Perigos concretos no virtual II

20 de Janeiro de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Dentro da linha de golpes e estelionatos praticados na internet, o caso em que foram envolvidos nome e imagem da oficial da Força Aérea Norte-americana é apenas um exemplo, embora mais atrevido na tentativa de enganar a vítima. Se o alvo do(a) pilantra não fosse esperto e tivesse se deixado levar pela falsa oportunidade, sob a forma de bela mulher e muito dinheiro, o golpe teria sido bem sucedido. A tentação era grande e sempre há quem sonhe com um surto de sorte e porta aberta para se levar vantagem com pouco ou nenhum esforço.

Nesse caso, o golpista, homem ou mulher, não se sabe, cometeu o erro de se esconder sob a figura de personalidade, cujas qualificações levantavam suspeitas sobre a veracidade do contato, em pessoas mais racionais. Não fosse isso, a tentativa poderia ter dado resultado diferente. Dentre a diversidade de golpes, o mais comum é o da herança que alguém quer repassar a título de bondade ou caridade. Normalmente, o golpista se apresenta como viúva doente (geralmente câncer), em fase terminal. O marido teria morrido recentemente e deixado grande soma depositada em banco que ela, a viúva, quer transferir a alguém disposto a empregá-la em caridade, ficando com parte para si como forma de recompensa. Para melhor convencer a vítima, há casos em que o dinheiro teria origem suspeita, corrupção, por exemplo, razão pela qual o estelionatário pede sigilo absoluto ao contatado. Diversas são as formas de abordagem dos vigaristas, mas, no final, o objetivo é um só: tomar dinheiro de incautos e dos que não perdem oportunidade de levar vantagem.

Ainda recentemente, senhora gaúcha de 74 anos foi lograda em cerca de oito mil reais, na esperança de receber herança milionária. Tendo recebido uma carta, em inglês, procurou uma advogada, que fez a tradução e tomou as primeiras providências com base no conteúdo, ou seja, que a sua cliente era a beneficiária de uma herança, a ser recebida de um parente falecido na Espanha. De acordo com instruções recebidas do contato (seria um advogado espanhol), foi efetuado um depósito de pouco mais de três mil e cem reais, que seriam para cobrir despesas de cartório e fornecimento do documento oficial de habilitação da herança. Passados poucos dias, chegou outro documento, que seria de determinado banco espanhol, a confirmar a habilitação da suposta herdeira. Contudo, impunha novo depósito, no valor de cinco mil e quatrocentos reais, dito necessário para abertura de um processo interno, para liberação da suposto herança, que seria de dez milhões de reais. Foi somente depois de efetuado este segundo depósito que a advogada desconfiou tratar-se de golpe. Solicitou cópias das credenciais do advogado espanhol, bem como do representante do banco. Era tudo falso!

Os primeiros golpes dessa natureza, pela internet, eram praticados, via e-mail pessoal. Ultimamente, percebe-se que eles migram para as redes sociais, talvez porque levantem menos suspeitas entre as muitas pessoas sinceras com as quais se trocam informações, compartilham-se arquivos interessantes, dentro do espírito que representam tais redes. Para conseguir o que querem, os pilantras não têm escrúpulos; valem-se de qualquer expediente, na maior “cara-de-pau”.

Depois de postada mensagem especial, dentro de uma rede social, ainda pouco conhecida no Brasil, foi-me dirigido, por meio dos “comentários”, convite para que fizesse contato. Foto (rosto e colo a ostentar joias) e nome indicavam mulher jovem, bem vestida, a aparentar pessoa bem sucedida na vida, além de me parecer algo familiar ou conhecida anteriormente. Respondi ao convite e, logo em seguida, veio o conhecido discurso da doente em fase terminal, que teria grande fortuna a se empregar em orfanatos ou casas de idosos, por meu intermédio. Depois disso, foquei-me na foto do contato, para analisá-la com mais atenção. Embora a esboçar sorriso discreto, a mulher da foto lembrava a falecida Margareth Tatcher, a ex-primeira ministra britânica. Entrei no Google e pesquisei por imagens da “Dama de Ferro”. Lá estava a mesma foto; uma das mais antigas e conhecidas da respeitada mandatária britânica. Mas, que cara-de-pau, hein? Como resposta, denunciei o fato na mesma rede.

Lembrei-me de outro caso, mais ou menos parecido, com a diferença de não conter tentativa de extorsão. Na redação do jornal, havia eu recebido incumbência de analisar texto, para possível publicação, a pedido de um leitor. Pelo primeiro parágrafo lido, poderia ter refugado a coisa, de tão ruim que era. Entretanto, de relance, algo me chamou a atenção no parágrafo seguinte, que acabei por ler inteiramente. Percebi não ter a mesma origem devido à qualidade infinitamente superior. Prossegui a leitura e o restante se apresentava como no início: uma droga. O segundo parágrafo era, simplesmente, um filé enxertado na muxiba. Inseri o trecho no Google. Seu autor não era ninguém mais, ninguém menos que Albert Einstein. A vantagem da internet é essa: pela mesma via, em que nos tentam enganar, desmascaram-se os farsantes!

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