O Ceará é aqui

02 de Fevereiro de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Não se sabe se, em épocas remotas, a Região Sudeste passou por situação semelhante à atual com relação aos índices de ocorrência de chuvas, extremamente baixos, notadamente de um ano para cá, mas o fenômeno é assustador e sugere que providências se tomem, de ora em diante, para evitar o pior. É possível que já tenha ocorrido, porém quase sem sequelas para a população, então bastante reduzida e com comportamento diverso do da atualidade, quando são outras as necessidades a pressionar por consumo hídrico cada vez maior. Não creio que a causa esteja ligada, unicamente, à questão ambiental, ou seja, à malversação no uso dos recursos naturais, como mineração, desmatamento, poluição atmosférica, poluição dos cursos de água, etc. Atividades econômicas irresponsáveis e mau comportamento em relação à natureza, se não causa primeira, constituem agravante a possível variação climática planetária.

Independente de ser ou não ser fenômeno cíclico planetário, mentes responsáveis chegam à conclusão de que o ser humano precisa repensar sua relação com a natureza, amoldando-se às suas condições, tratando interesses próprios em harmonia com as manifestações naturais, deixando de lado qualquer propósito de agredi-la. O Homem (no sentido de humanidade) deve aprender que é parte da natureza e, quando em relação de conflito com ela, cria impulsos para reação, que pode ser mais danosa que o motivo do conflito.

Essa relação da espécie humana, assim como a de todas as espécies na face da Terra, é a mesma existente entre os micro-organismos e seu habitat, o corpo humano. Embora para a grande maioria isso possa ser algo chocante e, para outro tanto, possa ser inaceitável, o fato é que bilhões de seres microscópicos, incluindo-se as temíveis bactérias, habitam o corpo de cada indivíduo, não importando se pobre, feio, maltratado, ou rico, belo e sarado. O fato é que somos “pastos”, onde se “engordam” outras espécies, o que bastaria para que baixássemos o topete quando em momentos de suprema soberba subvalorizamos nosso semelhante.

Entre tais diminutos seres e o organismo existe uma relação harmoniosa, enquanto habitam cada parte do corpo, segundo sua natureza, função e em obediência ao equilíbrio estabelecido. Rompidos, pelos diminutos seres, os limites que se querem respeitados para o bem de ambas as partes, o organismo, como um todo, reage em defesa própria; se não reage com imposição de controle é a doença que se instala, ocasionando então a intervenção externa (tratamento médico) para recolocar os micro-organismos em seu devido lugar.

Se não variação climática planetária, a espécie humana pode ter rompido o equilíbrio e a natureza reage, na tentativa de restabelecê-lo; daí Minas Gerais, a chamada caixa d’água do Brasil estar praticamente seca, em plena estação chuvosa. Entre vivos, creio não haver quem tenha vivido antes, nesta região, cerca de quarenta dias sem chuvas, sol a pino, entre dezembro e janeiro. Da advertência feita por quantos se sentem responsáveis, porém não correspondida por quantos têm ouvidos, passamos todos a sofrer apelo direto da própria natureza, muito antes do que se imaginava. Ao contrário de outras ocasiões em que se diz “a gota d’água que faltava”, neste caso é a última gota d’água deixada a vazar!

De ora em diante, tomemos juízo na relação com os recursos hídricos que, em primeiro lugar servem aos propósitos de saúde do planeta, nosso hospedeiro, para, em seguida, servir aos propósitos de vida dos “parasitas”, que somos todos na escala universal. Ao “não” com relação ao desperdício, no sentido de poupar, que se somem providências para melhor aproveitamento do que nos é dado pelas chuvas, saindo da improvisação doméstica ditada por emergências, para o planejamento, tanto na área profissional quanto nos serviços públicos. É chegada a vez de arquitetos e urbanistas criarem soluções na captação e reserva das águas da chuva, para aplicação em residências, especialmente nos condomínios, em paralelo com destinação apropriada para as águas de enxurrada, que tantos prejuízos causam em sua ação descontrolada e devastadora. Ao mesmo tempo, o lixo precisa ser controlado, melhor destinado e impedido, definitivamente, que se acumule em áreas públicas, sabendo-se ser ele a causa principal da retenção das enxurradas. E que se reflorestem espaços desmatados, notadamente, junto às àguas.

Mas toda a questão ainda esbarra na falta de uma educação de qualidade, sem a qual soluções técnicas não encontram resposta positiva por parte da população. Em outras partes do mundo, isso se resolveu, em parte, pelo grau de educação da população e, outra parte, pela dramática experiência de guerras. Não tendo a requerida educação e nem sofrido guerra em seu território, o Brasil continua a tatear no escuro, mas se a necessidade faz sapo pular... espera-se que o buraco não seja muito fundo!

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook