Juiz Antônio de Pádua Lima (1966-1972)

18 de Novembro de 2013
João de Carvalho

João de Carvalho

Procedente de Caeté, este personagem chegou a Itabirito em 1966, calçado com belas botas, ao estilo agradável da época. Ele foi transferido como juiz de direito de comarca. Eu, procedente de Uberlândia, recém-formado em direito. Nós fomos lecionar no Educandário São Geraldo, composto pela Escola Normal Darcy Vargas, Escola Comercial Monsenhor Messias e Ginásio Guilherme Gonçalves. A Diretora, Maria José Gonzaga de Melo, era a grande e inesquecível anfitriã da maior escola de Itabirito. Nesta época ainda existia o internato masculino. Nós tomávamos refeição, no refeitório da escola, sempre assistidos e servidos, delicadamente, pela carinhosa diretora. Dr. Antônio e D. Maria se entenderam muito bem, se enamoraram e se casaram. Ambos eram viúvos em plena forma física e mental.

O juiz ministrava aulas de Moral e Cívica para as classes do segundo grau, denominado colegial. Pádua Lima, homem simples de largos conhecimentos científicos, além de amplo domínio do direito. Conhecedor preciso da mente humana aplicava com sucesso sessões de hipnotismo. Diariamente, na parte da tarde, de 12 às 18 horas, atendia no Fórum despachos e audiências. Tinha o hábito de marcar a data de leitura de suas sentenças processuais. Não usava as famosas máquinas de datilografar, preferia escrever manualmente suas decisões, com letra caligráfica e impecável ortografia. A Comarca era pequena com mais ou menos dezoito mil habitantes. Andava sempre a pé. Em qualquer lugar que estivesse, atendia solicitação de despacho de petições iniciais, levadas por nós advogados, que éramos poucos naquela época. Uma meia dúzia. Sempre se preocupava com a segurança do Fórum Desembargador Edmundo Lins. Passou a criar uma serpente, chamada Mimosa, nas repartições da ala esquerda, anexa ao salão do júri, no segundo andar do prédio da Rua João Pinheiro, bem no centro da cidade. A notícia corria e o Fórum gozava de boa vigia noturna, sem nenhum incidente. Sabedoria de mestre, cauteloso e previdente.

Mais dois fatos marcaram a presença desse notável juiz. O primeiro foi a realização de duas caminhadas com os alunos do Educandário de Itabirito. Uma até Belo Horizonte e outra até o Pico Itacolomi, em Ouro Preto. Eram passeios alegres, portando lanternas acesas e mochilas com merenda, estas denominadas de matulas, segundo a linguagem característica da época. De volta os alunos eram convidados a descrever, em suas deliciosas aulas, as impressões da viagem. Daí nasceu sua grande e preciosa amizade com os alunos, que apreciavam as caminhadas, que se transformaram em inesquecíveis piqueniques.

O segundo fato, que ele não chegou a realizar, seria um passeio a pé, até Brasília. Era uma deliciosa brincadeira. As caminhadas, na volta, eram feitas sempre de ônibus, para descanso e rapidez nos retornos. Em suma, este simples, inteligente e brilhante juiz e professor soube conquistar a admiração e a amizade de todos, que o conheceram e se dirigiam ao Fórum para questões judiciais, e ao colégio para receber instruções didáticas, e deliciosas sessões de hipnotismo. Tudo com muita simplicidade, carinho, atenção e amor.

No final da década de sessenta, nós advogados iniciamos um movimento, unificador de causídicos e estudantes de direito, que redundou, na década de setenta, no primeiro grupo de advogados de Itabirito, conhecido pela sigla GAI (Grupo dos Advogados de Itabirito) maliciosamente interpretada por alguns juristas procedentes da capital mineira. Era uma gozação salutar, sem preconceito, naturalmente. Assim, era a vida advocatícia, no município dos Aredes, sob a assistência e presença do grande mestre, juiz e amigo, Dr. Antônio de Pádua Lima, (Juiz em Iabirito de 1966 a 1972) de saudosa memória.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook