Não basta a inclusão pelo espaço, é preciso aderir à conduta de alta cultura

31 de Agosto de 2014
Jornal O Liberal

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Os rolezinhos, já fora da mídia, foram interpretados por classistas sociais como a chegada da periferia ao espaço da “elite branca”. Não se pode discordar inteiramente da afirmação, ainda que haja carga de preconceito presente no termo elite branca, mas uma vez que, realmente, a inclusão não se dá apenas pelo consumo, mas também pela ocupação dos espaços de interação e cultura, que só ocorrem quando do mais abastado até o pária social se encontram nivelados de algum modo. Entretanto, o processo inclusivo não se dá, apenas, pela ocupação do espaço, mas também, pela adoção da mentalidade, da cultura, dos modos, da educação que formam uma manifestação sócio-cultural qualquer. Rechaçar isso é matar a cultura da qual se diz carente, como o amante ciumento que prefere dar cabo do objeto de paixão a ter que vê-lo nos braços de outrem. Estabelece-se então, uma hierarquia cultural, onde se sobressai como “elite”, no bom sentido, aquilo que se trata, efetivamente, de um longo processo evolutivo e reflexivo acerca de nossas próprias identidades e capacidades, a exploração dos limites estéticos e éticos do ser humano. Na nossa região, a degradação do processo de inclusão cultural é sintoma evidente de um mal cada vez mais aparente, como em recente sessão do Cine Vila Rica, onde houve, meramente, a ocupação do espaço, sem, de fato, se instilar a cultura. Smartphones pra todo lado, ligados, e a periferia cultural desce como se fosse a um baile funk, gritando e ocupando o cinema anarquicamente, respeito um conceito distante. Formada aí não apenas pela camada mais pobre, bestas sociais criadas pelo método freiriano, mas também por uma apática e abastada comunidade portadora de luzes cegantes, fica a pergunta: que direito tem quem foi apenas assistir um filme no fim do dia, de se entregar a algum escapismo lúdico? Se depender desses eternos adolescentes, nenhum.

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