Leishmaniose, uma doença perigosa

02 de Fevereiro de 2012
Jornal O Liberal

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por Paulo Felipe Noronha

É natural de muitos seres humanos o amor pelos animais. Companheiros, em especial o cão, não é incomum dispensar a estes o mesmo tratamento que temos por nossos pares, ou algo próximo disso. Entretanto, também é fato que muitas pessoas tratam mal aos animais gratuitamente, à sorte de suas revoltas ocasionais, ou por reles crueldade. Por outro lado, apenas gostar do animal não é o suficiente.

É muito comum perceber pessoas que até gostam do bicho, mas não servem para criar. E essas pessoas não devem mesmo ter um animal. Algumas percebem isso, ou insistem em ir contra o caminho mais sábio. Daí, surgem os cães vadios e urbanos, pois uma vez domesticado, o animal passou a viver no ambiente humano, e não no selvagem. Isso vem desde tempos já distantes, séculos, e agora sabemos que o descuido sanitário desse costume teve graves conseqüências para o ser humano em diversos períodos. Um desses problemas, cada vez mais presente na atualidade, é a leishmaniose. Existe uma onda de humanização dos animais na cultura popular, entretanto, em determinados níveis, isso não é positivo, e no caso da leishmaniose, é muito perigoso, pois incita alguns a cair na idéia de que há possibilidade de tratamento tal qual o cão fosse um humano. Até há tratamentos, mas segundo a Wikipédia:

A opção de eutanásia de um animal de estimação é certamente para muitos uma decisão difícil, e muitas vezes procura-se por alternativas paliativas, recorrendo-se geralmente ao argumento de que a portaria não proíbe, contudo, o tratamento da doença com produtos específicos para animais; e que a validade da referida portaria encontra-se em discussão na justiça (o que não a torna inválida). Contudo é fato que o animal contaminado, quando sob tratamento - quer humano quer específico ao animal - embora possa em uma parcela dos casos apresentar remissão dos sintomas da doença, permanece infectado com o parasita em sua forma ativa, e por tal constitui um reservatório da doença no ambiente em questão. Acrescido a presença do agente vetor em tais ambientes, o que geralmente é a situação dada a contaminação do animal, tal configuração caracteriza-se como uma situação de risco iminente aos demais no ambiente, incluso sobretudo os seres humanos, risco muito agravado em caso de presença de crianças e idosos.

Muito pior do que se obter um diagnóstico soropositivo para leishmaniose em um animal de estimação é certamente obter um diagnóstico soropositivo para a doença em um membro da família. O tratamento, que da mesma forma que no animal apenas ameniza os sintomas, é complicado e prolongado, exigindo quase sempre internação para a companhamento do processo dado o risco de morte diretamente associado à medicação. A medicação para uso humano é proibida para animais dada a crescente adaptação e resistência dos agentes etiológicos às drogas conhecidas (...); as drogas aplicadas nos primórdios dos avanços no tratamento da referida doença, que remontam ao início do século XX, são hoje ineficazes, sendo as hoje utilizadas muito mais agressivas ao próprio organismo do hospedeiro do que as inicialmente aplicadas. Embora certamente não se promova e tão pouco se promoverá a eutanásia dos seres humanos contaminados, a eutanásia dos animais domésticos contaminados, sobretudo cães em ambientes urbanos, é fator importante no controle epidemiológico da doença, reduzindo significativamente a presença de reservatórios do agente etiológico no ambiente em questão.

Então, por mais difícil que seja a decisão, fica clara a necessidade de uma abordagem mais consciente quanto a essa doença. Idealmente, nossos animais de estimação, por mais que gostemos deles, deveriam estar livres, em seu ambiente natural, e não confinados a hábitos humanos. Foi nossa própria necessidade de torná-los nossos (o que eles nunca foram de fato) que os condenaram a domesticação, então, medidas cruéis como a castração de fêmeas e eutanásia em cães com leishmaniose se tornam necessárias, uma vez que é a responsabilidade de quem guarnece o animal. Entretanto, encerro com uma nota de esperança: uma vacina está em fase final de testes, criada aqui em Minas Gerais mesmo, e talvez represente uma possibilidade real de controle dessa perigosa doença.

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