Nota da Arquidiocese sobre a eventual reabertura de atividade mineradora em área urbana de Mariana

29 de Julho de 2011
Jornal O Liberal

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*Dom Geraldo Lyrio Rocha**

Diante do debate sobre a possível retomada da mineração na área urbana de Mariana, MG, à luz da Campanha da Fraternidade deste ano, que abordou o tema FRATERNIDADE E A VIDA NO PLANETA e das exigências cristãs em relação à vida digna do ser humano, como Pastor desta Arquidiocese, sinto-me no dever de apresentar as seguintes ponderações:

  1. A concessão do direito de lavra ou mineração deve levar em conta o princípio da destinação universal dos bens, que visa a garantir a dignidade do ser humano e a promoção do bem comum.
  2. A abertura de atividade mineradora em área urbana certamente afetará a população, atingirá sua saúde, comprometerá sua qualidade de vida, causará poluição atmosférica, ameaçará as nascentes de água e provocará outras repercussões negativas ao meio-ambiente
  3. O rico acervo histórico, artístico e cultural de Mariana, patrimônio não só da Igreja, mas também de nossa Cidade, de nosso Estado e de nosso País, não pode ser ameaçado, mas deve ser cuidadosamente preservado.
  4. É preciso estudo criterioso do impacto social, econômico, ambiental e cultural da atividade mineradora, envolvendo as instâncias competentes e representativas de toda a comunidade marianense, bem como as autoridades no âmbito municipal, estadual e federal, em debate aberto, transparente e democrático.
  5. Mariana, primeira vila, primeira cidade e primeira diocese de Minas Gerais, reconhecida como Monumento Nacional, poderá ver prejudicada a indústria do turismo, que é hoje uma importante fonte de sustentação e renda para muitos de seus habitantes.

A posição da Igreja a respeito desse tema se fundamenta na correta compreensão da pessoa humana, vocacionada a ser mais, na comunhão com Deus e com os semelhantes. A Doutrina Social da Igreja ensina que o desenvolvimento só será verdadeiro se for integral, isto é, se contemplar todas as pessoas e todas as dimensões da vida humana. Por isso, não basta apenas o progresso material. Para seu adequado funcionamento, a economia precisa ser regulada também por princípios éticos.

Como a fé cristã implica compromisso social, a Igreja quer contribuir na construção de uma sociedade fraterna e solidária, fundada no amor, na verdade e na justiça, à luz do projeto de Deus para a humanidade, expresso na afirmação de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Imploro a Nossa Senhora do Carmo, Padroeira de Mariana, que interceda junto a seu Divino Filho pelo bem de nossa Cidade e pelo desenvolvimento integral deste Município. Mariana, 16 de julho de 2011

**Arcebispo Metropolitano*

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