Gigantes com pés de barro

17 de Fevereiro de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

No oceano da criminalidade, a partir de há pouco tempo, o comportamento pesqueiro das forças de segurança tupiniquins vêm a provocar grande tensão entre cardumes de peixes dos mais graúdos e piores predadores; tensão entre eles e surpresa entre expectadores da grande pesca. Habituadas a fisgar sardinhas tão somente, e das mais magrinhas, de repente a equipe de pesca voltou atenções e ações diretas sobre tubarões dos mais vorazes. Não é que, no passado mais remoto, não existissem tais pescados nas mesmas águas, mas os então existentes, em número reduzido, eram de espécies menos vorazes, que agiam de forma isolada, razão pela qual conseguiam escapar mais facilmente.

Há bem pouco tempo, ninguém ousava dizer que um político ou grande empresário seria preso, processado e condenado. Isso de prisão era só para p.p.p. porque bacana era bacana, pronto para sempre subir aos andares superiores e nunca descer ao porão! Enfim, como nada neste mundo é definitivo, chegou a vez de o bacana também cair! Mas, que demorou, demorou! Mesmo assim, os caídos teimam em escapar por alguma fresta da lei, valendo-se de argumentos diversos, notadamente no campo da saúde, por meio dos quais pensam conquistar sentimentos humanitários. Enquanto cá fora, a rir de nós outros - os otários - e a gozar das benesses que as falcatruas lhes possibilitavam, não se condoíam de seu semelhante que, por muito menos culpa e, às vezes, sem, encontra-se abandonado nas miseras e superlotadas prisões. Também gozavam de boa saúde, preventivamente cuidada por bons profissionais da área, viajavam pelo mundo, frequentavam lugares onde o simples mortal não é recebido. Nada lhes faltava e suas vontades se faziam como lei!

Agora, na condição de hóspedes da Justiça, embora seus aposentos sejam de condições melhores que as celas destinadas à ralé, dizem-se maltratados, mas é no aspecto da saúde que os figurões tentam reverter a situação em que se encontram. Tão logo lhes fecham as grades da prisão, doenças antes nem de longe suspeitadas aparecem como carro chefe das reclamações por atenção especial, se não para a obtenção da liberdade, pois, assim como os demais colhidos nas malhas da Lei, consideram-se inocentes. Importante ressaltar que somente na pretensa inocência eles se alinham com miseráveis da mesma espécie. Quanto aos direitos humanos e de cidadania, figurões continuam a se julgar superiores aos demais!

Essa fase de higienização moral pela qual passa o país suscita reflexão em duas vertentes. Sob o ponto de vista coletivo e político é momento oportuno para analisar e tentar encontrar, na estrutura sócio-política brasileira, facilitadores, sem os quais, a ação deletéria não teria alcançado o nível do corporativismo bandido. Planta mal cuidada pode dar maus frutos e esta é, a meu ver, a origem de tudo que vem a luz, atualmente, sob ação da Justiça.

Faltam valores à sociedade, descuidada no campo educacional mais amplo, bem como falta sanidade ao Estado, depauperado pela má ação política! Há que repensar a sociedade como um todo, fortificando seus valores fundamentais, e, dar ao Estado o poder, que lhe cabe, como gerenciador verdadeiramente democrático.

No plano individual, é também o momento de se questionar a insatisfação, medindo-se a qualidade de vida pelo ter, na comparação com o sucesso material de outrem, sem o conhecimento do como ele foi alcançado. Anseia-se desmedidamente, nas camadas em ascensão social, por se colocar entre os do topo, dominantes e ditos bem qualificados nos círculos em que vivem, sem lhe conhecer antecedentes que possibilitaram o aparente sucesso.

Diz o provérbio que “nem tudo que reluz é ouro”, o que vale dizer que nem todos situados em posição de domínio têm o valor ostentado, e, ali não deveriam estar, porém em posições bem inferiores, como embusteiros, ladrões, escória da espécie humana no campo moral! Entre apanhados pela operação Lava Jato estão ex-ministros, ex-parlamentares, empresários, executivos, ex-governador e agora o que já foi considerado o sétimo mais rico homem do mundo. Eram pesados gigantes com pés de barro!

Dessa triste realidade conclui-se que mais vale o pouco com a consciência tranquila e a liberdade de ser! Dinheiro nenhum compensa a honra conspurcada e nem restaura a confiabilidade, um dia, conquistada, em bases falsas, junto ao público. Embora escarnecida por aventureiros que, confiantes na capa da impunidade, apostam no sucesso a qualquer custo, a honestidade é, indiscutivelmente, a base das ações do cidadão que almeja conquistar lugar de destaque, sem que um dia tenha que responder por qualquer mal causado a terceiros, quer seja no plano individual quer seja no coletivo.

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