Nova morada para a espécie

10 de Março de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Do mundo científico, mais precisamente da área da Astronomia, às vésperas do carnaval, veio a notícia de que foram descobertos, pelo menos, seis planetas semelhantes à Terra em tamanho e outras características, que permitam a vida. De acordo com as informações, o conjunto planetário é parte de pequeno sistema solar, distante cerca de quarenta anos luz, logo ali na esquina, segundo padrões das distâncias cósmicas. A descoberta é surpreendente porque, em resposta à busca contínua, ao longo dos últimos anos, um ou outro planeta se mostrou com algumas características terrestres, em pontos esparsos da imensidão cósmica. Desta vez, entretanto, nada menos que seis, podendo haver um sétimo, são parecidos com o habitat humano, todos no mesmo sistema planetário cuja estrela é bem menor e mais fria que o conhecido sol.

Procurava-se um e, de repente, parece que seis ou sete são os primeiros a atender às expectativas, incluindo-se possibilidade de abrigar vida. Quanto a essa possibilidade de vida nos planetas recém-descobertos ou em quaisquer outros pontos do cosmos é questão a incomodar quem vê o universo como algo completamente desconhecido, considerando que o aprendido dele, até agora, não chega a roçar, nem de leve, em parte do todo. Apesar disso, o Homem insiste em particularidades conhecidas para afirmar se existe, ou não, vida fora da Terra; presença de água seria uma delas. Ora, o desconhecido não tem que estar afinado com o já conhecido, o que elimina a pressuposição de que vida só é possível nas condições até então conhecidas. Pode haver e a natureza prodigiosa do universo assegura vida diferente da existente, em múltiplas formas, na Terra. A constatação é apenas uma questão de tempo e de evolução da mente na avaliação da hipótese, por enquanto, fora de foco!

Por milhares de anos, desde que a espécie humana se entendeu como inteligente o bastante para “fuçar” o desconhecido, a Terra foi considerada o centro do universo e gente morreu na fogueira por ousar discordar da teoria. Por consequência daquela teoria, a espécie humana era a única inteligente e, portanto, dominante. A situação perdura, pois ainda não se defrontou com uma superior, mas aquela fase de rainha da cocada preta a espécie humana começa a superar, ao imaginar e admitir, por exemplo, civilização diferente em outro planeta que não a Terra. Observe-se que, na concepção humana, a espécie dominante lá fora, em outro planeta, seria um arremedo da forma humana: homúnculos ou monstrinhos a sugerir inferioridade!

Contudo, o fato de imaginar tal civilização, que não precisa ser mais evoluída, já denota visão mais ampla e aberta, em comparação com a de cinquenta, sessenta anos atrás, mas, suponha-se a humanidade diante de outra espécie, assim como a formiga diante da espécie humana, na mesma ordem. Nem dá para avaliar o que isso causaria ao ego humano, dominado pela arrogância, pela ânsia de poder e presunção de superioridade! Todas as diferenças tratadas por meio da violência, desde o tapa na cara até a hecatombe nuclear, passariam a ser coisa de nada. O vazio do desconhecido entre as duas espécies agora, frente a frente, seria o problema em comum e sem solução pela humanidade, para a qual todo o poder, a envolver inteligência, capacidade de domínio político, sedução, engodo e força, seria inútil. Restaria somente a esperança, apoiada na pressuposição, de que a evolução se processa sempre no rumo da construção do bem.

Ao público leigo e desinformado, a recente descoberta pouco pode interessar ou, quando muito, dar-lhe a falsa noção de que o objetivo dos cientistas, nessas pesquisas, seja mesmo o encontro de seres extraterrestres e o estabelecimento de contato. Isso pode acontecer e, certamente, acontecerá, porém como fato secundário, decorrente de estudos mais profundos com relação ao futuro da humanidade. Irmanados numa espécie de pacto de silêncio, os pesquisadores não falam sobre o objetivo final, mas é só ler nas entrelinhas das declarações, das matérias específicas, para entender o que não dizem explicitamente. Quando buscam “água líquida”, “atmosfera adequada”, “planeta rochoso”, “temperatura similar à da Terra”, não visam, necessariamente, encontrar vida, mas onde vida já conhecida possa ali se estabelecer. Chegará o dia em que, por uma razão ou outra, a espécie humana terá que deixar a Terra e, assim sendo, há que encontrar o novo destino e preparar a mudança dos escolhidos para tal missão. Este, sim, deve ser o verdadeiro objetivo das pesquisas e razão para tanta euforia em torno da descoberta. A superpopulação já ameaça o equilíbrio ambiental no planeta. É só uma questão de algumas centenas de anos, para que a espécie humana comece a deixar a Terra. Quantos e quais indivíduos levarão a semente da espécie a alhures é decisão difícil, que caberá aos nossos descendentes!

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