Mariana, Sabará e Ouro Preto: 300 anos das primeiras vilas

14 de Julho de 2011
Jornal O Liberal

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Por Mauro Werkema

Mariana, então Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, Sabará, então Nossa Senhora da Conceição do Sabarabuçu, e Ouro Preto, então Vila Rica, são as primeiras três cidades mineiras a receber o título de vilas, dadas pela Coroa Portuguesa. Mariana, fundada em 16 de julho de 1696, receberá o título de vila a 8 de abril de 1711. Sabará, fundada por Borba Gato por volta de 1682, receberá em 17 de junho. E Ouro Preto, iniciada por Antônio Dias de Oliveira, em 1698, recebe seu título a 8 de julho de 1711. Completam, portanto, 300 anos como cidades oficialmente reconhecidas como núcleos principais de povoamento da recém criada “Capitania de São Paulo e Minas do Ouro”, de 1709, por solicitação do então governador Antônio de Albuquerque. Na verdade, buscava Portugal organizar seu governo na região das minas, invadidas por sucessivos fluxos de aventureiros e que acabara de sair da famosa “Guerra dos Emboabas”, entre os pioneiros bandeirantes paulistas e os portugueses, baianos e outros atraídos pelo ouro e que disputavam o domínio do novo território.

As três cumpriram trajetória histórica decisiva na História de Minas e do Brasil. Travaram lutas de afirmação do sentimento nativista e pela autonomia política. Influíram na Independência de 1822, nos movimentos e episódios que marcaram a construção da nacionalidade brasileira no Primeiro e no Segundo Império e até na República. Foram os núcleos iniciais que, pela atração do ouro, forçaram os portugueses a penetrar no desconhecido território interior da Colônia nos anos finais do Século XVII. E de onde partiram, junto com outras cidades históricas mineiras, os desbravadores de Goiás e Mato Grosso, ultrapassando as linhas do Tratado de Tordesilhas e expandindo as fronteiras do Brasil até os limites reconhecidos em 1750, pelo Tratado de Madrid, entre Portugal e Espanha, através do princípio do uti possidetis. E viveram, no Século XVIII, surto cultural que nos legou excepcional acervo artístico, internacionalmente conhecido, resultante de um fenômeno sociológico ainda hoje em estudo e discussão.

Ambas minerárias, passaram do “Ciclo do Ouro” para o ciclo do minério de ferro, mas ainda hoje lutam por receber justa retribuição pelo seu subsolo rico, tricentenariamente explorado, sem conseguir remover os bolsões de pobreza que perduram. As três guardam tesouros da arte setecentista nos púlpitos e altares dos seus templos e palácios. E possuem tombamento federal pelo IPHAN desde 1938 por manterem conjuntos arquitetônicos e urbanísticos ainda bastante homogêneos, exemplares da técnica construtiva luso-brasileira colonial. Ouro Preto, capital de Minas de 1720 a 1897, com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade (UNESCO, 1980), centro universitário, é um destino turístico e cultural de maior expressão. Mariana, primeira capital, de 1709 a 1720, embora com valioso patrimônio ainda preservado, ainda não descobriu o valor econômico do turismo. E é altamente dependente da mineração. E Sabará, descaracterizada, invadida pela proximidade com Belo Horizonte, submetida a uma expansão urbana incontrolável, já não atrai tantos visitantes.

Simultaneamente, ao olharem para os seus 300 anos, as três cidades deveriam pensar no futuro. A dependência da mineração é temerária, degrada o meio ambiente e pouco remunera, até agora. É preciso providenciar atividades substitutas, na diversificação econômica compatível, na sua fixação como centros de cultura e turismo, atividades limpas, geradoras de empregos de qualidade e com futuro neste mundo globalizado. Ambas sofrem com serviços públicos deficientes, com precária mobilidade urbana, com expansões de baixa qualidade. Nas comemorações dos 300 anos, além da justa exaltação de um passado rico de fatos e episódios, o que falta é uma discussão sobre o futuro, de como construir evoluções desejáveis e garantir dias melhores. Esta, sim, seria a melhor e mais oportuna reflexão destas velhas cidades, berços da mineiridade, mas que precisam planejar para garantir dias melhores, compatíveis com sua riqueza histórica e econômica. E, sobretudo, vencerem o trágico estigma da exploração de que são vítimas há três séculos.

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