Horário de verão para quê?

02 de Dezembro de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Há mais de um mês, parte do Brasil está sob o impacto do horário de verão, artifício instituído e dito pelos governantes como fator de economia, tese com a qual grande parte dos tupiniquins, incluindo-se este aqui, não concorda. Mas, aceita como verdade, será que valem a pena os cinco por cento de economia, apontados pelo próprio governo, em comparação com o prejuízo ao bem-estar da população?

O organismo humano não é algo, manipulável à vontade, pois ainda que alguns pensem ser donos do próprio corpo, não o somos. O corpo está entre as coisas que obedecem às chamadas leis naturais, em defesa das quais tanto discurso se faz, infelizmente sem ação em contrapartida. Com ligeiras variações cada indivíduo tem sua hora de se recolher para o repouso necessário, após o qual soa momento de nova vigília, para se entregar aos afazeres quotidianos. Alteração, no tempo dessa rotina, seguindo-se a mesma coisa quanto à hora da alimentação e demais afazeres, não se faz sem algum dano ao organismo afeito um ritmo prefixado. Os efeitos, sentidos objetivamente, podem não ir além do primeiro dia, como dizem alguns, mas não é bem o que acontece. O indivíduo não se acostuma, porém se acomoda à nova situação, imposta de fora, enquanto o organismo continua a reagir contra aquela ingerência. Os efeitos adversos ao organismo humano, assim como os danos à natureza, decorrentes de agressões ao meio ambiente, só vão se manifestar mais tarde.

Os governos, imprevidentes por natureza e perdulários por conveniências políticas, lançam sempre mão de artifícios enganosos, para compensar suas falhas, não hesitando, para isso, em sacrificar o povo. Que são cinco por cento de energia dentro de uma economia gigantesca a envolver duzentos milhões de habitantes? Talvez mais se desperdice, dentro da vigência do horário especial, nas festas e ornamentos luminosos das celebrações do Natal e do Ano Novo. As alegadas razões econômicas podem ser outras, calcadas em mais consumo de natureza diversa e maior arrecadação, ao contrário da alegada redução no consumo de energia. Pergunta-se qual será a desculpa do governo, quando a energia fotovoltaica atingir produção que compense a alegada economia alcançada no horário de verão!

Sabendo-se que, no período primavera-verão ocorrem as férias e grande fluxo de pessoas converge para o litoral, aí pode estar a verdadeira razão para o horário de verão. É de interesse da indústria do turismo maior aproveitamento das tardes ensolaradas, que se tornam ainda maiores com a extensão de uma hora. Para hotéis, clubes, bares, restaurantes, veranistas e toda a diversidade na área do lazer e recreação, na orla litorânea, o horário de verão é mágico. Para grande parte dos que continuam no trabalho, mormente os afastados do litoral, o mesmo horário é suplício.

O bolodório, até aqui, contra o horário de verão, já foi feito em causa própria, mas na atualidade faço-o por terceiros, pois a mim não mais incomoda. É mais uma vantagem usufruída na velhice, embora muitos a desconheçam porque não sabem o que são. Não sabem o que podem e, por isso, à ordem de adiantamento dos ponteiros, obedecem como carneirinhos sob pastoreio! A menos que o aposentado viva dependente de familiares, por que essa subserviência? Que o governo vá catar coquinho, ora essa! Este é o terceiro horário de verão, que não me afeta; para mim que ele se cumpra nas calendas gregas! Ainda me dou o direito de afixar na janela do meu escritório: NESTA CASA NÃO HÁ HORÁRIO DE VERÃO. O aviso é para que não me ocupem fora do meu horário; para outros serve de curiosidade, seguida de comentários ou pensamentos, tais como “esquisitices de velho”. Pensem o que quiserem, desde que me deixem curtir a liberdade de ser o que sou! Há os que se surpreendem e dizem também não gostar do tal horário. Mas, um dia, alguém viu e perguntou: - que significa isso? – respondi na mesma batida: - o que está escrito.

Passei setenta e quatro anos a obedecer a horário imposto por terceiros: primeiro o horário da família, depois o da escola, ao qual sucedeu o do trabalho durante cinquenta e três anos. Aos setenta e quatro anos, não mais a trabalhar em horário prefixado, entendi ter chegado o momento de ser eu mesmo dentro da minha casa, seguir o horário regular, sem mais a imposição governamental do horário de verão, que agora existe só lá fora nos compromissos com terceiros. Continuo a criticar o horário de verão, mas não mais brigo com ele, já que não me afeta.

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