Norma hipócrita e discriminatória

19 de Outubro de 2015
Jornal O Liberal

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De repente, usuário de coletivo intermunicipal, se viu na obrigação de se identificar ao adquirir bilhete de viagem, norma até então seguida apenas para ônibus interestaduais. Embora não tenha sido informado sobre as razões da nova exigência, o passageiro, sabedor das práticas criminosas que rondam as viagens, entendeu como medida de segurança. Embora mais frágil e confuso para conferência, o bilhete mostra quem é quem dentro do coletivo; nada de passageiro anônimo, em viagem secreta, como nos tempos em que se fugia com namorada, filha de pai encrenqueiro. Passageiro com segundas e terceiras intenções teria mais dificuldades na realização de suas ações marginais. Quanto aos demais, apenas mais um incômodo, coisa normal na vida do cidadão. Se para melhor e maior segurança de todos, o pequeno incômodo seria bem vindo. Mas o que pensa o cidadão sobre o que tem a cumprir, nem sempre é o que pensou quem planejou a nova obrigação; ou, então, o planejador pensa mal e faz bobagens, convicto de que trabalha bem e para o bem. No caso da nova obrigação do passageiro, acredita-se que sua motivação não esteja na segurança, pois ao contrário, haveria dúvida quanto à inteligência em sua origem; e isso seria a tragédia na administração pública. Para ter como motivo a segurança dos usuários dos coletivos rodoviários, a nova exigência teria que ser feita a todos os passageiros, indistintamente, mas não é isso que se faz, ficando boa parte deles isentos da identificação. Dos passageiros itinerantes (que embarcam sem passagem ao longo do percurso) não é feita a identificação. E, ressalvando-se, os do bem, os honestos, é entre os itinerantes que há maior possibilidade de ser encontrado o “rato de estrada”, que procura ficar longe das estações e terminais rodoviários, para agir sem mais temores da polícia. Portanto, crê-se haver outras razões para a identificação, entre elas a fiscalização dos passos do cidadão, onde vai, o que faz e com quem anda; mas só de quem adquire o bilhete nos guichês? Que fazem da Constituição? Diz seu “artigo 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...” E o besta do cidadão a acreditar que zelam por sua segurança!... E mais: diz-se que vivemos em uma democracia!

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