendo faculdade da alma, a felicidade vem do interior do próprio indivíduo, não obstante dores e obstáculos de natureza externa, aos quais ele se adapta sem prejuízo de seu estado interior. Não importa o que digam sobre si ou que tentem fazer ruir o mundo à sua volta; sua capacidade de superação se reforça a cada momento, mediante tranquilidade reinante em sua consciência. Se injustiçado, ele considera isso um mal menor do que ele próprio praticar a injustiça, pois sabe que tudo que provém do seu interior volta à origem, assim como a água que cai como chuva ainda retornará ao céu como nuvem. Ele se torna consciente de que, vinculada ao SER e não ao TER, a felicidade não se esgota depois de alcançada; pereniza-se!

Considerando que, no plano espiritual, céu não deva ser um lugar, porém condição ou estado de espírito, este seria o prolongamento, em estágio superior, da felicidade na terra.

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