Mentira, flagelo dos inocentes

20 de Maio de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Em relação à mentira, os dicionários dizem tratar-se de: “ato ou efeito de mentir; engano, falsidade, fraude”; “afirmação contrária à verdade a fim de induzir a erro”; “qualquer coisa feita na intenção de enganar ou transmitir falsa impressão”; “pensamento, opinião ou juízo falso”. Também no inconsciente humano, a mentira se apresenta como produto perverso da mente, pois leva a falsos julgamentos, maus negócios, intrigas, brigas e mortes. A religião a condena como pecado e, em certas circunstâncias, mentir pode ser a ruína do indivíduo, a nódoa que o destaca, negativamente, dentro da sociedade.

Mas, nem sempre a mentira é o que dizem os dicionários, ponto de discórdia entre pessoas, ou algo condenável, pois outras facetas apresenta, até mesma sob a marca da piedade, quando se esconde a realidade dolorosa de pessoas idosas ou doentes. Há a mentira humorística, destacando-se aí a do pescador, do caçador, o “causo” mineiro, etc. Mas, a mentira do bem mais difundida está na literatura: romances de todos os gêneros, realçando-se a ficção científica, na antevisão de muitas conquistas científicas e tecnológicas, que se desdobram no teatro, no vídeo e no cinema. Vista por este ângulo, a mentira é produto engenhoso da imaginação humana, que busca o futuro, que entretém, que alarga os horizontes, que une a espécie humana numa camaradagem multicolorida. Pode-se dizer que sem a mentira não existiria a literatura e a arte, de modo geral.

Contudo, pesa mesmo é o seu lado negativo, perverso, cruel, demolidor, especialmente quando, à sombra do anonimato, comodidade sempre buscada pelos covardes. E aqui, para gáudio dos que se ocupam desse nojento mister, entra uma característica muito humana: em se tratando da maledicência, a mentira é mais aceita que a verdade virtuosa. É da natureza humana a tendência pelo negativo, pela destruição. Por essa razão jornais vendem mais, quando tratam de tragédias, de escândalos e toda miséria moral. Pelo mesmo motivo, páginas policiais são mais lidas que editoriais. É assim que, se revelado fato positivo sobre uma pessoa, quem ouve costuma não dar crédito e vai em busca de informações que o comprovem; se o fato é negativo e depõe contra a mesma pessoa, a “novidade” é propagada, imediatamente, não dando chances à oitiva de versão contrária. A mentira, propagada dessa forma, é como fogo a consumir rastilho de pólvora: enquanto avança, parece inofensiva, mas no fim há a “explosão” e possível destruição da imagem da pessoa atingida. E por muito que se arrependa e se faça em sentido contrário, a condição anterior nunca se restabelece, ficando a vítima marcada para sempre. É bem conhecida a alegoria, segundo a qual, seria humanamente impossível, recolherem-se todas as penas de uma ave, lançadas ao vento do alto de uma torre.

Ao contrário do que se pensa, na maioria das vezes, a maledicência, a calúnia gratuita, a maldade tem origem pela língua de pessoa ou pessoas do mesmo círculo, até bem próximas, consideradas amigas; detalhe mais chocante em todo o processo. Por agirem mais direto sobre o alvo ou vítima, supostos inimigos fazem menos mal, mesmo porque contra eles está-se, preventivamente, preparado. Em relação ao suposto amigo, está-se totalmente desarmado, sem saber que por trás das canjicas, à mostra, língua ferina pode estar pronta a atacar tão logo a vítima se afaste de sua presença. Quanto engano quando, presunçosamente, se diz “somos amigos(as)” ou “fulano(a) é meu/minha “amigo(a)”! Pela lógica e sem contrariar o princípio da sinceridade, o mais correto seria dizer “sou amigo(a) de fulano(a)”, se não há disposição para magoar ou ofender a mesma pessoa. O verdadeiro amigo nem sempre é aquele do sorriso sempre aberto e lisonjeiro para os à sua volta, mas quase sempre é aquele que não nos poupa reprimendas em momentos certos e nos dá até um tapa na cara, se necessário. E tapa na cara, dado por desconhecido, faz menos mal à vítima que mentira ou calúnia feita por suposto amigo à mesma!

O poder destruidor da mentira foi provado pelo nazismo, na Alemanha, quando foi usada, sistematicamente, contra o povo judeu, ocasionando, então, uma das maiores tragédias humanas. Os judeus já eram vítimas de preconceito e, por isso, eram perseguidos, mas a campanha nazista, entregue por Hitler a Joseph Goebbels, ministro da Propaganda, elevou as hostilidades antissemitas ao mais alto grau; convenceu a maior parte do povo alemão de que eles, os judeus, seriam a causa das mazelas da sociedade.

Resta saber por que algumas pessoas têm tendência à mentira danosa. Segundo estudiosos grande parte dos psicopatas não é violenta e nem entra em choque com a lei, mas todos eles são capazes e têm prazer em arruinar a vida do semelhante ao redor, seja debilitando-as emocionalmente, ou arruinando suas finanças. Enquanto isso, posam de pessoas normais e distintas para as demais.

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