MARIANA: assim nasceram as Minas Gerais

28 de Abril de 2016
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Roque Camêllo (*)

O calendário mineiro é rico em celebrações cívicas e religiosas. Até o fato de se compor Minas Gerais de 853 municípios e mais de um milhar de distritos e subdistritos, potencializa esta marca. Embora seja o estado sem infância, nascendo adulto e produzindo riqueza quase dois séculos após o descobrimento do Brasil, teve tempo de construir uma história cultural, a mais densa do país.

O final do século 17 e o século 18 fizeram de Minas o centro econômico e cultural da Colônia. Era a joia preciosa da Coroa portuguesa.

O povo que se formou é a resultante dos embates, dos muitos encontros de grupos étnicos diversos. Entrelaçaram-se com o tempo pela força do convívio e das necessidades recíprocas a começar pelo impulso de agredir o silêncio do desconhecido. Muitos nomes se tornaram pilares da História naqueles idos. Superaram terríveis obstáculos como transpor a Serra da Mantiqueira, vencer os belicosos cataguases, passar pelos caudalosos Rios Paraopeba e das Velhas.

Com a descoberta do ouro, a mobilidade social se acentuou a tal ponto de esvaziar-se o litoral brasileiro e grande parte da população portuguesa à busca do metal precioso destas montanhas e vales.

Quando se avoluma o agrupamento humano, surgem os conflitos sobretudo havendo interesses materiais. Por aquela época, diferente não foi. Os bandeirantes, sedentos do ouro, não se mostravam muito afeitos ao trabalho das minas das quais tinham a propriedade pela Carta Régia, de 18 de março de 1694. Muitos as abandonavam, ocupando-as um outro grupo apelidado de forasteiros ou Emboabas.

Eis a origem da Guerra dos Emboabas que se caracterizou como nosso primeiro movimento nativista com larga repercussão na gênese política brasileira, episódio que passa por Manuel de Borba Gato, José Vaz Pinto, Domingos da Silva Bueno e, de outro lado, os forasteiros comandados por Manuel Nunes Viana, o vencedor.

Ao identificar um quadro de oposições, bandeirantes paulistas contra emboabas, Portugal procurou compor as forças opostas com a nomeação de Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, o estadista que soube harmonizar a terra de ninguém e dos conflitos, estabelecendo o império da lei, a força do direito sobre o direito da força. Em seu governo se criou as três primeiras vilas de Minas Gerais que, com suas estruturas administrativas, se tornaram o foro legal da vida social com um governo metropolitano e representativo.

A primeira instituída por Antônio de Albuquerque foi a Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo em 8 de abril de 1711, que, em 1745, se elevou à categoria de cidade pelo Rei Dom João V com o nome de Mariana em homenagem à sua esposa Maria Anna d’Áustria. À Vila do Carmo seguiram-se Vila Rica (Ouro Preto), em 08 de julho, e Vila Nossa Senhora da Conceição (Sabará), em 16 de julho.

Eis porque estamos celebrando os 305 anos da primeira vila de Minas Gerais, onde se estabeleceu a capital da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro.

Homenageando-a, estamos lançando o livro “MARIANA: assim nasceram as Minas Gerais – uma visão panorâmica da História”, obra publicada pela Nitro Editorial.

É um tributo à “urbs mea celula mater” e um incentivo para que todas as nossas primeiras vilas o façam também, não só as Cidades Históricas, mas os 853 municípios. Registando cada um sua história, torna-a conhecida porque só se ama e se respeita o que se conhece. No caso de Mariana, a antiga Vila do Carmo, mais do que nunca precisa ser amada por Minas e pelo Brasil, após a dolorosa tragédia da barragem do Fundão no subdistrito de Bento Rodrigues.

Como Mariana foi sempre mãe e mestra entregando-se historicamente ao bem da nação, agora, vítima daquele fato se oferece como exemplo para que tal não se repita. Este livro quer se traduzir numa mensagem de amor e respeito às nossas origens, a nossos antepassados que nos legaram princípios inalienáveis.

*Presidente da Casa de Cultura-Academia Marianense de Letras e Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Cadeira nº 66 – Patrona Princesa Izabel.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook