Império invisível

27 de Janeiro de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Costumes e tradições constituem uma imensa diversidade, de acordo com as culturas em todo o globo. Muitos desses costumes ou tradições são parte da identidade cultural do país que os preserva. Entretanto, há costumes que, por seu franco favorecimento à vida humana, poderiam ser universais.

Sabe-se, por exemplo, que os japoneses não usam sapatos dentro de casa, calçando-os à saída para a rua e os deixando, na volta, no mesmo local de onde foram tirados. No mundo ocidental isso é considerado até meio esquisito, mas, na verdade, tal prática vai muito além de simples tradição do povo japonês, para ser importante norma higiênica. Bons motivos há para tal prática, em resposta à presença de cerca de quatrocentos e vinte e um mil diferentes bactérias presentes nas solas dos sapatos de volta das ruas, segundo pesquisas realizadas na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

Depois dessa, faz sentido - não somente um costume estrambólico para alguns - o não uso de sapatos dentro de casa, no país do sol nascente.

Considerando os lugares por onde se pisa, ainda que muito bem cuidados, não se poderia esperar trazer algo que não milhares de tipos de micro-organismos, dos quais não se sabe nada até que discretos pesquisadores descubram e informem sobre os perigos, que representam as solas dos sapatos de volta das ruas. Por isso, tal prática é saudável e mereceria ser adotada universalmente, para o bem geral da saúde, sem esquecer a conservação dos pisos e limpeza doméstica, que estariam mais bem preservados.

Algumas pessoas chegam a ter certo cuidado ao retorno de visita a cemitério, porém muito mais por superstição do que por razões higiênicas! Afora isso, nenhum cuidado há com relação ao que podem recolher das ruas as solas dos sapatos. Levando-se em conta os riscos de contágio, por meio das mãos, no contato com objetos e utensílios de uso comum, pode-se aquilatar o quanto maior são esses riscos, no contato com o chão das ruas.

Por ocasião das recentes epidemias de gripe e da de meningite, mais distante, os cuidados com a higienização das mãos foram ressaltados, como medida preventiva, uma vez que os causadores de tais moléstias se espalham facilmente por onde correm as mãos. Quanto à presença maléfica desses diminutos seres nos objetos, outras pesquisas revelam números assustadores, em comparação com local considerado o mais imundo: o vaso sanitário!

Seu assento é considerado menos sujo que muitos objetos manipulados quotidianamente, tais como: teclado do computador, que pode ser quinhentas vezes mais sujo; panos de louça, vinte mil vezes mais; smartphones, dez vezes mais; tábuas de corte, na cozinha, duas mil vezes mais.

Atenção mulheres, cujos maridos ou namorados cultivam espessas barbas! Vocês podem estar a dormir frente a frente com um foco de germes, que concorre com o encontrado no vaso sanitário, segundo afirmação de uma equipe de microbiólogos norte-americanos! Embora tal estudo não tenha obedecido a critérios científicos, não se pode descartar a possibilidade de que tais “adornos” faciais masculinos possam, de fato, ser abrigos de colônias de germes e bactérias. Queria ver as caras de dondocas, cheias de não-me-toques, ao ler isso! Imaginem-se agora, no espaço público, os corrimãos de escadas, varais dos ônibus, telefones e tudo mais manipulado por tanta gente em circulação.

Na verdade, microrganismos, como germes e bactérias estão por toda parte, até mesmo sobre a pele e no interior do corpo humano; e não são, necessariamente, todos maléficos. A ação desses microrganismos no organismo humano, dentro do necessário equilíbrio, ajuda no metabolismo e garante a saúde. Mesmo os de natureza maléfica ao organismo humano não conseguem fazer mal, se controlados, contidos dentro de certos limites. Aí entra a necessidade da higiene corporal, para impedir a proliferação desordenada dos indesejáveis na superfície, bem como a da alimentação saudável que, paralelamente, contribui para a ação equilibrada dos desejáveis, no interior do organismo. Assim como a humanidade e outras espécies habitam a Terra, microrganismos de diversos tipos têm o corpo humano como seu universo. Calcula-se que cem trilhões desses diminutos seres vivam num corpo humano, independentemente da vontade e do “pedigree” de seu principal ocupante!

Também são microrganismos os responsáveis pela reciclagem natural, ou seja, a decomposição dos corpos e degradação geral da matéria orgânica, reduzindo tudo aos elementos originais. Como se vê, os microrganismos não estão presentes de graça; são necessários para tudo, no devido tempo e espaço! Assim sendo, o costume dos sapatos deixados à porta não precisa se estender ao mundo e quem gosta do rosto escondido pela barba, que faça bom proveito.

Ainda bem que os diminutos bichinhos não são vistos a olho nu!

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook